FRAGMENTO 694 DO “LIVRO DE EROS” | IMAGEM DE MODIGLIANI | Casimiro de Brito

A mulher, embora queiram fazer dela
um jardim, é uma floresta que não pertence 
a ninguém. Res nullius. E o seu sexo,
embora o queiram preencher em cada momento,
é para sempre um locus neminis, um lugar
de ninguém. De passagem, sim: eu passei por lá,
quando nasci
e ficaram saudades, e por isso regresso
sempre que posso. Afável, acolhe-me; outras vezes
fecha-se ou morde e não me deixa morrer no paraíso.
Que bom saber tão pouco do seu mistério
e viver à sombra desta delicada ignorância!
E porque não sei, e porque não aprendi
e não me podem ensinar,
vou sempre regressando em busca desse graal
infinitamente perdido
em lugares inóspitos e outras vezes
amenos: na mais delicada
das florestas. Ou é
um jardim?

Retirado do Facebook | Mural de Casimiro de Brito

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