O SALÁRIO DOS POLÍTICOS | por Paulo Sande

Eu preciso de o dizer. Alheio como tenho estado, por opção pessoal, a comentar o período pré-eleitoral, tenho ainda assim de o dizer.

E vou dizê-lo, por muito que isso me prejudique (sei lá se prejudica).

As propostas que por aí se ouvem para reduzir o salário dos políticos – ministros, deputados, vereadores -, esses “malandros”, para além de serem uma espécie de epítome da demagogia política, são enganadoras e até perigosas.

É uma causa comum das esquerdas mais à esquerda e das direitas mais à direita: baixe-se o salário dos políticos, esses “malandros”.

Tenho de o dizer! À cautela, contudo, di-lo-ei utilizando o método socrático do questionamento, para desde logo tolher o passo ao sofismo inevitável que tudo pretende saber e sobre tudo perora, altissonante – escamoteando o quão complexo é o assunto.

Assim.

1ª questão. Os políticos ganham muito ou são os portugueses que, em média – e devido a políticas infelizes e pouco liberais, impostos excessivos, corrupção, nepotismo (muito) e má governação –, ganham de menos?

2ª questão. O que está em causa é mesmo o valor dos salários – que são públicos e cujo tecto (teórico, eu sei) é o salário do Presidente da República – ou serão outras formas menos transparentes de compensação da atividade política?

3ª questão. Face à concorrência do privado e ao valor dos salários e prémios aí praticados, como pode a política atrair para cargos públicos gente qualificada, de que precisa como de pão para a boca (eu sei que não parece uma pergunta), com salários ainda mais baixos? E mesmo os actuais, atraem pessoas competentes?

4ª questão. Ponhamos a coisa assim: quantas pessoas (competentes ou não) estão dispostas a prescindir de salários, negócios ou atividades liberais muito mais compensadoras, para exercer cargos públicos?  Ou só os ricos o podem fazer?

6ª e última questão (ficam muitas por perguntar): salários mais baixos (ou até os actuais) não serão um convite ao compadrio, à corrupção, aos esquemas fraudulentos ou imorais (como por ex. declarar moradas a 399 km de distância ou falsificar presenças), à política rasteira e, perdoem-me a expressão, “rasca”?

(perguntar não ofende, pois não?).

O tema é melindroso e queima os poucos que se atrevem a contrariar – ou sequer a questionar – a demagogia reinante. É uma espécie de elefante incómodo na sala, que todos fingem não ver e alguns querem remover sem saber onde o pôr.

Mas a questão não vai desaparecer e o dilema resume-se ao seguinte: queremos melhores políticos, mais competentes, experientes, representativos (este ponto por si mesmo careceria de uma longa conversa), mais credíveis e por isso tudo melhores para o país – baixando-lhes os salários? Isso faz sentido?

Demagogia por demagogia, acabe-se com os políticos. Fica muito mais barato. E resolvia-se o problema de vez.

(nota a todos os que têm dificuldade em perceber a ironia: este último parágrafo não é para ser levado à letra, o que não quer dizer que não seja para ser levado a sério).

Retirado do facebook | Mural de Paulo Sande

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