O assunto é sério. Alguns argumentos são risíveis. Prontus! | por Carlos Matos Gomes

O assunto é sério. Alguns argumentos são risíveis. Prontus!

Como argumento final para explicar a opção militante por um dos contendores do conflito que tem a Ucrânia como palco tenho ouvido com estupefação a frase arrasadora: Há um invasor e um invadido, um agressor e um agredido. Prontus!

Lembrei-me de um exemplo dado por um analista da narrativa que chamava  a atenção para a necessidade (elementar) de contextualizar os acontecimentos e que se interrogava sobre o que compreenderíamos da sensatez e da inteligência de alguém que limitasse a descrição do futebol, um fenómeno social complexo, a um parágrafo: Vinte e dois indivíduos, divididos em dois grupos a pontapear e a cabecear uma bola para a meter numa caixa com um fundo de rede?

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Um texto otimista Russo perante o pessimismo na UE, sobre ela e a Rússia! | por Joffre Antonio Justino e M. K. Bhadrakumar (diplomata indiano)

Estas “guerras económico-financeiras” não serão nada fáceis de conduzir neste contexto de economia de mercado de lógica capitalista privatista mas desta feita o erro virou clamoroso!

Na realidade comecemos pela “visão do mercado” i.e. No caso marketing onde funcionam os textos como os que abaixo replico que se censurados no “lado de cá” alimentam os consumidores do “lado de lá” e vice versa sendo verdade que onde há ouro e diamantes não é o “lado de cá” mas sim o “lado de la” e desaparecida a economia-dólar renasce a economia-ouro onde a Federação Russa tira larga vantagem ( e claro a RPChina) por muitos Amsterdam’s existam no “lado de cá”.

Como não o esqueçamos neste tempo de IA e NT ainda existe a variável energia onde o “lado de lá” bate aos pontos as de natureza escuras economias do “lado de cá” mas deixemos de lado esta realidade por ora mas sendo certo que esta crise transportará para Sul o poder havido até hoje no Norte pois o Sol está mesmo a Sul !

Isto quer dizer somente que vale esperar uma larga injeção de ouro e diamantes no mercado dos “dois lados” por parte da Rússia que reduzirá enormemente o papel do mercado-dólar e o impato das estupidas sanções que na verdade esquecem que a Rússia ( e a RPChina) não são nem Cuba nem a Venezuela e o otimismo esfuziante pro guerra do “lado de cá” chega a ser ridiculo!

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Enquanto se espera pelo fim da guerra e por um acordo de paz! | por António Pinho Vargas

Enquanto se espera pelo fim da guerra e por um acordo de paz! Ao lado de uma condenação firme da invasão da Ucrânia e de uma recusa dos argumentos “sim, mas…” que tentam devolver uma responsabilidade parcial da invasão à Nato e aos EUA – na verdade têm alguma responsabilidade no incêndiar, para simplificar, mas isso, se permite elucidar um contexto ou enquadrar uma história, não pode servir para justificar – António Barreto escreve sobre os “excessos”. Transcrevo esse importante parágrafo:

“Como não podia deixar de ser, em tempos de crise como esta, não faltam os excessos. Do lado ocidental da Europa e do Atlântico, também já começaram a ouvir-se vozes detestáveis e a ver gestos insuportáveis. Proibir Dostoiévsky, Tólstoi, Pushkin, Gogol e Turguêneiev é absolutamente estúpido. Censurar Tchaikovski, Shostakovitch e Prokofiev é ignorante. Proibir as agências de informação e os canais de televisão russos, mesmo os que dependem do Governo (todos…), é evidentemente inadmissível. Sanear diretores de orquestra, cantores, instrumentistas, solistas e coristas [talvez queira dizer coralistas] russos é abdicar dos nossos valores e colocar o ocidente no mesmo plano que o Governo russo. Proibir os russos de passear só por serem russos é tão reaccionário e tão antidemocrático quanto fazem os russos dentro do seu país e se preparam para fazer na Ucrânia.” O que diz está correto, a meu ver.

Mas considerar tudo isto “excessos“ talvez seja insuficiente. Quando afirma, e bem, que proibir, censurar e sanear é “abdicar dos nossos valores e colocar o ocidente no mesmo plano que o Governo russo” uma tal evidência obriga-nos a ir mais longe. O facto de todas estas práticas resultarem de ações de decisores culturais e universidades, revela que “os nossos valores” proclamados não estão tão profundamente inseridos, arreigados, interiorizados, nas sociedades ocidentais como seria suposto. É um sinal preocupante do falhanço desses valores justamente onde eles deviam existir com maior firmeza e convicção.

