RECORDANDO UM DOCUMENTO HISTÓRICO | AMÂNDIO MEIRA | Na foto Luís Atayde Banazol

No mês dos CRAVOS e quase prestes a chegar ao 44º Aniversário da data libertadora do 25 de ABRIL de 1974, não podia deixar de cá vir recordar – através de um “Documento Histórico” de 24 de Novembro de 1973 – um grande HOMEM, um grande PORTUGUÊS e um bravo e corajoso MILITAR (com quem tive o prazer de privar, nomeadamente quando me deslocava à sede do meu Batalhão em MACALOGE – Niassa Ocidental – norte de MOÇAMBIQUE) que muito me marcou para toda a vida, nomeadamente durante a minha permanência naquelas enigmáticas e misteriosas terras africanas!…
Curvando-me respeitosamente perante a sua memória,

AMÂNDIO MEIRA
(ex-Alferes Miliciano de Infantaria da C. CAÇ. 2669 – B. CAÇ. 2908)
ANTAS, 18/04/2018

RECORDANDO UM DOCUMENTO HISTÓRICO 
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[Ao “postar” aqui este DOCUMENTO, é mister que faça a minha “declaração de interesses”: Este senhor Ten.Coronel LUÍS ATAYDE BANAZOL – (PAI), foi “meu” 2º Comandante de Batalhão (B. CAÇ.2908) na Guerra Colonial em MOÇAMBIQUE, logo no início dos anos setenta. Era um bravo, decidido, corajoso, justo, responsável e destemido MILITAR, de fino trato, sempre afável e extremamente humano com os “seus homens” que, graças a todas estas suas inegáveis qualidades, tinham por ele a maior consideração, admiração e estima.]
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INTERVENÇÃO do Ten.Coronel Luís Atayde Banazol na reunião de S. Pedro de Estoril em 24/11/1973:

[Refira-se que esta firme, desembaraçada, decidida, corajosa e influente intervenção perante umas largas dezenas de camaradas seus, foi determinante para o despoletar do 25 de Abril de 1974.]
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«Meus caros camaradas, eu creio que vocês estão a perder o que têm de bom: energia e tempo, organização e vontade.
Estão a esgotar-se com um assunto que não vale a pena. Decididamente, não vale a pena.
O problema que vocês julgam que está no âmago disto tudo não vale um pataco e vai contra os nossos camaradas milicianos.
Eles também têm as suas razões, e não será pelo facto de vocês conseguirem levar a melhor, que tudo ficará resolvido. Pelo contrário, cada dia que passa, tudo se agrava.
E isso não é por uma questão de galões. O que vocês estão e todos nós, é agonizantes; simplesmente agonizantes.
Estrangulados por um regime que nos conduz directamente para o abismo, para a derrocada, aliás como o têm feito todos os regimes fascistas, nomeadamente os de Hitler e de Mussolini.
Todo o mundo olha para nós, oficiais do quadro permanente, como verdadeiros agentes do nazismo. Agentes das S.S.
E não podemos de forma alguma evitar essa execranda imagem, se não tomarmos a iniciativa de uma reabilitação, uma redenção aos olhos do nosso povo e dos outros povos do mundo, utilizando a nossa força para derrubar o governo.
Tenho ouvido falar, insistentemente, no abalado prestígio dos oficiais. Pois que esperam vocês daqueles, cujos filhos, irmãos, e noivos são enquadrados por nós, para as guerras de África, donde poderão regressar mutilados, loucos ou mortos?
Que crimes estamos todos a cometer em nome da Voz do Dono.
É preciso que acordemos do pesadelo; é preciso acabarmos de vez com a maldita guerra colonial, que nos consome tudo, incluindo a própria dignidade de militares profissionais de uma país civilizado.
Todas as nossas angústias, ansiedades e neuroses, se situam na tragédia para que fomos e estamos a ser lançados, por um tenebroso conluio, que tem a hipocrisia por fachada e o assassínio por norma.
E nós, que representamos a força das armas, por que esperamos?
E nós, que vemos todos os dias esses exemplos de coragem dos moços universitários?
Desarmados, enfrentam a polícia de choque, e não deixam amortecer um só dia a luta pela Liberdade.
E nós, homens de armas?
É uma vergonha. Devemo-nos sentir envergonhados. É bem feito que nos humilhem e nos olhem com rancor. Somos a armadura da bestialidade e o bastião da brutalidade.
Não tenhamos ilusões: o governo só sai a tiro e os únicos capazes de o fazer sair somos nós; mais ninguém.
Se não o fizermos, a História nos julgará, como julgou os abencerragens de Hitler e com inteira razão.
Não devemos consentir que isso aconteça e que os vossos filhos e os meus netos se tenham de envergonhar de nós.
Impõe-se a Revolução Armada desde já, seja qual for o seu preço e as suas consequências.»

Luis Atayde Banazol – Tenente Coronel em 24 Novembro de 1973.

