Num Café

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Sento num Café. Sozinho. Preciso pensar. Peço um com-leite. A garçonete é competente. Rápido me traz o que pedi. Divago. A vida está quieta. Um anúncio esotérico sem telefone de contato. Um jornal velho sem data de impressão.
Algum tempo se passa sem que eu toque no café. Ouço os burburinhos. Há um casal à minha direita. Também não toca no café. Ele gesticula tímido, agasalha a mão dela, dizendo palavras que não posso decifrar. Tem o olhar angustiado. Ela está triste; sombria. Nota-se que ele deseja esperançá-la com novos argumentos. Ela se incomoda; meneia a cabeça; se irrita. Crê que não a entende; que não a escuta. Ele a vê. Sabe que é inútil prosseguir. É agora uma boca sem rosto no meio de um Café.
Olha para ela: o olhar em funda agonia. De repente deixa que seus lábios coroem a sua mão. Infinitamente. A ternura lhe invade o olhar. Vê-se que a ama. Diz: “Tudo ficará bem”. Ela então o olha pela primeira vez. Dá em paga da ternura outra ternura. Depois, dorme o rosto em sua mão. Não há mais nada a dizer. Mais nada a pedir. Só o meu café permanece intacto.

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