O NOVO PERIGO NUCLEAR por Joschka Fisher, in jornal Diário de Notícias

Para alguém que nasceu em 1948, o risco de uma III Guerra Mundial nuclear foi uma faceta muito real da minha infância. Essa ameaça – ou pelo menos a ameaça de a Alemanha Oriental e a Alemanha Ocidental serem ambas totalmente destruídas – manteve-se até ao final da Guerra Fria e ao colapso da União Soviética.

Desde então, o risco de as potências nucleares desencadearem o Armagedão reduziu-se substancialmente, se bem que não tenha desaparecido por completo. Hoje, o perigo maior é o de um número crescente de pequenos países governados por regimes instáveis ou ditatoriais tentar adquirir armas nucleares. Ao tornarem-se potências nucleares, esses regimes podem assegurar a sua própria sobrevivência, promover os seus interesses geopolíticos locais ou regionais e até enveredarem por um programa expansionista.

Neste novo cenário, “a racionalidade da dissuasão” mantida pelos Estados Unidos e pela União Soviética durante a Guerra Fria dissipou-se. Atualmente, se a proliferação nuclear aumentar, é bem provável que o limiar para a utilização de armas nucleares baixe.

Tal como demonstra a atual situação na Coreia do Norte, a nuclearização da Ásia Oriental ou do golfo Pérsico pode constituir uma ameaça direta à paz mundial. Veja-se a recente confrontação retórica entre o ditador norte-coreano Kim Jong-un e o presidente dos EUA Donald Trump, em que Trump prometeu responder com “fogo e fúria” a quaisquer novas provocações norte-coreanas. Obviamente, Trump não está a confiar na racionalidade da dissuasão, como seria de esperar por parte do dirigente da única superpotência que ainda resta. Em vez disso, deu livre curso às suas emoções.

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a ribalta dos lugares em disputa | José Maltez

Um tipo de esquerda não lê, nem ouve, o que um tipo de direita escreve, ou diz, tal como um tipo de direita é cego, ou surdo, face a um tipo de esquerda, mesmo que entre os dois, na substância e no subsolo filosófico, haja mais identidade do que rivalidade. São iguais, mas rivalizam em facciosismo, tribalismo e, portanto, inquisitorializam, porque são estreitos os campos onde possam ter lugares e casas comuns. Logo, o país empobrece e a competição, em lugar de produzir riqueza de ideias, gera uma constante secundarização, dado que a ribalta dos lugares em disputa deixa de ser acessível pelo mérito e passa a ser conquistada pela cunha, pela influência e pela brutalidade do saneamento e da consequente distribuição de despojos, depois do saque do vencedor.

Retirado do Facebook | Mural de José Maltez