O FUTURO DA UCRÂNIA | por António Ribeiro

Repudio totalmente os ataques das forças armadas russas a complexos residenciais ucranianos e a inúmeras nfraestruturas e bairros residenciais civis, sobretudo no Centro e Ocidente da Ucrânia.

Quem iniciou a invasão em nome da recuperação do Donbass e Lugansk, no Leste, etno-russofilos, não tinha que destruir a maior parte do país. Essa  estratégia de amachucar os civis para impor o medo e a submissão eu pensava estar acabada, pelo menos na Europa.

Tal não significa que a Federação Russa não tenha algumas razões legítimas para a ofensiva de 24 de Fevereiro.

A Ucrânia pode ser UE mas não pode, nem precisa, de ser NATO. A isso parece que já acedeu.

Vivemos melhor sem a Ucrânia na NATO, porque o imenso país é um vespeiro. É legitimo que não sejamos arrastados para um confronto nuclear por qualquer incidente na Ucrânia. O próprio poder de Zelenskyi é fruto de um golpe de Estado congeminado pelos neocons americanos. Não temos que tramar a Europa inteira por causa de lutas políticas e ideológicas que acontecem nos EUA.

Os americanos não podem fazer uma guerra por procuração na Europa, sendo que eles vão faturar em todas as frentes. Vendem armamento sofisticado e caro. Passam a alimentar a Europa de gás e petróleo a preços hiper-inflacionados. No final, entrarão com as suas empresas no processo de reconstrução da Ucrânia destruída. Portanto, vão ganhar bastante e sem risco.

Quem vai pagar a bilionária conta final? A Europa, pois claro, mais a Ucrânia, com os seus cereais.

Mas a Ucrânia tem de conservar Odessa, pelo menos, e bater-se pela internacionalização de Mariupol. Tem de ter acesso ao Mar de Azov e ao Mar Negro.

Quanto à Crimeia, esqueçam. Aquilo foi russo durante séculos e os habitantes falam russo

António Ribeiro | in Facebook

Conferência com José Pepe Mujica | 24 de set. de 2014

O presidente uruguaio, José Pepe Mujica, participou da conferência de abertura do Seminário Internacional Universidade, Sociedade, Estado, que aconteceu na UFRGS nos dias 10 e 11 de setembro. Na conferência, Mujica fala sobre paz, liberdade, solidariedade e felicidade, temas abordados em seus discursos, quando ataca a cultura consumista e a civilização do desperdício, e defende o respeito à vida.

Mujica sobre a guerra na Ucrânia e o “colonialismo intelectual” | Pepe Mujica

Em sua videocoluna para a DW, Pepe Mujica fala sobre a guerra na Ucrânia e acusa o Ocidente de colonialismo intelectual devido à repercussão desigual do conflito em solo europeu em detrimento de guerras em regiões periféricas. “O que acontece na Europa é muito mais humano do que o que acontece em outros lugares. Por isso segue existindo um colonialismo intelectual que nos subordina.”

Mujica aponta para o impacto global causado pela guerra na Ucrânia e como países que estão muito distantes e não têm ingerência nenhuma sobre o conflito devem sofrer baques econômicos e falências. “A Europa, o mundo, os EUA, não pensaram nas medidas que tomam, nas consequências que têm para muitas pessoas”, disse Mujica. “Quando poderão a Europa e o mundo olhar para o mundo inteiro pelo qual são responsáveis?”

Como a Nato venceu a guerra sem um tiro | por Francisco Louçã | in Jornal Expresso 2/04/2022

No verão passado, terminou em desastre a única operação militar da Nato deste século, a primeira evocação do temido artigo 5º do seu tratado. As forças norte-americanas retiraram-se e os 300 mil soldados que tinham armado, um dos maiores exércitos do mundo, debandaram em poucos dias e entregaram o poder aos talibãs.

Centenas de cidadãos norte-americanos foram deixados para trás na precipitação da fuga. A Nato atingiu o seu ponto mais baixo. Poucos meses depois, a organização é já a vencedora da guerra da Ucrânia, como quer que prossiga a destruição do país. A sua vitória é total. É política e comunicacional, como é militar e estratégica, dominando adversários e aliados, pois a Nato passou a ser vista como a única garantia da Europa, enquanto Putin, que desencadeou a invasão para trucidar um país soberano em nome da saudade do império czarista, se tornou o homem mais detestado do mundo.

 Tem sido analisada a estratégia do Kremlin, que procura afirmar uma potência global, embora sem recursos para tal. A Rússia tem um PIB dez vezes inferior ao da China (há vinte anos era equivalente) e, se dispõe do segundo exército do mundo, falta-lhe capacidade para determinar o mapa europeu. Em contraste, a estratégia da Casa Branca não tem sido discutida, excepto nos próprios EUA, e talvez seja Thomas Friedman, um editorialista conservador do New York Times, quem tem estado mais atento a esse percurso, em que não há inocentes.

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A coragem está na paz, não nos falsos heroísmos | por Miguel Sousa Tavares in Jornal Expresso de 11/03/2022

A pergunta que se coloca, então, é esta: porque não aceitou Zelensky negociar antes, quando era isto justamente que a Rússia propunha? Porque não o fez para evitar a invasão do seu país e não ter de assistir a tantos mortos, tanta destruição, tantas famílias em fuga?

O herói não é, não pode ser nunca, quem invade o vizinho mais fraco à míngua de outros argumentos e leva a morte, a destruição e o terror a terra alheia. Não pode ser, pois, Vladimir Putin, que diz que russos e ucranianos são um mesmo povo e que, todavia, bombardeia e põe em fuga esse “mesmo povo”.

As razões que tinha ou que julgava ter por força da história ou do direito perdeu-as por força dos canhões e dos tanques. E o resto fazem-no as imagens que todos os dias chegam às casas do mundo inteiro: porque se qualquer guerra tem como consequência cidades bombardeadas, crianças e velhos mortos ou em fuga, esta tem a diferença de ser filmada de perto e a cores, dia a dia e à medida que vai acontecendo.

Mas o herói também não é o celebrado Volodymyr Zelensky, com a sua T-shirt militar e os seus discursos “patrióticos”, usando com mestria os seus dotes de actor e com indisfarçada vaidade (e sucesso, dos Comuns ao Facebook) a sua veleidade de ser tomado pelo Churchill do século XXI. Até agora, enquanto as mulheres e crianças fogem e os homens, civis e militares, tentam deter as tropas russas, ele, entrincheirado no seu bunker, a fazer tweets e vídeos e a apelar à terceira guerra mundial, tem sido um herói à medida destes tempos sem heróis verdadeiros e com heróis instantâneos. Mas, a menos que muito me engane, não me espantaria que, se a guerra for para continuar e os russos entrarem em Kiev, o herói Zelensky será capaz de desiludir muitos corações. Não é Churchill quem quer.

Zelensky parece agora finalmente disposto a negociar com Putin e a negociação, se não foi entretanto cancelada, irá já a nível de ministros dos Estrangeiros.

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