Retirado do facebook | Mural de António Pinho Vargas

A GUERRA DAS PAIXÕES | por Viriato Soromenho Marques | Opinião / DN

Há muitos anos, numa biblioteca da Berlim ainda dividida, perdi a pouca inocência que ainda me restava acerca da eventual superior capacidade que os intelectuais teriam – em comparação com a maioria esmagadora das pessoas que não são pagas para pensar criticamente – de, perante uma situação extrema, manter a capacidade de análise para a qual foram educados e treinados.

Consultando revistas filosóficas, alemãs e francesas, publicadas na I Guerra Mundial, surpreendi algumas antigas e futuras vedetas filosóficas, das duas margens do Reno, a juntarem as suas penas agressivas ao esforço bélico dos seus exércitos, chegando mesmo a dar crédito à propaganda mais descarada que, como estamos outra vez a recordar com a guerra na Ucrânia, consegue ser uma arma de destruição maciça, nesse campo de batalha onde se ganha e perde a adesão dos espíritos.

A invasão russa da Ucrânia provocou uma tempestade emocional nalguns dos nossos comentadores da imprensa e do audiovisual, que está a atingir os limites da decência.

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Os militares e a análise da guerra no espaço público | Carlos de Matos Gomes

Esta guerra na Ucrânia é como todas a outras. É um facto político recorrente. Pode ser analisado recorrendo a métodos racionais ou emocionais. Para os militares esta guerra é analisada recorrendo à racionalidade. Qual é o objetivo da guerra: «Destruir o inimigo ou retirar-lhe a vontade de combater» (Clausewitz — A Guerra). Quando uma parte destrói o inimigo a guerra termina com uma rendição; quando uma parte entende que é mais ruinoso jogar no tudo ou nada, que perdeu o ânimo para combater a guerra termina por negociação. 

Os militares reconhecem a ineficácia de insultar os contendores, exceto para os implicados no fragor do combate e da batalha, como escape das ansiedades. Os militares também sabem que a análise de uma guerra não depende da bondade e ou maldade dos propósitos dos contendores, mas do seu potencial, o que inclui equipamento, treino, comando e combatividade. Os militares sabem que o resultado das guerras entre Atenas e Esparta, das invasões romanas, napoleónicas e nazis, a batalha de Trafalgar, ou de Lepanto, a ocupação das Américas e de África não foi determinado pela moral, nem pelos princípios da guerra justa, já de si um conceito bastante difuso, que hoje surge associado a um outro que é o do Direito Internacional, aplicado segundo as conveniências e os preconceitos, de forma amoral, porque hipócrita. 

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UCRÂNIA – UMA GUERRA PREVENTIVA | por GENERAL PEZARAT CORREIA

À luz da polemologia, a teoria dos conflitos, a intervenção militar da Rússia na Ucrânia configura, sem dúvida, uma guerra de agressão preventiva e, como tal, ilegítima. É um “privilégio” que está reservado ao forte contra o fraco, em particular às grandes potências que, por via do injusto e antidemocrático poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, disfrutam de um estatuto de impunidade. Não se deve confundir com a guerra preemptiva, ou por antecipação. Como muito bem diz Joseph S. Nye Jr, «Existe uma diferença entre as guerras por antecipação e as guerras preventivas. Um ataque por antecipação ocorre quando a guerra está iminente. Uma guerra preventiva ocorre quando os políticos acreditam meramente que é melhor a guerra agora do que mais tarde.» (Compreender os conflitos internacionais – uma introdução à teoria e à história, Gradiva, Lisboa, 2002, p. 188). A guerra preventiva é, conforme a doutrina emanada pela ONU, uma agressão, ao contrário da guerra preemptiva considerada de legítima defesa. «O direito internacional sempre proibiu sem ambiguidade os ataques preventivos. A justificação atual dos ataques e das guerras preventivas conduzidas em nome da segurança sabota os fundamentos da soberania e torna as fronteiras nacionais cada vez mais obsoletas.» (Michael Hardt et Antonio Negri, ‘Multitude – guerre et démocratie à l’âge de l’empire’, La Découverte, Paris, 2004, p. 37)

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