Helena Ventura Pereira | sobre o texto de Carlos Matos Gomes – A justiça das multidões

É um texto soberbo, conciso, oportuno. Também me parece que há muita insanidade à solta. E muito “prazer de vingança”, muita vontade de destruição. Interesses que, na sombra, a toda a hora estão prontos para acender rastilhos.

Com as multidões enfurecidas, não há tempo de qualidade para se pesarem as questões essenciais.

A justiça das multidões | Carlos Matos Gomes | (dasculturas.com)

Quadro de Honra de Abril | Carlos Esperança

Quadro de Honra de Abril – Instituições e pessoas de quem gosto

Num país onde um indivíduo cortado às rodelas por um herdeiro apressado merece mais protagonismo do que um cientista de topo, uma atleta de exceção e servidores públicos notáveis, é de elementar justiça mencionar quem apreciamos, enquanto lutas partidárias, mitómanos e fascistas procuram destruir os alicerces do Estado de direito democrático.

Militares de Abril – Sempre, grato até à morte;

SNS – Hoje e sempre;

Marta Temido – Ministra da Saúde;

Graça Freitas – Diretora-geral de Saúde;

Gouveia e Melo – Almirante, coordenador do bem-sucedido e exemplar plano de vacinação;

Médicos, enfermeiros e outro pessoal de Saúde;

Telma Monteiro – A judoca europeia mais medalhada de sempre;

Vítor Cardoso – Físico português (IST) a quem foi atribuída uma bolsa de 5,3 milhões de euros na Dinamarca para criar um grupo de investigação no Instituto Niels Bohr, da Universidade de Copenhaga, na Dinamarca, mantendo o seu grupo de investigação em Lisboa.

Carlos Esperança

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Esperança

O ABRAÇO DO PRIOLO | Almeida Maia

No primeiro dia, meti-me em frente à casa deles. Um telhado igual a barro verdoengo e bastante inclinado, com duas chaminés, janelas altas e madeiradas, tábuas brancas ao comprido e a porta azulada com o batente em ouro velho. Havia um alpendre à americana com cadeira de baloiço, um cepo a servir de mesa, vasos semeados de brincos-de-princesa e marias-sem-vergonha, quatro degraus e a relva. Verdecia em toda a volta.

Tive tempo de apreciar o grulhar do frondoso plátano, a maior ramagem que alguma vez permeei. O bafejo morno descia o tronco velho, ramificava-se e espraiava-se pelo tapete fino, fazendo-o dançar em tufos. Só soube que tinha esperado em demasia quando uma nuvem revelou o azul e o caracol terminou a volta por cima da vedação.

Com mais estilo do que Fred Allen, ele andava de bicicleta, contrariando todos os hábitos das proximidades — nunca vi outros estradistas por ali. Antes de guinar, fez a campainha chilrear tal qual um melro-d’água a cortejar num dia nublado. Depois, subiu a rampa e desmontou em movimento, com uma classe igual à dos filmes. Trajava um fato brunido à ministro e parecia perfumado com ambição, mais do que água no bico.

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A Abrilada de 1961 – Para Angola em força? Não: Para São Bento em Força! | Carlos Matos Gomes

A Abrilada de 1961 – Para Angola em força? Não: Para São Bento em Força!

Ontem, 13 de Abril, passaram 60 anos da Abrilada de 1961 – reduzida na historiografia oficial a um pronunciamento conduzido pelo general Botelho Moniz para afastar Salazar.

A RTP apresentou um apontamento sobre a efeméride, em que participei. Resultante de uma excelente entrevista de quase duas horas com a jornalista Ana Luísa Rodrigues, muito bem preparada e muito bem informada.

A efeméride bem merecia outro tratamento e a direção de informação da RTP tinha a obrigação de lho dar, porque é serviço público.

Tinha a obrigação porque em 13 de Abril de 1961 se jogou o futuro de Portugal: os 13 anos de guerra e a descolonização como ela ocorreu. Eu apresentei o meu entendimento de que Salazar poderia (e deveria) ter evitado guerra e poderia ter aberto Portugal ao exterior. Até a história de África poderia ter sido diferente se o desfecho do que aconteceu a 13 de Abril de 1961 tivesse sido outro, se a Abrilada tivesse vingado.

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