Uma viagem à índia – 13 | Gonçalo M. Tavares by Susana Leite

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O tédio e a melancolia contemporâneos juntaram-se nesta viagem à Índia para caminharem em direção à explicação sobre o que é a viagem. A contemporaneidade dá justificação a tudo: ao bom, ao mau, e a esse ponto zero, nulo e justo, o tédio, que consome o homem. As paixões, os homicídios e os sentimentos momentaneamente incontroláveis vivem acesos no íntimo do humano Bloom, mas podem ser aplacadas. Bloom espera conseguir manter-se sempre em controlo delas. Mas reproduzem-se até à exaustão do auto-controlo, o limite, que é o regresso. Esse percurso é acompanhado da moral, ou da procura dela: e a procura de uma ética é um itinerário que pode paradoxalmente, matar. Não é, por isso, paradoxal que as regras de substituição da ética individual, como a moral religiosa, matem uma vida de experiências limites. Isso já é sabido, pois a sociedade também as criou como mecanismo de auto-regulação. Mas é paradoxal que depois de se terem construído, descoberto, analisado, melhorado as religiões do mundo, o séc. XIX ainda esteja consumido pela questão da moral. Ela parece ter de acompanhar-nos.

“We need an imaginative approach to redesigning a more complete travel experience.” Alain de Botton, Lufthansa Magazin (12/10). Embora o autor se refira à experiência física e real da viagem, a ficção de Tavares vai-lhe ao encontro: o tema da Índia, o guru e a meditação, o desapego e a procura de desidentificação com o ego na procura de si fazem parte da epopeia. E que parte desempenham nesse percurso o tédio e a forte melancolia? Que mais é a vida de um contemporâneo senão um pouco de tudo isto?

http://pnetliteratura.pt/cronica.asp?id=3671 … (FONTE)

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