A Estrada dos Silêncios, de Carlos Vale Ferraz

A Estrada dos SilênciosA jovem juíza Joana Secalha fora colocada na pacata comarca de Abrantes para se redimir de um passado pouco recomendável. Não podia cometer erros e deslocou-se, ao Monte Cimeiro, para ouvir as razões pelas quais o velho Francisco Afonso não aceitara a ordem de expropriação dos terrenos, por onde passaria a moderna estrada europeia e os benefícios do progresso. Francisco Afonso respondeu-lhe com a sabedoria dos velhos: «A ideia de que o progresso é bom assenta no mesmo erro de que Deus nos salva com milagres. Milagre e progresso seriam evitar o mal!» Ela falou do futuro. Ele do passado: «O futuro é para a senhora doutora, para os engenheiros, para os generais à frente das tropas, para os missionários, para os inconscientes que se lançaram ao mar! Eu sou aquele que ficou nas praias, resmungando.»

Francisco Afonso contou à juíza o segredo do passado das suas famílias, há duzentos anos debaixo das terras por onde passaria a estrada que o exporia e cujo avanço ela teria de decidir…

O Meu Mundo Não é Deste Reino, João de Melo

O Meu Mundo Não é Deste ReinoEsta narrativa de João de Melo é uma crónica dos prodígios que fazem a história de uma comunidade rural perdida algures nos Açores. Narrativa mítica, sem cronologia, que começa in illo tempore e prossegue seguindo o fio das ocorrências fantásticas (a chuva dos noventa e nove dias, o dia em que os animais choraram, o dia em que se viu a outra face do Sol, a morte e ressurreição de João-Lázaro) e das vidas de personagens excessivos e arquetípicos (um padre venal, um regedor hercúleo e despótico, um curandeiro e um santo) que povoam um lugar perdido nas brumas do tempo, no outro lado da ilha, progressivamente devolvido à comunicação com o mundo.

8.ª Edição – Reescrita pelo Autor

O Caçador do Verão, de Hugo Gonçalves

O Caçador do VerãoQuando José é convocado pelo velho patriarca da família, com quem não fala há anos, a sua perplexidade é enorme e, por isso, inescapável a recordação do verão de 1982, em que o avô o foi buscar a uma aldeia algarvia onde a mãe o deixara com uma estranha, decidido a tornar-se o pai que ele nunca tivera. Foi nesse verão que a perigosa quadrilha de Mancha Negra fugiu da cadeia, provocando uma caça ao homem sem precedentes que deixou o País em sobressalto; que José mergulhou da rocha mais alta e que foi atingido por um raio, julgando assim ganhar os superpoderes necessários para descobrir o paradeiro dos bandidos e resolver o mistério do desaparecimento da mãe; e que, na companhia de um rafeiro chamado Rocky e de três amigos extraordinários, viu nascer dentro de si uma força e uma ferida que, mais tarde, o levariam a tentar corrigir os males do mundo pelas próprias mãos.

Um romance fascinante sobre a importância da família e da infância nas nossas vidas, que recupera um tempo em que Portugal se aproximava velozmente da Europa, com tudo o que isso tinha de grato e fatídico.

Só Se Morre Uma Vez – Diário 2, Rita Ferro

Só Se Morre Uma Vez - Diário 2Que pensa uma mulher de sessenta anos enquanto os homens se matam uns aos outros? Que a preocupa além da crise e das guerras? Que utilidade lhe encontram, quanto vale para certas pessoas? Que amores ainda a podem surpreender? Que esperanças, que forças lhe restarão antes de se render à idade?

Numa época em que a beleza e a juventude se apresentam como divindades e o dinheiro se revela – dir-se-ia – como a única religião verdadeiramente ecuménica do Mundo, é com a singularidade do indivíduo à margem destes padrões que a grande humanidade se identifica. Talvez por isso, Rita Ferro teime em deixar o testemunho do seu tempo, lugar e circunstância, partilhando com os leitores o seu Diário 2, interlocutor das suas memórias, perplexidades e reflexões na passagem para os sessenta.