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Matos Gomes

The Sower, Vincent van Gogh (1888)

‘[…] having been brought up [in the countryside], snatches of memories from past times, yearnings for that infinite of which the Sower, the sheaf, are the symbols, still enchant me as before’, wrote Vincent in 1888. This is the heart of Van Gogh’s philosophy of life: nature is what links religion and people. In the cycle of sowing, reaping and harvesting, Vincent saw parallels with life and death.

The Sower, Vincent van Gogh (1888)

Ensina-me a Voar sobre os Telhados | João Tordo

SINOPSE

1917. Por desonrar o nome da família, o jovem Katsuro é exilado pelo seu próprio pai, um poderoso governador, num ilhéu inóspito. Abandonado, o rapaz irá deparar-se, pela primeira vez, com o terrível segredo da família Tsukuda, enquanto luta para sobreviver à fome, à sede e à culpa.

Lisboa, cem anos depois. No Liceu Camões, um dos mais antigos da cidade, um professor de Geografia suicida-se numa sala de aula. O nosso narrador, funcionário do liceu e alcoólico em recuperação, decide inaugurar uma reunião semanal para ajudar os colegas a superar o choque. Numa noite de Inverno, um misterioso desconhecido aparece no encontro. É japonês e chama-se Tsukuda. O seu estranho comportamento desperta no narrador um fascínio doentio. Ambos são perseguidos pelo passado, ambos desejam o impossível.

Algures entre o sonho e a mais pura realidade, Ensina-me a voar sobre os telhados é um lugar onde um pai e um filho aprendem a amar-se,é um espaço onde se procura aceitar dores antigas e abraçar a fragilidade humana. Um romance que é uma elegia à beleza imperfeita da vida.

O mundo teve um sonho … | Paulo Fonseca, 04 Abril 2018

Faz hoje 50 anos que o mundo teve um sonho….
e faz hoje 50 anos que morreu a inspiração desse sonho….
e faz hoje,
(todos os dias faz…..)
faz hoje anos 
que morreu Martin Luther King,
Cinquenta anos
tão curtos
que não chegaram pr’a sonhar….
apesar de mil sonhos
que pudemos trautear.
Cinquenta anos de sonhos
que não pudemos sonhar….
Cinquenta anos de sonhos
que é preciso semear….
Se fosse vivo,
Luther King
teria uma campanha jornalística
a descobrir
e publicar
que ressonava,
ou fungava,
ou chorava,
ou mijava….
Certamente seria menos
que o infinito
que Foi….
Se fosse vivo….
certamente descobririam
que foi preto,
que seria religioso,
que seria defeituoso,
que teria ligações,
que viveria aos encontrões….
Como está vivo,
disfarçado de morto,
Luther King
foge aos holofotes
e deixa-os aos pinotes
de saudade….
de puberdade
nos valores….
Há pessoas
que têm o condão de abanar….
de acender o avançar….
de olhar nos olhos do mundo,
num clamor,
e fecundar….
o Amor….

Paulo Fonseca

Retirado do Facebook | Mural de Paulo Fonseca

Tambores de ódio | Francisco Louçã

Afinal, Trump é um senhor. É o nosso chefe supremo, o bombardeador-mor, o homem firme ao comando do leme. Qual instável, é uma rocha. Qual irrefletido, é um sábio. Qual desinformado, é um profeta. Tem as qualidades da decisão e da “oportunidade”, como assinala ponderadamente o nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros. Os dirigentes europeus põem-se em fila para o beija mão. A Síria está pacificada e tal era o enlevo de alguns meios de comunicação que se apressaram a noticiar as manifestações em Damasco contra o bombardeamento como se fosse a multidão a sair à rua para saudar os Tomahawks purificadores. A populaça da França e do Reino Unido, que tinha mais em que pensar, dorme tranquila. Tudo resumido, esta lição não tem novidade, não há milagre que não possa ser assegurado por uma boa carga de bombas.

A glorificação de Trump é só um episódio, talvez nem o mais importante, da cruzada de realinhamento ideológico que é sempre o prenúncio de uma estratégia de tensão e de escalada de conflitos. Sugiro ao leitor e à leitora que observe esta cruzada, a que ergue a Segunda Guerra Fria, pois ela é mais determinante do que os pretextos que a alimentam, que valem tanto como as alarmantes armas de destruição massiva que Saddam escondia no Iraque. E essa Guerra não começou no sábado, com as bombas sobre a Síria, nem vai parar por aqui.

A Segunda Guerra Fria tem um laboratório e não é no Médio Oriente, onde as leituras são sempre geoestratégicas. O seu primeiro ensaio recente foi no Brasil, onde tudo é mais terra a terra e não se pode invocar um poder oriental oculto como inimigo. Aí, a máquina de conformação montada em torno do golpe e da naturalização do regime de exceção judiciária foi de gabarito e, não por acaso, foi a primeira que chegou até nós, neste cantinho à beira-mar plantado.

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