Há 2021 anos | Paulo Mendes

Há 2021 anos, um judeu marxista foi torturado e cruxificado por uma potência imperialista por causa da uma mensagem revolucionária de igualdade e fraternidade entre os homens. Nos 20 séculos a seguir, esta mensagem foi sistematicamente expurgada do seu teor político de justiça social e igualdade, e vendida aos pobres como uma treta pseudo-espiritual de defesa da resignação para com as injustiças dos poderosos em troca de um reino imaginário após a morte, pela mais antiga, mais pérfida e bem sucedida corporação empresarial da História.

Esta corporação, 20 séculos depois, é gerida por um pequeno e geriátrico grupo de homens brancos que entretanto justificaram a acumulação de riqueza por tiranos, o genocídio de indígenas, o femicídio da inquisição, a escravatura, o holocausto e sujeitaram milhares de crianças a seu cargo aos mais horríveis crimes sexuais causados pelos seus juramentos de celibato forçado, que por sua vez derivam da necessidade que a corporação tem, ainda hoje, de proteger a propriedade acumulada, limitando o direito sucessório dos seus agentes comerciais que vendem a palavra adulterada daquele revolucionário judeu palestiniano.

Feliz Páscoa a todos e vivam os judeus revolucionários e os seus filhos que ainda hoje fazem, sempre que podem, a cabeça em água aos poderosos deste mundo.

Paulo Mendes

Retirado do Facebook | Mural de Paulo Querido

PENSÃO CENTRAL – CENÁRIO DA MINHA INFÂNCIA | Carlos Fino

Em pleno centro de Fronteira, a dois passos da imponente Igreja Matriz mandada construir por D. Sebastião em 1571, aquele velho casarão de dois pisos da rua da Lagoa sempre teve localização privilegiada para o negócio que os meus avós maternos – Mané da Rôla e António Rita –  nele montaram no começo do século passado: “Pensão Central – quartos e refeições”, conforme informava a tabuleta – hoje desaparecida – pendurada na fachada.

Eu e as minhas duas irmãs – a Cândida e a Anabela – morávamos com os pais e os avós paternos no começo da rua de São Miguel, junto aos Correios, já no início do declive que desce para a ribeira. No entanto, muitas vezes, atravessando o adro, íamos comer à Pensão, onde a avó Antónia sempre tinha alguma coisa apetitosa preparada para nos dar. Tanto bastou para que logo fossemos crismados: “Olha, lá vão os austríacos…” – diziam com sarcasmo, comparando-nos aos jovens refugiados da segunda guerra que haviam sido acolhidos por algumas das famílias mais ricas da vila. Ninguém escapa, no Alentejo, à crisma do povo…

Na inocência desprevenida da nossa primeira infância, esses comentários não nos afetavam minimamente – para a minha mãe era um alívio poder de vez em quando folgar de fazer comida e para a minha avó uma satisfação ter os netos reunidos debaixo da sua asa.

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