MIAU… | Helena Ventura Pereira

Nicolau Maria de Vasconcelos e Arronches de Meneses Nicólidas Chuchu Maria Zé Ponche. Era o nome do gato persa (julgavam eles) dos meus primos. O mais velho dera-lhe os de porte aristocrático. O mais novo não se lembrava de nenhum com pedigree e oferecia a possível colaboração.

O gato não se importava. Confortado pela vestimenta do mais puro cinza, vaidoso do amarelo esverdeado dos olhos grandes, não se sentia ofendido com a descida à ralé. Afinal eram apenas três detalhes, disfarçados pelo eco dos primeiros nomes com o remate do seu patronímico.

Não sei o que lhe achava de estranho naquela tarde… O Nicolau olhava-me fixamente como se eu fosse uma isca, arqueava o dorso inclinado para as patas da frente… E soltando das entranhas o mais profundo MIAUUU, saltava felino para o meu ombro esquerdo.

Já sei que não vão acreditar, mas desde então inclino-me para esse lado e não quero que me corrijam a postura. Já me habituei ao defeito.

Maria Helena Ventura – 22 de Abril de 2021

Pintura de GEORGY KURASOV

Retirado do Facebook | Mural de Helena Ventura Pereira

MOÇAMBIQUE A URGÊNCIA DE AGIR Paulo Sande

Há alguns meses escrevi e partilhei um texto sobre Moçambique, mais particularmente sobre o norte de Moçambique, a pedir ao governo – e a quem tem poder para isso, neste Mundo de poderes múltiplos em que o mais poderoso, quiçá, é o do dinheiro – que interviesse com urgência para proteger e mitigar o sofrimento dos nossos amigos. Dos nossos irmãos moçambicanos.

Desde então, piorou a situação e nada de intervenção (a cacofonia, para os menos sensíveis à sinestesia, é propositada). Só notícias, mais notícias, sobre crianças decapitadas e outras bonomias.

O horror é o horror é o horror. Claro que à distância e praticado sobre gente miserável que nada tinha e a quem, imagine-se, até esse nada foi tirado, é tudo mais confortável e choramos, com denodo e sinceridade, lágrimas de crocodilo. “Coitados”, e segue a dança.

Conheço bem os argumentos que se opõem a uma ação mais firme por parte de Portugal ou os dos que a consideram impossível ou inútil. Eis alguns deles e a resposta possível.

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