Portugal devastado: rotina ou terrorismo? | José Goulão in blog “http://www.abrilabril.pt”

O vento sopra em todo o país, mas as chamas, tal como em 1975, poupam as zonas onde prevalecem grandes interesses económicos tendencialmente sem pátria.

O terrorismo tem mil caras. Lançar o terror contra pessoas comuns e quase sempre indefesas, ou atemorizar populações e devastar países usando os cidadãos apavorados como reféns são práticas que preenchem os nossos dias num mundo que, pela mão de dementes usando o poder acumulado por conglomerados do dinheiro, caminha para inimagináveis patamares de destruição.

Portugal tem tido a sorte de ser poupado pelo terrorismo, diz-se e repete-se, por vezes com inflexões de um misticismo bolorento próprio de pátrias «escolhidas» para auferir das mercês do sobrenatural. Uma interpretação com curtos horizontes e vistas estreitas, características cultivadas por uma comunicação social habilmente arrastada para realidades paralelas e que reduz o terrorismo dos nossos dias ao estereótipo do muçulmano fanático imolando-se com explosivos à cintura, ou atropelando a eito, não se esquecendo de deixar o cartão de identidade, intacto, num local de crime reduzido a destroços humanos e amontoados de escombros.

Assim sendo, deixa de ser terrorismo, por exemplo, o que a NATO fez na Líbia, o que Israel pratica em Gaza, os massacres que as milícias nazis integradas no exército nacional da Ucrânia «democratizada» cometeram, por exemplo, na cidade de Odessa.

Continuar a ler

Homenagem a Federico García Lorca

A las cinco de la tarde.
Eran las cinco en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana 
a las cinco de la tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde.

El viento se llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y níquel
a las cinco de la tarde.
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la tarde.
Comenzaron los sones de bordón
a las cinco de la tarde.
Las campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
¡Y el toro solo corazón arriba!
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue llegando
a las cinco de la tarde
cuando la plaza se cubrió de yodo
a las cinco de la tarde,
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
A las cinco en Punto de la tarde.

Un ataúd con ruedas es la cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
¡Ay, qué terribles cinco de la tarde!
¡Eran las cinco en todos los relojes!
¡Eran las cinco en sombra de la tarde!

Retirado do Facebook | Mural de Carmen de Carvalho

A Floresta Portuguesa | Professor João Soares

“Os lusitanos eram um povo que vivia desta floresta que lhes fornecia caça, peixe, frutas, farinha de bolota para o pão (não conhecia o trigo), castanha (substituída pela batata após os Descobrimentos) e verduras (veiças). É disto testemunho, o que Estrabão refere ao descrever o povo que os fenícios encontraram (primeira idade do Ferro) neste extremo ocidental europeu (“…três quartas partes do ano alimentam-se sempre com bolotas secas, partidas e esmagadas, com as quais fazem um pão que se conserva muito tempo. Uma espécie de cerveja é a sua bebida ordinária…”). São também testemunho disto, os pães de castanha ou pão dos bosques, a “bola sovada” (falacha) e “pratos relíquias” à base de castanha, como o paparote ou caldulo que ainda se comem em algumas regiões beirãs, e, ainda, alguma “actividade social” baseada na castanha, como, os magustos, estando as brechas (apanha prévia, pela garotada) e os rebuscos (apanha das sobras pelos aldeões de fracos recursos) praticamente em desuso”, conta Jorge Paiva, no texto “A biodiversidade e a história da floresta portuguesa”.

A meio do século passado, emerge outra espécie: o eucalipto, vindo da Austrália e Tasmânia. O rendimento que gera ao produtor florestal tornou-o num investimento interessante que levou a que, face à ausência de regras orientadoras, crescesse onde devia e não devia, criando contínuos florestais que, se nada ou pouco geridos, criam um excelente pasto para os incêndios. Erros que o tempo e o conhecimento estão agora a tentar corrigir.
Muitas outras espécies chegaram, viram e venceram. Uma entre estas é hoje sinónimo de praga. A acácia mimosa, que a ex-Junta Autónoma de Estradas plantou profusamente país fora, e que muitos colocaram nos seus terrenos como planta ornamental, é uma invasora infestante que obriga a fortes investimentos para erradicar, o que nem sempre é coroado de sucesso. Reproduzindo-se muito facilmente e em muito pouco tempo, formam áreas densamente povoadas que impedem o desenvolvimento da vegetação natural.
(dados de 2010)

 

Retirado do Facebook | Mural do Professor João Soares

 

ANOS 30 E 40, EM ÉVORA | O BALNEÁRIO | António Galopim de Carvalho

À saída de Évora para Lisboa a cerca de 500 m da antiga Porta de Alconchel, o “balneário” ou como também de chamava o “Aquário das Bravas” (ver nota no final do texto) era um tanque de forma mais ou menos quadrada que a memória me diz ter uns 12 a 15 metros de largo, entre muros altos. Visto de fora mais parecia uma casa de um só piso e sem telhado, como hoje ainda se pode ver. Colado a um dos mais antigos chafarizes de Évora, o histórico Chafariz das Bravas (já documentado em finais do século XV) recebia dele a água que fazia as delícias dos adolescentes e de alguns homens, nos verões desses anos. Pouco fundo, dava para “ter pé” aos rapazes da minha geração. Mais seguro do que os pegos do Degebe, o afluente do Guadiana que mesmo nos verões secos represava alguma água nos sítios mais fundos, foi no balneário que muitos apenderam, sem escola e mal, a nadar de bruços ou às braçadas, mas o que mais rapidamente se aprendia era nadar “à cão”.
Este tanque foi a nossa piscina, mas diga-se, só para o sexo masculino e em cuecas, pois que calções de banho só um ou outro sabiam o que isso era. Não por regra estabelecida, mas pela imensa força dos bons costumes, raparigas e mulheres nem se aproximavam da porta. Foi preciso esperar cerca de duas décadas para se quebrar esse tabu, o que teve lugar com a inauguração, em 1964, das Piscinas Municipais.
Lembro-me que se falava do “tanque do Alexandre”, mas quase que só retive este nome. Tenho uma vaga ideia que era um daqueles tanques que havia nas quintas, destinados à rega, onde alguns iam nadar, ou melhor, iam meter-se na água.
Nota: – “Bravas” eram as mulheres que, na Idade Média, provocavam “arruídos” e zaragatas, uma espécie de “tendeiras” da minha geração. Em oposição às “Bravas”, existiu, nesse tempo, à porta de Alconchel, o “poço da Boa Mulher”

