O assunto é sério. Alguns argumentos são risíveis. Prontus! | por Carlos Matos Gomes

O assunto é sério. Alguns argumentos são risíveis. Prontus!

Como argumento final para explicar a opção militante por um dos contendores do conflito que tem a Ucrânia como palco tenho ouvido com estupefação a frase arrasadora: Há um invasor e um invadido, um agressor e um agredido. Prontus!

Lembrei-me de um exemplo dado por um analista da narrativa que chamava  a atenção para a necessidade (elementar) de contextualizar os acontecimentos e que se interrogava sobre o que compreenderíamos da sensatez e da inteligência de alguém que limitasse a descrição do futebol, um fenómeno social complexo, a um parágrafo: Vinte e dois indivíduos, divididos em dois grupos a pontapear e a cabecear uma bola para a meter numa caixa com um fundo de rede?

Como sou ribatejano e andei na minha juventude pelos ambientes tauromáticos, de touradas, recorro a essas lembranças e imagino o que se diria se alguém reduzisse uma tourada a uma narrativa do género: No meio de uma pacífica parcela de terreno circular coberto de areia, um homem vestido de forma exótica, de meias cor-de-rosa, um fato de bailarino, com dourados, uma jaqueta com ombreiras, tendo sobre a cabeça um chapéu com a forma de um sapato executa passos de ginástica rítmica, acenando com um pano vermelho. De repente sai de uma porta um toiro enraivecido que investe contra o pacífico bailarino e atira com ele ao ar. Maldito toiro que invadiu o espaço do pacífico artista e o agrediu!

Nem uma palavra sobre quem era o bailarino do traje exótico, quem lhe pagara para ele estar ali, quem lhe alugara o espaço, nem sobre que razões trouxeram o toiro até à porta da arena, nem sobre quem pagara o bilhete para assistir e gritar olé.

Este discurso do Prontus! tem obtido grande sucesso, e tornou-se mesmo verdade oficial.

Não prevejo como vai ser este ano a critica tauromática sujeita a esta lógica do prontus, para já não falar dos comentários ao futebol. Onde incluir as fraudes financeiras, os golpes de bastidores, os agentes comissionistas, os falsos craques? 

No Natal prevejo que o grande sucesso será o antigo anúncio do chocolate em que um velhinho resume o que acontece naquela época com a narrativa: Depois veio o coelhinho e comeu-o.

Pois é, há quem se deixe comer…

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Fino

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.