Tita Alvarez | BEM-VINDOS AO CIRCO EUROPEU!

Alemanha, França, Itália, Espanha e até a Suíça preparam-se para apagões programados. Mais tarde ou mais cedo teria de acontecer: a falta de luz nas cabecinhas das lideranças teria de extravasar para o exterior.

Entretanto, esses mesmo e outros países Europeus, falam de aumentarem despesas militares. Há muito que andam armados em parvos e portanto não me espanta que pensem que tudo será possível ao mesmo tempo: cair na produção industrial e agrícola, enquanto se cresce na produção de armas.

Enviar mais armas para a Ucrânia e ter mais armas em casa. Combater os russos e reprimir internamente as populações descontentes. Reforçar a coesão da União Europeia, enquanto se ameaçam as vozes discordantes dessa fingida União.

Tantas contradições obviamente produzirão choques e ruturas mas parece haver uma certeza no caminho de degradação, confirmada de resto pela contínua degradação das lideranças.

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FESTA DO AVANTE! | Miguel Esteves Cardoso

“Dizem-se muitas mentiras acerca da Festa do Avante! Estas são as mais populares: que é irrelevante; que é um anacronismo; que é decadente; que é um grande negócio disfarçado de festa; que já perdeu o conteúdo político; que hoje é só comes e bebes.

Já é a Segunda vez que lá vou e posso garantir que não é nada dessas coisas e que não só é escusado como perigoso fingir que é. Porque a verdade verdadinha é que a Festa do Avante faz um bocadinho de medo.

O que se segue não é tanto uma crónica sobre essa festa como a reportagem de um preconceito acerca dela – um preconceito gigantesco que envolve a grande maioria dos portugueses. Ou pelo menos a mim.

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O Estado da União | O Estado de Direito Já é uma questão ideológica! | por Carlos Matos Gomes

O facto de estar de pensionato, mas não por motivos de saúde ou de justiça, em quarto com televisão, permitiu-me assistir ao discurso da querida líder da União Europeia, Ursula Von der Leyen sobre o estado da União, no magnífico auditório do Parlamento Europeu, muito composto de público.

A senhora Von der Leyen vestia um espampanante conjunto de saia e casaco com as cores gloriosas do azul da União e as Estrelas amarelas dos estados europeus.

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João Gomes | Comentário ao texto anterior “TEXTOS HISTÓRICOS | NATO, DA DEFESA À AMEAÇA | por Mário Soares”

Boa tarde a Carlos Fino e participantes ! Um certo “cansaço” instala-se para continuar a comentar sobre esta matéria. Será a próxima evolução do conflito da Ucrânia que “ditará” que caminho o Mundo está a seguir pois, enquanto “discutimos” a questão da “operação especial”, outros embriões conflituosos se colocam em áreas próximas, como o caso da Sérvia/Kosovo e o agora da Arménia.

Bem dizia Mário Soares, astuto dirigente europeu que, para lá dos seus “defeitos” de um “socialismo” demasiado metido na gaveta, conhecia os meandros de certas politicas internacionais, nomeadamente as americanas.

Para os russos, a questão sobre se a OTAN é ofensiva ou defensiva não será o ponto. Para entender o ponto de vista de Putin, temos de considerar duas coisas que geralmente são negligenciadas pelos comentaristas ocidentais: o alargamento da OTAN em direção ao Oriente e o abandono incremental do quadro normativo da segurança internacional pelos EUA.

Na verdade, enquanto os EUA não lançavam mísseis nas proximidades de suas fronteiras, a Rússia não se preocupava tanto com a extensão da OTAN. A própria Rússia considerou-se candidatar à adesão, o que só não ocorreu pelo “medo” americano de abrir mão dos “segredos” da organização.

Os problemas que declararam-se em 2001, quando Bush decidiu retirar-se unilateralmente do Tratado ABM e implantar mísseis antibalísticos (ABM) na Europa Oriental. O Tratado ABM destinava-se a limitar o uso de mísseis defensivos, com a justificativa de manter o efeito dissuasivo de uma destruição mútua, permitindo a proteção de órgãos decisórios por um escudo balístico (a fim de preservar uma capacidade de negociação). Assim, limitou a implantação de mísseis antibalísticos a certas zonas específicas (notadamente em torno de Washington DC e Moscovo) e proibiu-o fora dos territórios nacionais.

Desde então, os Estados Unidos têm-se progressivamente retirado de todos os acordos de controle de armas estabelecidos durante a Guerra Fria: o Tratado ABM (2002), o Tratado de Céu Aberto (2018) e o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) (2019). Em 2019, Donald Trump justificou a sua retirada do Tratado INF por supostas violações do lado russo. Mas, como observa o Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (SIPRI), os americanos nunca forneceram provas dessas violações. Na verdade, os EUA estavam simplesmente tentando sair do acordo a fim de instalar os seus sistemas de mísseis AEGIS na Polónia e Roménia. De acordo os EUA, esses sistemas são oficialmente destinados a interceptar mísseis balísticos iranianos. Mas há dois problemas que claramente colocam em dúvida a boa fé dos americanos:

. A primeira é que não há indicação de que os iranianos estejam a desenvolver tais mísseis, como Michael Ellemann da Lockheed-Martin declarou perante um comitê do Senado americano.

. A segunda é que esses sistemas usam lançadores Mk41, que podem ser usados para lançar mísseis antibalísticos ou mísseis nucleares. O sítio radzikowo, na Polónia, fica a 800 km da fronteira com a Rússia e a 1.300 km de Moscovo.

As administrações Bush e Trump disseram que os sistemas implantados na Europa eram puramente defensivos. No entanto, mesmo que teoricamente verdadeiro, é tecnicamente e estrategicamente falso. Pois a dúvida, que lhes permitiu a instalação, é a mesma dúvida que os russos poderiam legitimamente ter em caso de conflito. Esta presença nas proximidades do território nacional da Rússia pode de fato levar a um conflito nuclear. Em caso de conflito, não seria possível saber precisamente a natureza dos mísseis carregados nos sistemas – deveriam os russos esperar por explosões antes de reagir ? Na verdade, sabemos a resposta: sem tempo de aviso antecipado, os russos praticamente não teriam tempo para determinar a natureza de um míssil disparado e, portanto, seriam forçados a responder preventivamente com um ataque nuclear.

Vladimir Putin não só vê isso como um risco para a segurança da Rússia, mas também observa que os Estados Unidos estão cada vez mais desrespeitando o direito internacional para prosseguir uma política unilateral. É por isso que Vladimir Putin diz que os países europeus podem ser arrastados para um conflito nuclear sem querer. Este foi o conteúdo de seu discurso em Munique em 2007, e ele veio com o mesmo argumento no início de 2022, quando Emmanuel Macron foi a Moscovo em fevereiro.

Mário Soares não falava de “borla”. Ele sabia que, no fundo, o processo de expansão da hegemonia dos EUA em relação à Europa se destinava a pressionar a Rússia e a obrigá-la a ceder ou encontrar as respostas que defendessem o seu ponto de vista estratégico. Ora, Putin optou pela segunda delas e, quem estiver atento à “história” dos desenvolvimento bélicos americanos, só pode estar de acordo com essa posição.

João Gomes in Facebook 15/09/2022 | João Gomes