Citando Carlos Fuentes

“Deve-se ter muito medo de escrever. Não é um ato natural como comer ou fazer amor, é de certa forma, um ato contra a natureza. É dizer à natureza que não se basta a si própria, que precisa de outra realidade, da imaginação literária.”

(Declaração do escritor na ocasião de seu aniversário de 80 anos)

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PAIXÕES LITERÁRIAS: Carlos Fuentes (1928-2012) | Cecília Prada

Carlos-FuentesDe madrugada, acesa,  

Apascento meus livros. 

É um gigante – não há dúvida.

Antes de mais nada, impressionava pelo seu físico. Homem muito bonito, de extraordinário porte, distinto, educado, um dos maiores escritores do século XX mas também adequado modelo  do “perfeito diplomata de carreira” que também foi, tendo chegado a embaixador do México na França, de de 1972 a 1976 – juntando às duas carreiras também a de professor em algumas  das mais renomadas universidades , como Princeton, Harvard e Cambridge.

E assim se conservou o até sua morte,em 15 de maio de 2012,  aos 83 anos, atuante, cheio de energia – deixou-nos 43 livros publicados, de ficção e de ensaios. Em suas últimas entrevistas, poucos meses antes de morrer, comentava um livro que acabara de escrever, Federico en su balcón, no qual ressuscitara Nietzsche para manter uma conversa com ele, e, incansável, declarava ter começado a escrever mais um de seus alentados romances de fundo histórico, El baile del centenario.

Caracteriza sua obra de ficcionista tomar como tema a história do seu país , criando, porém, uma série de personagens de primeiro plano, em sua integralidade e em suas particularidades existenciais ( “personagens redondos”, como preconizava Flaubert), situados contra o grande cenário histórico  – uma integração perfeita, como realizou em La muerte de Artemio Cruz (1962), Terra nostra (1975) e Los años con Laura Diaz (1999) .  No primeiro, o personagem, em seu leito de morte, no ano de 1959, recorda episódios de sua vida pessoal e de seu envolvimento em lutas políticas subsequentes à Revolução Mexicana de 1910, remontando depois até a data do seu nascimento, 1889.É um livro complexo, não-linear, e Fuentes vale-se de recursos estilísticos imprevisíveis, no entrelaçamento dos diversos períodos históricos retratados. Ainda mais extenso, e de estrutura complexa  e desafiadora é Terra Nostra, em que abrange a história mexicana desde os primórdios da conquista espanhola. Laura Diaz, em plena maturidade criativa, é mais simples e linear. Exige menos conhecimentos do leitor e cria uma personagem calcada em uma pessoa real, a fotógrafa e ativista comunista Tina Modotti – que pertenceu ao circuito famoso de Diego Rivera e Frida Khalo –  e através das circunstâncias de sua vida descreve um painel histórico que abrange o contexto conturbado do México, durante todo o século XX.

Pela sua imensa erudição, seu aprofundamento em história e disciplinas afins como sociologia e ciências políticas, por ser um dos raros ficcionistas-pensadores que a América Latina conta, Fuentes tem sofrido em maior gráu com a ignorância, a mediocridade, a falta de iniciativa dos editores, entre nós (falo pelo Brasil, pois desconheço o que se passa em Portugal) – ocupados em correr atrás das insignificâncias de escritores que visam somente o lucro fácil, a alta vendagem para um público cada vez mais imbecilizado.Muito poucos são os editores conscientes, bem informados, que ainda se lembram de que a literatura tem sido, com as outras artes, e antes de todas, o sustentáculo de qualquer tipo de civilização. Não-traduzida para o português permanecem, portanto, não somente uma grande parte da obra de Fuentes (como o colossal romance  Terra Nostra ), mas um grande número de outros escritores “sérios”, significativos, do mundo – enquanto na enxurrada diária dos lançamentos, passam desvairados cinquenta, cem,  milhão de “tons de cinza” que vão encabeçar a coluna dos “mais lidos”.

