33) – C19 Upshot | A anarquia pós-COVID que se avizinha | Dominic Cummings: as pessoas poderosas têm maior probabilidade de violar as regras – mesmo as feitas por elas | Paulo Querido

28 mai 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque, Nuno Andrade Ferreira, JL Andrade.

🦄 A anarquia pós-COVID que se avizinha

Apesar dos melhores esforços dos guerreiros ideológicos em Pequim e Washington, a verdade incómoda é que a China e os Estados Unidos são ambos susceptíveis de sair desta crise significativamente diminuídas. Nem uma nova Pax Sinica nem uma Pax Americana renovada se erguerão das ruínas.

Pelo contrário, ambas as potências ficarão enfraquecidas, tanto a nível interno como externo. E o resultado será uma lenta mas constante deriva em direção à anarquia internacional através de tudo, desde a segurança internacional ao comércio até à gestão de pandemias. Sem ninguém a dirigir o tráfego, várias formas de nacionalismo desenfreado estão a tomar o lugar da ordem e da cooperação. A natureza caótica das respostas nacionais e globais à pandemia constitui, assim, um aviso para o que poderá vir numa escala ainda mais vasta.

[Kevin Rudd – Foreign Affairs]

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28 de maio de 1926 | Carlos Esperança

Há 94 anos teve lugar o golpe de Estado de que viriam a apropriar-se as pessoas erradas para a mais longa ditadura europeia.

O integralismo lusitano, o nacional-sindicalismo e a Cruzada Nun’Álvares tinham feito o caminho para que o nacional-catolicismo se transformasse no fascismo paroquial de Salazar, um professor da Universidade de Coimbra, sem mundo e sem visão de futuro.

Salazar foi o protagonista da longa ditadura que adiou Portugal. Ficou “orgulhosamente só” a liderar o país onde o analfabetismo, a mortalidade infantil, a tuberculose e a fome foram a imagem do regime, para acabar na tragédia da guerra colonial.

Salazar saiu da aldeia do Vimioso para o seminário de Viseu e, daí, para a Universidade de Coimbra onde dirigiu a madraça do CADC que havia de fornecer-lhe os quadros para a repressão que o manteve no poder. Não recebeu a tonsura no seminário, mas fez do País uma sacristia.

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27.5.20 | Querem mesmo um ensino sem aulas presenciais? | Francisco Louçã | in blog Entre as Brumas da Memória

«Confesso que fiquei surpreendido quando ouvi um dirigente sindical criticar a abertura das aulas para o 11º e 12º anos. O que começou por dizer pareceu-me convincente: é preciso garantir a segurança de alunos, professores e funcionários. Mas depois acrescentou, se bem registei, que preferia que se mantivessem as aulas à distância. Eu não prefiro. Por isso é que gostaria de ter ouvido algo mais, que temos que nos mexer para ter as condições para voltar à vida das escolas. O mais depressa possível. Sem aulas presenciais não há ensino.
É provável que sem aulas presenciais também deixe de haver professores. De facto, manda a prudência que se tenha em conta que, se o sistema de ensino for só uma telescola, alguém um dia imaginará que basta um vídeo das aulas de cada cadeira e que se pode repeti-lo ad infinitum. Umas dezenas de figurantes contratados para apresentarem um texto e um powerpoint e está dado o curso. Ponham-lhe o bastão na mão e já verão como é o vilão, saltar da telescola para a youtubescola será um ápice. Este risco profissional pode ser grave, mas ainda assim não é a única ameaça. Até sugiro aos leitores, sentindo o ceticismo de alguns que leram as últimas linhas, que esqueçam por completo esta questão. O que não se pode ignorar, em contrapartida, é que o encanto das novas tecnologias não substitui a relação entre os docentes e os alunos, a atenção ao detalhe, a aprendizagem viva, a insistência e a resposta imediata, as dúvidas durante e no fim da aula, a conversa nos intervalos, as atividades extracurriculares, a forma como os estudantes se envolvem com a escola.

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