Mon Regard | Le Gardeur de Troupeaux (Alberto Caeiro/Fernando Pessoa)

Mon Regard | Le Gardeur de Troupeaux

Tout ce que je vois est net comme un tournesol.
J’ai l’habitude d’aller le long des routes
Tout en regardant à droite et à gauche,
Et de temps en temps derrière moi…
Or ce que je vois à chaque instant
Est cela même qu’auparavant jamais je n’avais vu,
Et je sais fort bien m’en rendre compte…
Je sais maintenir en moi l’étonnement
Que connaîtrait un nourrisson si, à sa naissance,
Il remarquait qu’il est bel et bien né…
Je me sens nouveau-né à chaque instant
Dans la sereine nouveauté du monde…

Je crois au monde comme à une marguerite,
parce que je le vois. Mais je ne pense pas à lui
Parce que penser, c’est ne pas comprendre…
Le monde ne s’est pas fait pour que nous pensions à lui
(Penser, c’est être dérangé des yeux)
Mais pour que nous le regardions et en tombions d’accord…
Moi je n’ai pas de philosophie : j’ai des sens…
Si je parle de la Nature ce n’est pas que je sache ce qu’elle est,
Mais c’est que je l’aime, et je l’aime pour cela même,
Parce que lorsqu’on aime, on ne sait jamais ce qu’on aime
Pas plus que pourquoi on aime, ou ce que c’est qu’aimer…

Aimer est la première innocence,
Et toute innocence ne pas penser…

(Alberto Caeiro/Fernando Pessoa)

Quando Eu não te Tinha | Alberto Caeiro, in ‘O Pastor Amoroso’

Quando Eu não te Tinha

Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima …
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor —
Tu não me tiraste a Natureza …
Tu mudaste a Natureza …
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou. 

Só me arrependo de outrora te não ter amado.

Alberto Caeiro, in ‘O Pastor Amoroso’.

Há metafísica bastante em não pensar em nada | Alberto Caeiro | Heterónimo de Fernando Pessoa

Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Continuar a ler

Penser à Dieu c’est désobéir à Dieu | Alberto Caeiro/Fernando Pessoa

Penser à Dieu c’est désobéir à Dieu

car Dieu a voulu que nous ne le connaissions pas,

aussi à nous ne s’est-il pas montré…

 

Soyons simples et calmes

comme les ruisseaux et les arbres,

et Dieu nous aimera , nous rendant

beaux comme les arbres et les ruisseaux,

et il nos donnera la verdeur de son printemps

et un fleuve où nous jeter lorsque viendra la fin !…