DESABAFOS | Tiago Salazar

A montra das redes sociais permite à grande mole, que não tem acesso à escrita e vox pública (jornais, revistas, livros…), a divulgação das suas dores, revoltas, triunfos, egos, alergias e alegrias. Escrever é uma forma de terapia como dar peidos ao vento, dançar ou dar murros e pontapés num saco ou colchão. Não requer nenhuma espécie de dom ou vocação. Quem relê o que escreve (sem plágio, imitação ou recurso ao pensamento alheio), mesmo de forma atabalhoada, deve rever-se.

É aqui que está a honestidade intelectual. O facto de ter livros publicados e de me conotarem com um escritor (amador), só me obriga a uma maior responsabilidade. Parto do princípio de que vou ser lido com mais atenção (ou maior exigência). A escrita sai como me chegam os pensamentos (e as emoções que nascem dos pensamentos ou os antecedem). Para vir aqui partilhar escritos como este tenho um fundamento: uma vontade de mobilizar o(s) leitor(es) a reler, a guardar, a partilhar, a debater o tema de fundo. Para hoje, o tema de fundo é a mania dos portugueses de viverem acima das possibilidades.

Que raio de gente somos, que gastamos dinheiro em restaurantes (tascas incluídas), que bebemos vinho a copo, que fumamos charutos, que no lugar de usarmos o passe compramos um carro descapotável, que nos damos ao luxo de comprar um livro para oferecer a quem amamos mesmo sabendo que o autor só lucrará dez por cento do PVP. Sim, sabeis, foi um banqueiro labrego que o disse, e aqui estou eu, no meu recanto ensolarado, a exercer o meu protesto veemente e sarcástico. Estas atoardas são muito mais complexas do que parecem. E levam, por exemplo, a reflectir como exterminar o grande capital.

Os comunistas russos ensaiaram, há mais de um século, uma revolução que apenas teve como sucesso o facto de se plantar uma ideologia mundial que ao menos faz por nivelar a igualdade de oportunidades. Quem se bate neste país por derrubar estes labregos enfastiados, estes barões assinalados, é o PCP, aquele partido que tem uma minoria de simpatizantes e militantes e que mais leva porrada com a foice e o martelo do erro histórico, a conotação ao livro negro.

Se houve conquistas para que ao menos o passe, os livros escolares, as creches, o básico, seja acessível à maioria (que aufere salários 100 x inferiores a estes labregos com cara de fuinhas), foi o PC. Não sei as vossas inclinações políticas, nem estou a dizer-vos que o PC é quem deve governar, mas ao menos que neste pequeno espaço social de protesto acorde em vós o mesmo ímpeto de malhar em ferro quente ou, de preferência, de polvilhar os ares com frases garridas.

E, se possível, despertar para o que se avizinha.

Tiago Salazar

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