A paz antes da justiça | Viriato Soromenho Marques | in Diário de Notícias

Sobre as razões da desordem do mundo, o nosso Padre António Vieira (1608-1697) soube definir com clareza, não só as duas categorias principais que permitiriam substituir o caos pela ordem como também a respetiva prioridade entre elas: “Abraçaram-se a justiça e a paz, e foi a justiça a primeira que concorreu para este abraço. Porque não é a justiça que depende da paz (como alguns tomam por escusa) senão a paz da justiça” (Sermão ao Enterro dos Ossos dos Enforcados).

A tese de que é à justiça que cabe criar as condições para a paz, parece ser confirmada tanto pela razão como pela longa experiência da história doméstica dos povos. A injustiça praticada por classes e fações sobre outras pode conviver, temporariamente, numa aparente ausência de conflito, mas nunca como uma paz solidamente ancorada. Contudo, já no plano internacional essa regra não se aplica universalmente. Vejamos o caso da guerra que nos tira o sono. A invasão russa da Ucrânia configura o crime de agressão de um Estado a outro, curiosamente, introduzido no direito internacional depois da II guerra mundial pela ação do jurista soviético Aron Trainin (1883-1957).

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Megalópole x Rússia: Guerra total | Pepe Escobar, in TheSaker, 07/05/2022

A Operação Z é a primeira salva de uma luta titânica: três décadas após a queda da URSS, e 77 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, após uma avaliação cuidadosa, o Kremlin está a rearranjar o tabuleiro de xadrez geopolítico para acabar com a hegemonia unipolar da “nação indispensável”. Não admira que o Império das Mentiras tenha ficado completamente louco, obcecado em expulsar completamente a Rússia do sistema Ocidental.

Os Estados Unidos e os seus cachorros da OTAN não conseguem lidar com a sua perplexidade quando confrontados com uma perda espantosa: já não há direito de permitir o uso exclusivo da força geopolítica para perpetuar “os nossos valores”. Acabou-se a Dominação de Largo Espectro.

O Estado Profundo dos EUA está a explorar plenamente o seu plano de ação na Ucrânia para mascarar um ataque estratégico à Rússia. O “segredo” era forçar Moscovo a entrar numa guerra intra-eslava na Ucrânia para quebrar o Nord Stream 2 – e assim o fornecimento à Alemanha dos recursos naturais russos. Isto acabaria – pelo menos num futuro previsível – com a perspetiva de uma ligação russo-alemã bismarckiana que levaria os EUA a perderem o controlo da massa terrestre eurasiática que vai do Canal da Mancha ao Pacífico, a favor de um pacto emergente China-Rússia-Alemanha.

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União Europeia (UE) – O dia da Europa. Esta é a minha Europa | Carlos Esperança

Esta é a minha Europa, não como a queria, mas a que resta do sonho visionário, daquele projeto singular, nascido no rescaldo da última Guerra Mundial, após 60 ou 70 milhões de mortes e do maior desastre de origem humana de toda a História.

O Dia da Europa, criado em 1985, celebra a proposta do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Robert Schuman, que, a 9 de maio de 1950, cinco anos depois do fim da II Guerra Mundial propôs a criação de uma Comunidade do Carvão e do Aço Europeia, precursora da União Europeia.

Quem tem memória da ditadura e do atraso do Portugal salazarista não esquece o que deve à UE que hoje celebra o dia das Europa em ambiente lúgubre, bem diferente do que merecia, a estimular uma guerra nas suas fronteiras em vez de lutar pela paz.

A convicção de que a UE é um espaço civilizacional de que nos devemos orgulhar, fator de paz e de progresso, oásis democrático onde a justiça social e a laicidade dos Estados devem ser aprofundadas, tornou-me um europeísta militante, grato pela notável postura deste espaço civilizacional onde o aprofundamento da integração económica, social e política é vital para a sobrevivência coletiva.

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“A guerra proxy dos EUA para cortar a Europa do continente euroasiático | Aram Aharonian, Álvaro Verzi Rangel | 04/05/2022

[Tradução de parte de um artigo que espelha uma visão muito possível de se concretizar]

Para os geostrategistas, Taiwan será provavelmente o próximo alvo. O mundo está à beira de uma nova Guerra Fria ou talvez de uma nova guerra mundial, que nem sequer será um pouco fria: será sim nuclear e terminal, podendo representar o ponto final para a humanidade.

É este o preço de lutar pela “democracia e liberdade” (um chavão que esconde o facto de que milhares são carne para canhão ao serviço dos interesses corporativos dos EUA e do “Ocidente”). Trata-se de enfraquecer a Rússia e também de estimular a sua própria indústria militar, e para alcançar isso, Washington continua a subjugar os europeus, obrigando-os a apoiar as suas directivas, mesmo que possam sofrer um bombardeamento nuclear da Rússia, ao mesmo tempo que já estão a ficar sem gaz, trigo, outros cereais e alimentos, além de outros bens.

Alguns geostrategistas afirmam que para os EUA esta é uma “proxy-war”, uma guerra que é feita por uma espécie de executor substituto: são os EUA contra a Rússia, mas usam a Ucrânia como executor e campo de aniquilação, para o qual aplicam a ultradireita neonazi no governo (aí colocada com o apoio, financiamento e direcção da CIA e da OTAN). Mas isto não se limita à Ucrânia, fazendo parte de uma ofensiva maior, de alcance global e voltada para a China e os seus possíveis aliados.

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Banco suíço Syz explica como a Rússia resgatou o rublo e como as sanções falharam| in msn.com

Neste momento um rublo russo equivale a 0,014 euros e ao mesmo valor em dólares. Apesar das sanções, o rublo está ao seu nível mais alto em dois anos em relação ao euro. Quais são as razões por detrás dessa recuperação? A moeda russa conseguirá manter-se apesar das sanções que tenta ostracizar a Rússia e os russos?

Um estudo do banco suíço Syz explica como a Rússia segurou o rublo. “Após uma forte queda no início da guerra na Ucrânia, o rublo russo recuperou grande parte de seu valor em relação a outras moedas mundiais, uma mudança possibilitada por controles de capital agressivos implementados por Moscovo e por um fluxo constante de pagamentos pelo petróleo do país e exportação de gás”, diz o banco suíço.

A resiliência do rublo diante das sanções pode permitir concluir que o regime do presidente Vladimir Putin reivindique, pelo menos temporariamente, alguma vitória sobre os esforços internacionais para tornar isolar a Rússia. No entanto, essa melhoria da cotação do rublo pode ser apenas temporária, alerta o banco com sede em Genebra.

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