NO CENTENÁRIO DE ÁLVARO CUNHAL | José Pacheco Pereira in “Público”

acunhalA personalidade de Álvaro Cunhal merece neste ano do seu centenário um conhecimento menos preso à mitologia, quer hagiográfica, quer hostil, para poder devolver-se à memória histórica dos portugueses um homem real e bem pouco comum, em vez de uma abstracção mecânica, que, essa sim, será rapidamente esquecida. Ora, nos anos desta década infeliz, precisamos bem dessa memória mais profunda e complexa da história, para não nos embrutecermos mais do que o que já estamos.

José Pacheco Pereira

http://abrupto.blogspot.pt/2013/02/no-centenario-de-alvaro-cunhal-deixado.html … (FONTE)

O Homem do Turbante Verde, de Mário de Carvalho

“Quanto ao professor, estava manifestamente a mais nesta fase da expedição e todos pareciam concordes com isso.”

A trama parece, desde o início, revelar o seu desfecho final, como se no plot traçado não tivesse implícito um volt face. Uma mestria que faz destes contos uma verdadeira aventura para o leitor. São vários os ambientes percorridos por estas narrativas, desde os mais exóticos, ao conturbado período de sobrevivência à ditadura portuguesa. Em todos, um tema comum, uma certa crueldade que parece contida na mente e atitudes dos homens, que se liberta ao sabor do acaso ou do destino. Um mal sem objectivo aparente ou moral assertiva.

A escrita destas narrativas curtas é cuidada e clara, dotada de apontamentos fora do léxico comum que reforçam o ritmo da acção. “Num instante, a multidão oscilou, dividiu-se, sombras correram, a vaia modelou-se em vozeios diferenciados, crepitaram ruídos corridos de passos, desaustinaram tropeios de botas.” E tudo ficou dito sobre a multidão em fuga sujeita a uma carga policial. Toda a emoção e toda a tensão num ritmo desaustinado, num relato perfeito. Dispensam-se mais palavras.

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Fechado para almoço

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Todos se espantam quando digo que aqui em Fartura as farmácias fazem plantão até às 22h. Perguntam-me e depois, como é que faz. Não faz. Pode-se bater à porta do farmacêutico. Pode-se também ir ao Pronto-Socorro, que está pronto a socorrer qualquer um. Só não garante cura. Sequer alívio. Mas a crônica é outra.

Em Apucarana há um restaurante que fecha pra almoço. O leitor não está a enxergar mal. Se se vai ao tal restaurante para almoçar, não almoça-se. Uma plaquinha atenta para o fechamento temporário.

Mas a gerência já providencia melhoras: especificando hora de retorno, construindo uma área de espera com uma recepcionista especialmente contratada para o serviço de recepcionar quaisquer famélicos clientes, estacionamento mais amplo dividido por categorias: 1ª) “Clientes da manhã” (que abarca os que querem frutas ao acordar); 2ª) “Clientes da espera” (àqueles que chegam ao restaurante entre meio-dia e duas da tarde); 3ª) “Clientes noturnos” (que podem ser tanto os que chegam para o almoço quanto os que vão jantar); e 4ª) “Clientes esporádicos” (àqueles que surgem de quando em vez apenas a petiscar), além de reformas para maior conforto da clientela.

Com toda essa preocupação, é de se considerar justificável a ausência da equipe do restaurante, pois, como ensinam os pais, para tudo tem hora.