Simon Jenkins | Longe de obrigar a Rússia a sair da Ucrânia, eles estão causando grande sofrimento em todo o mundo à medida que os preços de alimentos e energia sobem.

Seis Milhões de famílias na Grã-Bretanha enfrentam a possibilidade de apagões matutinos e noturnos neste inverno para manter as sanções contra a Rússia, assim como os consumidores em toda a Europa. Isso apesar de a Europa ter investido cerca de US$ 1 bilhão por dia na Rússia para pagar o gás e o petróleo que continua a consumir. Isso parece loucura. As propostas da UE para suspender os pagamentos estão compreensivelmente opostas por países próximos à Rússia e fortemente dependentes de seus combustíveis fósseis; A Alemanha compra 12% de seu petróleo e 35% de seu gás da Rússia, números muito maiores na Hungria.

A UE em Bruxelas parece não saber o que fazer. Um compromisso diplomático foi levantado – isentando as sanções sobre as importações via gasoduto, o que pouparia a Hungria e a Alemanha – mas nenhum plano prático foi acordado. A verdadeira razão é que os argumentos sobre a arma de sanções foram reduzidos à retórica machista. Eles deveriam induzir um regime estrangeiro a mudar alguma política inaceitável. Isso raramente acontece, e no caso da Rússia falhou descaradamente. Os apologistas agora afirmam que as sanções são meramente um impedimento, destinado a trabalhar a médio e longo prazo. À medida que a guerra na Ucrânia muda para uma engrenagem diferente, esse termo pode ser longo, de fato.

As sanções podem ter prejudicado o valor do crédito da Rússia, mas o aumento de 70% nos preços mundiais do gás por si só sobrecarregou seu saldo de pagamentos. Seu superávit comercial em conta corrente, de acordo com seu banco central, é agora mais de três vezes o nível pré-invasão. Ao mesmo tempo, as sanções estão claramente prejudicando os países da Europa Ocidental e Central que os estão impondo.

É absurdo esperar que a Hungria morda a fome de energia e, como diz, “bomba nuclear” sua economia, sem objetivo fixo ou cronograma à vista. As sanções têm o péssimo hábito de serem difíceis de desmantelar. Pior está por vir. A reação da Rússia às sanções tem sido ameaçar cortar o gás para a Europa, elevando ainda mais os preços. Já está bloqueando os portos do Mar Negro, dos quais milhões de toneladas de grãos ucranianos são normalmente enviadas para o mundo exterior. Esse bloqueio fez com que os preços do cereal subissem 48% em sua base de 2019, devastando mercados, particularmente em toda a África. Isso, por sua vez, aumentou o valor das exportações maciças de grãos da Rússia. A Rússia ofereceu-se para suspender o bloqueio se as sanções forem levantadas. Se isso significa que isso é discutível, mas o Ocidente não pode ser cego para a consequência não intencional de sua guerra de sanções.

A Otan tem sido sensatamente escrupulosa em não escalar a guerra na Ucrânia para um conflito em toda a Europa. As sanções não conhecem tal sutileza. Milhões de pessoas inocentes em toda a Europa e longe de suas costas sofrerão à medida que os preços de alimentos e energia subirem. As linhas de abastecimento estão interrompidas. As ligações comerciais entram em colapso. As vítimas são esmagadoramente pobres.

O objetivo – obrigar a Rússia a retirar suas forças da Ucrânia – não foi alcançado patentemente. A ajuda militar tem sido muito mais eficaz a esse respeito. Mas o mal causado ao resto da Europa e ao mundo exterior é agora gritante. A UE deve continuar ajudando o esforço de guerra da Ucrânia e a retirar as sanções econômicas contra a Rússia. Eles são auto-destrutivos e sem sentido cruéis.

Simon Jenkins é colunista do Guardian.

https://www.theguardian.com/commentisfree/2022/may/30/eu-forget-sanctions-russia-ukraine-food-energy-prices?fbclid=IwAR1Jcdtm-1_YeQmF-PxKTK9dfWaT5efFycdbqGaSrifkyI1Oj4oH6yjgL64