(…) uma história de encantar (…) | Joana Amaral Dias

joana amaral dias 1 - 200Parece uma história de encantar. Na europa racista dos fortes com os fracos e fracos com os fortes, uma equipa dos PIGS, dos porcos, dos dégueulasse, nojentos, das femme de ménage com bigode e dos pedreiros dos bidonville, ganhou o caneco. Cum caneco.
É o dia em que o velho continente não é pertença e propriedade do eixo franco-alemão, nem das patroas do 6º arrondissement, nem da Goldman Sachs. Parece uma história de encantar. Uma equipa com um seleccionador humilde, católico devoto e confesso, meio ensimesmado e cachaço tenso, fora do estrelato do dente branco e do cantinho dos special ones, empata, empata, empata. Mas não perde. Não brilha mas não cai. Aguenta firme, não é obra de arte, arquitectura de arrebites e modernices, mas está ali firme, de pedra e cal. Fernando Santos, o engenheiro da electricidade, engenheiro da energia, dizia-se, tinha um único trunfo, o grande sétimo selo Cristiano Ronaldo, atleta de profissão. Parece uma história de encantar. Ninguém queria acreditar. Quase ninguém acreditava. E esse campeonato começado no dia 10 de junho, no dia de Portugal, havia de terminar em França, país hospedeiro mas pouco hospitaleiro.
França-Portugal, final do euro 2016. Foi o dia em que o imigrante português em terra gaulesa, “o avec”, foi, finalmente, vingado. Tantos anos cuspido para as margens, a esfregar latrinas e a ser cinicamente louvado como “grande trabalhador” para, por fim, mostrar aos franceses que está ali por direito. Os franceses estavam a jogar no seu território mas nós também. Paris é o delta da diáspora portuguesa e o Stade de France, ali na Saint-Dennis dos nossos avós, foi construído com as mãos, o sangue, o suor e as lágrimas do trolha tuga. Jogámos em casa.
Uma história para contar. A equipa do comandante discreto e da estrela fulgurante entrou em campo depois de mais vexames. Sanção para aqui, má imprensa desportiva para acolá. Dez minutos e um médio francês, cujo nome nunca ficará para a história, pobre diabo, joga sujo, bem porco, contra CR7. Rei Ronaldo ainda insiste mas acaba por sair lesionado e em lágrimas. Sentado no relvado, enquanto chorava de dor e raiva, uma borboleta poisa-lhe na na pálpebra, como se fosse borboleta com borboleta. Mas não uma bonita, de encher o olho, como a Rainha Alexandra ou a Esmeralda. Uma vulgar traça, um patinho feio do mundo panapanás, como uma selecção degoulasse. A borboleta feiosa beijou o olho choroso do capitão. E o tempo foi bonito.
A equipa tomou-se de revoltas fidagais, gritou chega de humilhações e desdém, basta de rebaixar. Corações ao alto, peito feito, olho vivo e pé ligeiro. Afinal, não estavam decapitados, afinal erguia-se um gigante. Golias tremeu. E quando a morte súbita já espreitava sobre o ombro, Éder, o órfão dos arrabaldes de Coimbra, da Adémia terra de enguias e comboios, outro maldito desta vida e desta selecção, outro herói inesperado, dispara, marca, resolve, ganha, vence. Portugal festeja, finalmente festeja, finalmente alegre. Portugal ergue os seus luso-africanos, luso-brasileiros, os seus luso-franceses e o seu cigano português. Portugal pode ser essa mistura, sopa da pedra, rapa o tacho, desenrasca, safa e já está. Pátria amada, amor de mãe, frança 2016. A memória ficará tatuada. Santos da casa fazem milagres.

Retirado do Facebook | Mural de Joana Amaral Dias

Sete Mitos/Mentiras sobre os Portugueses | Joana Amaral Dias

Joana-Amaral-Dias 2001. Os portugueses trabalham pouco. Os alemães trabalham muito. Mentira. A jornada de trabalho em Portugal é uma das maiores da Europa desenvolvida. Comparados com os alemães, os portugueses trabalham mais 324 horas todos os anos, mas levam para casa menos 7484 euros.

2. Os portugueses andaram a viver da mama da Europa, paga pelos alemães. Mentira. Com a entrada na UE, Portugal ganhou apenas 0,4% do PIB (fim da lista). Já a Alemanha encabeça o ranking com um aumento de 2,3%.
3. Os portugueses têm demasiados feriados. Mentira. Em Portugal há 10 feridos (antes havia 14). A Finlândia tem 15, a Espanha 14, a Eslováquia 13, a Áustria 12, enquanto a Suécia, a Itália, a França e a Dinamarca têm 11. Na Alemanha há entre 10 a 13 feriados, conforme os estados (länders).

4.Há demasiados portugueses que são funcionários públicos. Mentira. Temos, 575 mil e têm vindo a diminuir. Em 2008 (quando eram mais do que agora), eram 12,1% da população ativa. A média dos 32 países da OCDE é de 15%. A Dinamarca e a Noruega têm cerca 30%. O peso dos vencimentos dos funcionários públicos, em Portugal, em relação ao PIB, é inferior à média da UE e da zona euro: 10,5% em Portugal, 10,6% na zona euro, 10,8% na UE, mais de 18% em países como a Dinamarca ou a Noruega.

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