De Gaulle and Europe | por Éric ANCEAU | in DIGITAL ENCYCLOPEDIA OF EUROPEAN HISTORY

General de Gaulle understood Europe as a key geographical and historical construct. From the Second World War until he left power in 1969, he wanted European states to join together and cooperate closely, because he saw this is a means of increasing their power, particularly that of France. However, he was hostile to any loss of sovereignty, seeing it as a possibly prelude to subjugation by the United States.

A man of culture, Charles de Gaulle understood Europe as the product of geography and history, transcending the artificial and ephemeral divisions inherited from wars. As such, he argued that Europe stretched from Gibraltar to the Urals, an assertion that he repeated many times throughout his life. As such, he refused, after 1945, to accept the Iron Curtain as definitive and to consider Europe as one and the same as “the West,” i.e. as the ally of the United States in the Cold War and the enemy of the Eastern Bloc. Yet for all that, he did not seek to please the USSR, which his famous phrase amputated of the three quarters of its territory beyond the Urals. In fact, he always preferred to speak of “Russia” rather than the USSR because, to his mind, regimes come and go whereas nations endure. His Europe, defined in these broad terms, was destined to play a pre-eminent role in the world. In his famous speech at the University of Strasbourg on 22 November 1959 he declared “Yes, it is Europe, from the Atlantic to the Urals, it is Europe, all of Europe, which will decide the fate of the world!” He viewed historical and geographical Europe as a means of combining and increasing the power of the states of the continent, states which he saw as Europe’s unalterable horizon.

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A saga de Lorena numa hábil narrativa | Adelto Gonçalves | por Helio Brasil

                                     I

A História do Brasil teria que ser contada por um coral de historiadores, apoiados em narrativas de cronistas, aventureiros, viajantes constrangidos ou deslumbrados. Uma inicial e lógica exploração feita a partir da costa, seguida de penosas internações. Todas milagrosamente rápidas, tendo em vista os recursos da época, pois falamos de um passado de meio milhar de anos. Registros, documentos, cartas, mapas (de incrível rigor, em face dos recursos da época), bem como a ansiosa busca de riquezas para uma Europa que experimentara a incubação medieval e a explosão do Renascimento.

Não à toa, Espanha e Portugal, dois países debruçados sobre o mar, como se espichando um pescoço geográfico para o Hemisfério Sul ali dominado pelo Atlântico, lançaram-se à cata de riquezas. A terra lusitana, restrito território, pobre de recursos naturais, mais do que todos, levou a conquista a sério.

Nenhuma colonização é angelical. Antes é fria, cruel e espoliadora. Assim, dizer que o Brasil teria se tornado um país melhor se ficasse com espanhóis, com ingleses, franceses ou (que deslumbramento!) dourados holandeses, nos parece uma conjectura ingênua. Historicamente (ou fatalmente) ficamos com Portugal. E será sobre essa nação e seu povo – tão péssimo como os mais péssimos, tão notável quanto os mais notáveis – que devemos falar.

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A PREPARAR AS NOSSAS CABECINHAS PARA A GUERRA NUCLEAR | Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 01/07/2022

1. Reunido em mangas de camisa num castelo alemão, o G7 actualizou as sanções à Rússia e as novas verdades sobre a guerra. De facto, foi o G7+1, pois, como sempre, Zelensky esteve presente por vídeo para pedir mais e mais sofisticadas armas, a tempo de poder decidir a guerra antes do Inverno.

Ficou-se a saber que, só dos americanos, ele recebe todos os meses armamento no valor de 7,5 mil milhões de dólares — um festim para as Lockheed Martin dos Estados Unidos. No final e sobre um horizonte de ruínas, alguém há-de ter de pagar isto e suponho que não sejam só os contribuintes americanos, mas todos os da NATO.

2. Na sua intervenção, Zelensky informou os outros de que na véspera os russos tinham atacado com mísseis um centro comercial onde se encontravam mil civis: dez tinham morrido nesse dia, 18 até hoje. Os russos argumentaram que não tinham atacado nenhum centro comercial mas sim um depósito de armas que ficava ao lado e que, ao incendiar-se, atingira com destroços o centro comercial. Como é óbvio, essa versão foi imediatamente descartada, em favor do “crime de guerra”.

3. Ao mesmo tempo que acrescentava o ouro à lista de bens russos cuja exportação passa a ficar proibida, o G7 insurgiu-se contra “o roubo e impedimento das exportações de cereais” ucranianos por parte da Rússia.

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O SNS não se salva com ilusões | por Francisco Louçã | in Expresso

Quem defende o SNS já não pode escapar ao dilema entre ignorar o colapso e recusar a continuidade da ilusão sobre a estratégia presente, pois a evidência demonstra que o governo não enfrentará o problema. É preciso virar a agulha. Apresentar o atual SNS como o modelo da virtude democrática custa a derrota, pois a realidade do desespero dos profissionais, da desorganização das unidades e dos tormentos dos utentes em centros de saúde ou em urgências impõe-se sem mais argumentos e cada ano será pior, com a aposentação de mais especialistas. Graças a estes fracassos programados, os privatizadores têm a estrada aberta e, apesar de alguns floreados alucinados (descobriram a “sovietização” do SNS, seguindo o guião ideológico da associação de médicos dos EUA, que no século passado conseguiu, na vaga da Guerra Fria, impedir que fosse instalado um serviço público de saúde no seu país), insistem na proposta mais simples: deem dinheiro aos nossos amigos que eles tratam de mais utentes do SNS.

 Nesse caminho, a estratégia de desmantelamento do setor público tem-se imposto. Os investimentos são adiados, os concursos ficam parcialmente vazios, os tarefeiros recebem três a cinco vezes mais do que os seus ex-colegas numa urgência, os serviços navegam na imprevisibilidade. Na incerteza, os seguros cresceram e são um florescente ativo financeiro, que promete lucros confortáveis, graças ao controlo dos preços. A consequência é uma saúde mais cara para as pessoas: dois grupos privados já realizam a maioria dos partos na Grande Lisboa, naturalmente promovendo a cesariana como método preferencial, o que salga as contas finais; durante a fase aguda da pandemia, os hospitais privados ofereceram a sua disponibilidade por 13 mil euros e, se fosse caso grave, o doente era recambiado para o público; e as PPP, que transformaram em arte a regra do afastamento dos doentes mais caros, são elogiadas como se essa manigância fosse boa gestão. Apesar destes resultados, está montado o cenário da atrevida proposta dos grupos privados e dos seus liberais: aguentem o custo dos hospitais públicos desde que nos paguem mais, queremos os vossos impostos.

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