Seu primeiro romance de sucesso foi La región más transparente, de 1958 – ele tinha 29 anos, então. Um sucesso estrondoso, saudado pela crítica como “o primeiro grande mural da modernidade urbana”, pois descrevia a complexa realidade da vida na capital mexicana, desvelando uma série de circunstâncias e de personagens das mais variadas classes sociais. Não perdeu até hoje sua atualidade, no mundo hispânico, mas também permanece sem tradução em português.

Carlos Fuentes mereceria, sem dúvida, o Prêmio Nobel – pela qualidade, pelo volume da obra, pelo vigor do seu empenho na transformação cultural e social do seu país e da América Latina. Não o obteve, mas foi muito reconhecido no mundo hispânico e recebeu importantes prêmios, como o Miguel de Cervantes em 1987 e o Príncipe de Astúrias em 1994.

Como sempre acontece após a morte de um artista importante,  há uma revalorização imediata de sua obra  por parte de críticos, editores e professores universitários. Em minha próxima crônica pretendo continuar a examinar alguns aspectos da obra de ficção de Fuentes, mas termino esta reproduzindo apenas duas manifestações de críticos que julgo fundamentais para que meus leitores possam avaliar o que ele representa.

O crítico mexicano Christopher Dominguez disse, de sua obra: “É o conjunto mais complexo e variado da narrativa mexicana e reúne todas as conquistas e tendências da literatura contemporânea”. E o escritor argentino Tomás Eloy Martinez, em artigo publicado no jornal La Nación , disse: “El siglo XX está poblado de intelectuales emblemáticos. Ninguno de ellos ha reflejado tan bien como Carlos Fuentes las atmósferas, los humores, las obsesiones y los cambios de piel de América Latina”.

Cecília Prada 

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Machado de Assis | Biografia

machado_dados_biográficosMachado de Assis (Joaquim Maria M. de A.), jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 21 de junho de 1839, e faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908. É o fundador da Cadeira nº. 23 da Academia Brasileira de Letras. Velho amigo e admirador de José de Alencar, que morrera cerca de vinte anos antes da fundação da ABL, era natural que Machado escolhesse o nome do autor deO Guarani para seu patrono. Ocupou por mais de dez anos a presidência da Academia, que passou a ser chamada também de Casa de Machado de Assis.

Filho do operário Francisco José de Assis e de Maria Leopoldina Machado de Assis, perdeu a mãe muito cedo, pouco mais se conhecendo de sua infância e início da adolescência. Foi criado no morro do Livramento. Sem meios para cursos regulares, estudou como pôde e, em 1854, com 15 anos incompletos, publicou o primeiro trabalho literário, o soneto “À Ilma. Sra. D.P.J.A.”, no Periódico dos Pobres, número datado de 3 de outubro de 1854. Em 1856, entrou para a Imprensa Nacional, como aprendiz de tipógrafo, e lá conheceu Manuel Antônio de Almeida, que se tornou seu protetor. Em 1858, era revisor e colaborador no Correio Mercantil e, em 60, a convite de Quintino Bocaiúva, passou a pertencer à redação do Diário do Rio de Janeiro. Escrevia regularmente também para a revista O Espelho, onde estreou como crítico teatral, a Semana Ilustrada e o Jornal das Famílias, no qual publicou de preferência contos.

