A pandemia e o capitalismo numérico | José Gil | Ensaio in Jornal Público

A verdade é que este período de luta pela sobrevivência física não gerou até agora nenhum sobressalto político ou espiritual, nenhuma tomada de consciência da necessidade de mudar de vida. Não gerou esperança no futuro.

A pandemia da Covid-19 pode vir a modificar radicalmente o modo de vida das sociedades actuais, pré e pós-industriais. Um factor decisivo dessa transformação serão as novas tecnologias, que virão a ganhar uma importância maior na economia e nas relações sociais. Formar-se-á um novo tipo de subjectividade, a “subjectividade digital”, já em gestação nas sociedades actuais, mas que, no futuro, se colocará no centro do novo “capitalismo numérico”, como condição essencial do seu funcionamento. Entretanto, vivemos uma crise de transição, que compromete as próprias subjectividades.

Pandemia e desterritorialização

Mesmo antes de ser declarada a quarentena em Wuhan, sete milhões de chineses saíram da cidade e espalharam-se pelo mundo. A região da Lombardia, na Itália, que mantinha voos directos para a região mais contaminada da China, foi rapidamente atingida. A França, a Alemanha, a Espanha, o Reino Unido e, muito rapidamente a Europa, foram infectados. Alastrando a todos os continentes, a pandemia cobriu o planeta em poucos meses. Uma disseminação tão célere e imprevisível deveu-se às características do novo vírus, mas só foi possível graças à deslocação intensa de indivíduos e grupos, através da rede extraordinária de comunicações e transportes que liga hoje os países uns aos outros.

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The Rolling Stones | Angie (1973)

Angie, Angie
When will those dark clouds all disappear
Angie, Angie
Where will it lead us from here
With no lovin’ in our souls
And no money in our coats
You can’t say we’re satisfied
Angie, Angie
You can’t say we never tried
Angie, you’re beautiful
But ain’t it time we say goodbye
Angie, I still love you
Remember all those nights we cried
All the dreams were held so close
Seemed to all go up in smoke
Let me whisper in your ear
Angie, Angie
Where will it lead us from here
Oh, Angie, don’t you wish
Oh your kisses still taste sweet
I hate that sadness in your eyes
But Angie
Angie
Ain’t it time we said goodbye
With no lovin’ in our…

4) – C19 Upshot | Ensaio: o capitalismo numérico | Paulo Querido

José Gil no Público // Ensaio: o capitalismo numérico A verdade é que este período de luta pela sobrevivência física não gerou até agora nenhum sobressalto político ou espiritual, nenhuma tomada de consciência da necessidade de mudar de vida. Não gerou esperança no futuro.

Sumário O filósofo José Gil assina este interessante artigo onde ensaia algumas modificações mais ou menos radicais do nosso modo de vida. Segundo ele, fator decisivo são as “novas” tecnologias, que vão aplicar-se num quadro pós-pandémico de desterritorialização e em plena crise ecológica.

O capitalismo acaba? Não, que ideia 😛 Para Gil, não escaparemos ao seu poder de “preservação, auto-regeneração e metamorfose”.

Nova subjectividade Gil antevê a formação de um novo tipo de subjetividade, a subjetividade digital, a surgir no final da atual transição que é o confinamento, e que se colocará no centro do novo “capitalismo numérico”. A Covid-19 seria o trampolim a catapultar a colectividade para um nível superior, o da sociedade digital. Em vez de progredir gradualmente, passando por fases mediadoras, a pandemia vai obrigar a um salto brutal, impondo indiscriminadamente a digitalização de todas as actividades.

Obey! Talvez a parte mais perturbadora do ensaio diz respeito ao comportamento geral. José Gil diz sem rodeios que a nova subjectividade comportará capacidades passivas de obediência voluntária e capacidades activas de funcionamento programado, características já presentes na subjectividade digital pré-pandémica.

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Querido Tiago, o que é a Felicidade? | Frederico Duarte Carvalho

Querido Tiago,

O que é a Felicidade? Um chocolate quente na sala com a chuva a cair lá fora, por exemplo? As memórias de quando fomos felizes? Li uma vez, e achei um exagero, que um estudo defende que a memória mais duradoura nas células do cérebro é a dos cheiros. Até que, um dia, senti um cheiro que me fez recuar a um tempo em que eu deveria ter três anos e percebi que sim, esse estudo é capaz de estar certo. Sou como o Woody Allen quando diz que deveríamos viver a vida ao contrário. O judeu de Nova-Iorque é da opinião de que o dinheiro da reforma deveria ser para gastarmos enquanto somos novos e, no fim, podemos morrer com um orgasmo. Falas das corridas de F1 e ainda hoje li a notícia da morte do Sterling Moss, aos 90 anos, que disse que era feliz a fazer o que gostava e, ainda por cima, lhe pagavam para isso. Como sustenta o Herman José: o dinheiro não dá felicidade, mas manda ir buscar. Contava ainda o George Best, o futebolista genial do Manchester United, que todo o dinheiro que ganhou, gastou-o em mulheres e bebida. E o que lhe sobrou, gastou-o mal gasto.

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3) – C19 Upshot | Dumped Milk, Smashed Eggs, Plowed Vegetables: Food Waste of the Pandemic | Paulo Querido

David Yaffe-Bellany e Michael Corkery no NYT // Dumped Milk, Smashed Eggs, Plowed Vegetables: Food Waste of the Pandemic With restaurants, hotels and schools closed, many of the nation’s largest farms are destroying millions of pounds of fresh goods that they can no longer sell.

Que se passa? Milhões de litros de leite, milhões de vegetais frescos, toneladas de produtos alimentares estão a ser atirados para o lixo. O artigo foca os EUA e pressupõe o efeito da paralisação forçada pela pandemia. Mas o problema é muito maior.

O modelo insustentável do desperdício Ao contrário de alguma crença, os alimentos não estão a ser atirados fora apenas porque os produtores preferem isso a dá-los a quem precisa. O que está em causa não é tanto o modelo capitalista, mas toda a complexa organização da produção alimentar. A começar pela lógica geográfica, que empurrou a produção para demasiado longe dos locais de consumo. A rede de frio e de transportes é demasiado atreita aos contratempos e às crises duráveis.

Menos vegetais em casa Os hábitos alimentares também mudam, levando os produtores a alterar planos. Por exemplo: o consumo de vegetais frescos é menor em casa do que no restaurante.

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