Retirado do Facebook | Mural de António Galopim de Carvalho

Poema de Martim Soares, 1241 | in Dicionário Sentimental do Adultério de Filipa Melo

“Pero Rodrigues, da vossa mulher,

não acrediteis no mal que vos digam.

Tenho eu a certeza que muito vos quer.

Quem tal não disser quer fazer intriga.

Sabei que outro dia quando eu a fodia,

enquanto gozava, pelo que dizia,

muito me mostrava que era vossa amiga.”

 

[Martim Soares, 1241]

Dicionário Sentimental do Adultério de Filipa Melo

«BALLET ROSE» | o escândalo que abalou o regime de Salazar

Em 1967 rebentou um escândalo de abuso sexual de meninas, algumas com 8 e 9 anos, por parte de gente muito influente do regime fascista. Além de condes, marqueses, estavam implicados industriais, empresários e um ministro do Governo de Salazar, o Ministro da Economia Correia de Oliveira. A PJ prendeu uma modista de nome Genoveva e encontrou uma lista com os clientes das meninas. Tinha acontecido que uma das raparigas se dirigira à PJ, na companhia do advogado Fernando Pires de Lima, e contara tudo o que sabia. O poder quis que o advogado se afastasse. Mas este assumiu a defesa da rapariga e Joaquim Pires de Lima, recorda, numa entrevista à revista Pública do Expresso, em 12/07/2009:

«Tudo começou quando uma moça dos seus 16 anos me procurou, com a mãe e o namorado, porque estava a ser apertada na Polícia Judiciária para prestar declarações. Acerca das razões que a levavam a casa de uma senhora modista, que era tida como uma desencaminhadora de menores. E para identificar os indivíduos que estavam relacionados com essa senhora. Tinha receio de que a levassem presa. Isso levou-me a telefonar ao director da Judiciária, com quem tinha boa relação, bem como ao Antunes Varela (ministro). Provoquei um grande escândalo dizendo que, com a minha cliente, à PJ, ia eu! Não conhecia o instrutor do processo. Mais tarde detectei quem ele era; era um que estava ligado ao assassinato do Delgado, o agente Parente. Quando soube, denunciei-o. Obriguei a miúda a dizer os nomes de toda a gente. Ficou a saber-se que desde os nove anos andava a ser aproveitada por indivíduos como o conde Monte Real, o conde Caria, o conde da Covilhã, uma data de gente da alta sociedade. (…) A PJ o que queria era que ela não dissesse os nomes. “Quero que ela dite para os autos o que ela me disse a mim”. Quando se soube a idade das meninas envolvidas, percebeu-se que isto não era um processo de Ballet Rose á maneira do caso Profumo, cuja mais nova tinha 17 anos, mas um processo de corrupção de menores, com impúberas de nove anos. E miseráveis. Filhas de mulheres-a-dias. Eu queria que a PJ instaurasse um processo crime contra os corruptores de menores e retirasse o nome de Ballet Rose da história. (…) Para abafar o caso, uma vez que estavam metidos no assunto indivíduos como Correia de Oliveira, o Quintanilha Mendonça Dias (que era Ministro da Marinha), acharam que, se não era Ballet Rose, também não era nada de grave. Todos tentaram aliciar as meninas, mas não consumaram. Elas não eram susceptíveis de serem ofendidas. Não passou de uma tentativa de estupro e todos prestaram caução de boa conduta. Para que não houvesse punição dos arguidos. A rapariga [que desencadeou o processo], continuou por aí. Já depois do 25 de Abril perguntou-me se tinha direito a uma indemnização. Uma oportunista.»

Continuar a ler

Biblioteca Nacional de Portugal | Campo Grande | ÁRABES E ISLÃO NA LITERATURA E NO PENSAMENTO PORTUGUÊS (1826-1935)

Mostra dedicada à presença árabe e islâmica na literatura e no pensamento portugueses, desde o início do Romantismo em Portugal até 1935, ano da morte de Fernando Pessoa, figura maior do Modernismo português. Através de uma organização cronológico-temática de livros e documentos oriundos das coleções da BNP e de outras coleções, apresentam-se textos, autores, movimentos e momentos em que a presença e a representação do Islão e da civilização islâmica, com especial foco no al-Andalus (711-1492), emergem na estética e na cultura literária e filosófica portuguesa. Entre os autores patentes na mostra, destacam-se Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Antero de Quental, Teófilo Braga, Oliveira Martins, Eça de Queirós, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Almada Negreiros.

http://www.agendalx.pt/evento/arabes-e-islao-na-literatura-e-no-pensamento-portugues-1826-1935#.WZla6yiGPD4