E foi tão bom, que os vizinhos acenderam um cigarro | Inês Salvador

Vou tentar comentar a sério as declarações da Cristina Ferreira. A sério, sem me rir, o que é difícil. Embora a Cristina Ferreira não queira saber das meus comentários para nada, e faz ela bem, atrevo-me a sugerir-lhe que, antes de escrever aquelas coisas, leia, pelo menos, Henry Miller: “Sexus”, Plexus” e “Nexus”. Podia ainda adicionar outras sugestões, mas a leitura deste monumento literário já chegaria para a Cristina não escrever “Quando chegares a casa quero que me comas contra a parede”, e, em vez desta patetice do “comer”, chamar os bois pelos nomes. É que “comer” é da família da queca e da pilinha, e de tudo o que remete a mau sexo. O que surpreende (a mim) é, não só a falta de qualidade da linguagem, que a Cristina quer picante, mas que lhe saiu só baixa e sem sal, de meia tesão, sem o obsceno, ainda que insinuado, que é a tesão toda, como a expressão de desejo quase a medo, de fantasia iniciática, pouco mais que adolescente, em clichês, como se estivesse a partir a loiça toda na expiação do motel, essa área de serviço reservada à experimentação de “coisas novas”, não exatamente novas, entenda-se, mas a estrear na prática para quem nunca as fez. E fiquei eu assim na surpresa desta descoberta da sexualidade numa moça que está a abrir as portas da meia idade. Moça ocidental, emancipada e independente, que disto tudo, ao menos, tem uma certeza:”devagar sabe melhor”. Bom, Cristina, velocidades à parte, não basta ter um Ferrari, é preciso saber guiá-lo, do contra a parede ao contra o tecto, é capaz de haver um bocado para andar… E foi tão bom, que os vizinhos acenderam um cigarro.

E, com esta qualidade de influência na opinião pública, nunca mais nos livramos dos 900 anos de recalcamentos que é a nossa História.

Retirado do Facebook | Mural de Inês Salvador

A Última Viúva de África | Carlos Vale Ferraz

Ensinar o invisível. Frases que encontramos e levamos sem a princípio sabermos porquê. Estava a preparar os textos para a contracapa e as badanas do meu próximo romance que está nas artes finais. Como resumir numa folha A4 o que me levou dois anos de escrita e resultou em quase meio milhão de caracteres? Como preparar a resposta às perguntas dos jornalistas ou dos leitores: Então, caro Carlos Vale Ferraz, do que trata este seu livrinho com o título «A última viúva de África»? Quem é esta viúva? Que viuvez é esta? O que pretende transmitir aos leitores? Como se integra este romance no conjunto da sua obra?

Em resumo, preparava a resposta à interrogação: O que anda o Carlos Vale Ferraz a querer transmitir quando escreve, sejam romances sejam artigos avulso e encontrei no jornal El País a frase «Ensinar o invisível» associada a um artigo sobre um projecto de educação intitulado «Pedagogías Invisibles» do departamento de didática da faculdade de Belas Artes da Universidade Complutense, de Madrid.

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