Natal 2020 | Frederico Lourenço

Quem leu o famoso romance “Brideshead Revisited” de Evelyn Waugh lembrar-se-á de uma conversa entre Charles e Sebastian sobre a fé, em que Charles se afirma não-crente e exprime a sua estranheza perante o facto de o amigo acreditar na lenda do Natal (com Reis Magos e burrinho junto da manjedoura). Diz Charles: “but my dear Sebastian, you can’t seriously believe it all… I mean about Christmas and the star and the three kings and the ox and the ass”. Ao que Sebastian responde: “oh yes, I believe that. It’s a lovely idea”.

Neste ano de pandemia, tão dilacerante para milhões no mundo (e que nos trouxe em Novembro a notícia deprimente de que Donald Trump obteve mais 11 milhões de votos do que em 2016 e, em Dezembro, mutações super contagiosas do coronavírus), a “lovely idea” do Natal é mais precisa do que nunca, capaz de consolar pessoas religiosas e pessoas sem nenhuma religião. Na verdade, não preciso de acreditar que o menino deitado na manjedoura é filho de Deus para reconhecer a espantosa beleza da ideia de que o filho de Deus pudesse estar deitado num estábulo de animais, calmamente observado por um burro e por um boi. Também não preciso de acreditar na virgindade da mãe que o deu à luz para achar “a lovely idea” a noção de que uma virgem pudesse engravidar e parir uma criança.

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Natal | A origem e o significado da comemoração | Paulo Nogueira in “Histórias com História”

Contar a história e as origens do Natal, é algo controverso, e discutível por muitos entendidos assim como estudiosos da matéria, no entanto, e segundo a tradição da religião católica, é comemorado anualmente em 25 de dezembro. Já nos países eslavos e ortodoxos cujos calendários eram baseados no calendário juliano, o Natal é comemorado no dia 7 de janeiro. A data é o centro das festas de fim de ano e no cristianismo, o marco inicial do ciclo de Natal que dura 12 dias, pois segundo a lenda, este foi o tempo que levou para os três reis Magos chegarem até a cidade de Belém e entregarem os presentes (ouro, mirra e incenso) ao menino Jesus.

Originalmente destinada a celebrar o nascimento do Deus Sol no solstício de inverno, na Roma antiga, o 25 de dezembro era a data em que os romanos comemoravam o início do inverno. A Escandinávia pagã comemorava um festival de inverno chamado Yule, realizado do final de dezembro ao período de início do janeiro. Como o Norte da Europa foi a última parte do continente a ser cristianizada, as suas tradições pagãs tinham uma grande influência sobre o Natal. Os escandinavos continuam a chamar ao Natal  Jul. Portanto, acredita-se que haja uma relação deste fato com a oficialização da comemoração do Natal e por volta do séc. III, para estimular a conversão dos povos pagãos sob o domínio do império romano, a igreja Católica passou a comemorar o nascimento de Jesus da Nazaré neste dia. Esta comemoração começou em Roma, enquanto no cristianismo oriental o nascimento de Jesus já era celebrado em conexão com a Epifania (revelação ou a primeira aparição de Jesus aos reis magos), em 6 de janeiro.
A comemoração em 25 de dezembro foi importada para o oriente mais tarde, por João Crisóstomo já no final do séc. IV provavelmente, em 388, e em Alexandria, somente no século seguinte. Mesmo no ocidente, a celebração da Natividade de Jesus em 6 de janeiro parece ter continuado até depois de 380. No ano de 350 o Papa Júlio I, levou a efeito uma investigação pormenorizada, fazendo proclamar o dia 25 de dezembro como data oficial e o Imperador Justiniano em 529 declarou-o feriado nacional. Do ponto de vista cronológico, o Natal é uma data de grande importância para o Ocidente, pois marca o ano 1 da nossa História.

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