Umberto Eco | 14 lições para identificar o neofascismo e o fascismo eterno

Intelectual italiano, romancista e filósofo, autor de “O pêndulo de Foucault” e “O Nome da Rosa”, morreu em 19 de fevereiro, aos 84 anos; “O fascismo eterno ainda está ao nosso redor, às vezes em trajes civis”, diz Eco.

Revista Samuel reproduz o texto de Umberto Eco “Ur-Fascismo”, produzido originalmente para uma conferência proferida na Universidade Columbia, em abril de 1995, numa celebração da liberação da Europa.

‘O Fascismo Eterno’

Em 1942, com a idade de dez anos, ganhei o prêmio nos Ludi Juveniles (um concurso com livre participação obrigatória para jovens fascistas italianos — o que vale dizer, para todos os jovens italianos). Tinha trabalhado com virtuosismo retórico sobre o tema: “Devemos morrer pela glória de Mussolini e pelo destino imortal da Itália?” Minha resposta foi afirmativa. Eu era um garoto esperto.

Depois, em 1943, descobri o significado da palavra “liberdade”. Contarei esta história no fim do meu discurso. Naquele momento, “liberdade” ainda não significava “liberação”.

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A moral das séries históricas da televisão | Carlos Matos Gomes

Moral, razão e ficção. Não sou um consumidor regular de televisão, mas consumo séries, de preferência históricas. O mundo desses espectáculos é o de heróis e mártires, de santos e vilões. Pretendem colocar o cidadão comum fora do palco da vida. Eu gosto de heróis e vilões em conflito com mártires e santos, aceito a alienação e admito-a (que remédio!). Era aqui que pretendia chegar depois de ter visto alguns episódios de uma série internacional : Os Médicis ; e de uma série portuguesa: Madre Paula. Ambas as séries nos levam às antecâmaras do poder. Do poder absoluto, que é o único.

As peripécias são emocionantes, os cenários e os guarda-roupas magníficos. Somos fascinados e encadeados. Somos alienados. O mal é deliberadamente apresentado como um banquete sumptuoso. Se repararmos, os mais abjectos e criminosos actos são-nos servidos (impingidos) como factos aceitáveis. Um assassínio, um incesto, uma violação, uma traição, uma tortura, um roubo, uma guerra particular, um tráfico, um envenenamento, um massacre são meras e normais acções de exercício do poder, ou da sua conquista, realizadas por quem está a jogar um jogo dentro das suas regras, fora do mundo dos cidadãos comuns.

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A comunicação social e a onda de incêndios | A OBRA DO DIABO | Zé-António Pimenta de França

Mostra-se nos canais de TV os incêndios horas e horas a fio. Procura-se descoordenações, falta de meios, falhas de equipamentos, faltas de todos os tipos.
Porém, ninguém se interroga, por exemplo, como se justifica esta imensa onda de fogos postos a que estamos a assistir. Quem está por detrás dela, tão vasta e espalhada pelo território nacional ela é. As televisões ficam-se pelo fácil, pela exibição alarve e acéfala dos incêndios.
Porque será que a origem da onda de fogos postos de dimensões nunca vistas não interessa às televisões? Por que motivo as reportagens, as notícias, se ficam por aí?
Todos sabemos que o fogo é um imenso negócio, pelo qual lutam consórcios de várias empresas. Há interesses poderosos organizados em torno do combate aos fogos.
Mas pelos vistos interessa que se esqueça as muitas dezenas de incendiários presos, a origem criminosa dos incêndios e a cobertura apenas se foque nos incêndios propriamente ditos, como de fossem obra de Deus. Ou do Diabo.

É isso, isto deve ser obra do Diabo…

 Zé-António Pimenta de França

Retirado do Facebook | Mural de Zé-António Pimenta de França

MADRE PAULA DE ODIVELAS | A AMANTE MAIS FAMOSA DE D. JOÃO V | Jorge Henrique Letria

Religiosa portuguesa, Paula Teresa da Silva e Almeida, a mais célebre amante do rei D. João V, nasceu no ano de 1701, em Lisboa. Neta de João Paulo de Bryt, antigo soldado da guarda estrangeira de Carlos V e, mais tarde ourives em Lisboa, Paula Teresa entra, aos 17 anos, para o convento de Odivelas. Depois de um ano de noviciado, aí professa.
Por sua vez, D, João V, frequentador do convento de Odivelas onde tinha várias freiras amantes, que ia substituindo
conforme lhe parecia, uma vez topou com a soror Paula. Nessa altura, já a formosa freira era amante de D. Francisco de Portugal e Castro, conde de Vimioso e que recentemente havia sido agraciado com o título de marquês de Valença. Mas isso não constituía obstáculo à inflexível vontade do soberano que, chamando à parte o fidalgo lhe propôs: “Deixa a Paula que eute darei duas freiras à escolha”.

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