O primeiro livro publicado por Machado de Assis foi a tradução deQueda que as mulheres têm para os tolos (1861), impresso na tipografia de Paula Brito. Em 1862, era censor teatral, cargo não remunerado, mas que lhe dava ingresso livre nos teatros. Começou também a colaborar em O Futuro, órgão dirigido por Faustino Xavier de Novais, irmão de sua futura esposa. Seu primeiro livro de poesias, Crisálidas, saiu em 1864. Em 1867, foi nomeado ajudante do diretor de publicação do Diário Oficial. Em agosto de 69, morreu Faustino Xavier de Novais e, menos de três meses depois (12 de novembro de 1869), Machado de Assis se casou com a irmã do amigo, Carolina Augusta Xavier de Novais. Foi companheira perfeita durante 35 anos. O primeiro romance de Machado,Ressurreição, saiu em 1872. No ano seguinte, o escritor foi nomeado primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, iniciando assim a carreira de burocrata que lhe seria até o fim o meio principal de sobrevivência. Em 1874, O Globo (jornal de Quintino Bocaiúva), em folhetins, o romance A mão e a luva. Intensificou a colaboração em jornais e revistas, como O CruzeiroA EstaçãoRevista Brasileira (ainda na fase Midosi), escrevendo crônicas, contos, poesia, romances, que iam saindo em folhetins e depois eram publicados em livros. Uma de suas peças, Tu, só tu, puro amor, foi levada à cena no Imperial Teatro Dom Pedro II (junho de 1880), por ocasião das festas organizadas pelo Real Gabinete Português de Leitura para comemorar o tricentenário de Camões, e para essa celebração especialmente escrita. De 1881 a 1897, publicou naGazeta de Notícias as suas melhores crônicas. Em 1880, o poeta Pedro Luís Pereira de Sousa assumiu o cargo de ministro interino da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e convidou Machado de Assis para seu oficial de gabinete (ele já estivera no posto, antes, no gabinete de Manuel Buarque de Macedo). Em 1881 saiu o livro que daria uma nova direção à carreira literária de Machado de Assis –Memórias póstumas de Brás Cubas, que ele publicara em folhetins na Revista Brasileira de 15 de março a 15 de dezembro de 1880. Revelou-se também extraordinário contista em Papéis avulsos(1882) e nas várias coletâneas de contos que se seguiram. Em 1889, foi promovido a diretor da Diretoria do Comércio no Ministério em que servia.

Grande amigo de José Veríssimo, continuou colaborando naRevista Brasileira também na fase dirigida pelo escritor paraense. Do grupo de intelectuais que se reunia na Redação da Revista, e principalmente de Lúcio de Mendonça, partiu a idéia da criação da Academia Brasileira de Letras, projeto que Machado de Assis apoiou desde o início. Comparecia às reuniões preparatórias e, no dia 28 de janeiro de 1897, quando se instalou a Academia, foi eleito presidente da instituição, à qual ele se devotou até o fim da vida.

A obra de Machado de Assis abrange, praticamente, todos os gêneros literários. Na poesia, inicia com o romantismo deCrisálidas (1864) e Falenas (1870), passando pelo Indianismo emAmericanas (1875), e o parnasianismo em Ocidentais (1901). Paralelamente, apareciam as coletâneas de Contos fluminenses(1870) e Histórias da meia-noite (1873); os romances Ressurreição(1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878), considerados como pertencentes ao seu período romântico. A partir daí, Machado de Assis entrou na grande fase das obras-primas, que fogem a qualquer denominação de escola literária e que o tornaram o escritor maior das letras brasileiras e um dos maiores autores da literatura de língua portuguesa.

A obra de Machado de Assis foi, em vida do Autor, editada pela Livraria Garnier, desde 1869; em 1937, W. M. Jackson, do Rio de Janeiro, publicou as Obras completas, em 31 volumes. Raimundo Magalhães Júnior organizou e publicou, pela Civilização Brasileira, os seguintes volumes de Machado de Assis: Contos e crônicas(1958); Contos esparsos (1956); Contos esquecidos (1956); Contos recolhidos (1956); Contos avulsos (1956); Contos sem data (1956);Crônicas de Lélio (1958); Diálogos e reflexões de um relojoeiro(1956). Em 1975, a Comissão Machado de Assis, instituída pelo Ministério da Educação e Cultura e encabeçada pelo presidente da Academia Brasileira de Letras, organizou e publicou, também pela Civilização Brasileira, as Edições críticas de obras de Machado de Assis, em 15 volumes, reunindo contos, romances e poesias desse escritor máximo da literatura brasileira.

http://www.machadodeassis.org.br/ … (FONTE)

FUTEBOL POLÍTICO | José Pacheco Pereira in “Abrupto”

Há um pequeno problema no futebol político: se olhassem para as bancadas apercebiam-se de duas coisas. Uma, a de que ninguém os está a ver; a outra, de quem os está a ver prepara-se para saltar para o campo e linchar as equipas. Isto assim não vai longe.

http://abrupto.blogspot.pt/2013/02/futebol-politico-vivemos-nos-ultimos.html … (FONTE)