Vinte por dois e meio | Daniel de Sá

Porto da Maia

Porto da Maia

“Ei, peixe fresco! Ei, chicharro grado!” “Ó Meia-Leca, a como é o chicharro?” – Perguntou o senhor da janela do primeiro andar. “A vinte por dois e meio.” “Não tens vergonha de só dar vinte chicharros por dois escudos e meio? Ainda ontem o Caramujo vendeu a trinta.” “Se o senhor quer os chicharros, é vinte por dois e meio, e acabou-se.” “Dás vinte e cinco?” “Não, senhor. Vinte. Nem mais um.” O senhor mandou a empregada ir buscar os chicharros. Ela pegou num prato fundo e foi. Depois o senhor atirou só duas moedas de um escudo para o meio da rua. O Meia-Leca baixou-se para pôr os cestos às costas novamente. Nem olhou para o dinheiro caído no chão. “Estás muito rico, que duas patacas já não te fazem falta!…” O Meia-Leca parou, fixou o senhor lá no alto mas como se estivesse a olhar de cima para baixo, e disse: “O senhor que fique com as patacas. E guarde-as para lhe fecharem os olhos com elas quando morrer.”

Daniel de Sá