“O sucesso da minha carreira permite-me ponderar ser candidato à liderança do PSD” | Ribau Esteves

Reeleito presidente da Câmara de Aveiro para um terceiro mandato, Ribau Esteves defende que o PSD deve “puxar pela sua costela popular” e assume que o partido deve estar disponível para fazer reformas com o PS. | Sofia Rodrigues e Manuela Pires( Rádio Renascença)

17 de Fevereiro de 2022

https://www.publico.pt/2022/02/17/politica/entrevista/sucesso-carreira-permiteme-ponderar-candidato-lideranca-1995761

Um livro por amor a Clarice Lispector | Hugo  Almeida | por Adelto Gonçalves

                                                 I

Se os grandes romancistas ou contistas projetam nova luz sobre os predecessores que lhes apontaram os caminhos e foram nada mais que ávidos leitores, então, a fronteira entre o vivido e o lido, praticamente, não existe e, portanto, procurá-la seria vã tarefa, como afirma o hispanista norte-americano Stephen Gilman (1917-1986) em Galdós and the Art of the European Novel: 1867-1887 (Princeton, 1981). Mais: que leitor, por mais desmemoriado que seja, não constatou nas páginas de uma novela gestos e palavras de outras?  

Afinal, como observou a filósofa e crítica literária búlgara-francesa Julia Kristeva (1941) no ensaio “Le mot, le dialogue et le roman”, escrito em 1966, “todo texto é construído como mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de outro texto. E no lugar da noção de intersubjetividade o que se instala é a intertextualidade, e a linguagem poética é lida, ao menos, como dupla”. Nesse caso, o texto passa a ser um “diálogo de várias escrituras”, como define Julia Kristeva.

Estas observações foram extraídas de Entre lo Uno y lo Diverso (introducción a la Literatura Comparada – ayer y hoy (Barcelona, Tusquets Editores, 2005), do acadêmico e escritor espanhol Claudio Guillén (1924-2007), e vêm aqui a propósito de Feliz aniversário, Clarice: contos inspirados em Laços de família (Belo Horizonte, Autêntica Editora, 2020), organizado pelo jornalista e escritor Hugo Almeida e que reúne 27 contos escritos por autores tanto novatos como experientes a partir da leitura de um dos contos que integram o livro Laços de família, de Clarice Lispector (1920-1977), publicado em 1960.

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Porquê a guerra? | João Fraga Oliveira

Isso acontece desde que temos consciência do mundo e sociedade em que vivemos mas o que é certo é que as circunstâncias actuais tornam mais relevante esta pergunta que foi mote de correspondência entre Einstein e Freud, dois convictos, activos e eminentes pacifistas.

“Existe alguma forma de livrar a Humanidade da ameaça de guerra?”.

É assim que Einstein, de Potsdam, na Alemanha, numa carta de 30/07/1932, interpela Freud.

Reconhecendo que “o objectivo habitual do seu pensamento” (a Física) “não lhe permite uma compreensão interna das obscuras regiões da vontade e do sentimento humano”, propõe a Freud a “elucidação do problema, mediante o auxílio do seu profundo conhecimento da vida instintiva do Homem”.

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A China é um exemplo da americanização da desigualdade | Francisco Louçã | in no Expresso

Já todos foram felizes em Davos. Era uma parada de estrelas, estadistas, empresários, influencers, tecnólogos, ocasionalmente alguns produtores de blockbusters, toda a cultura do pop-capitalismo contemporâneo se juntava uma vez por ano na elegante estância suíça para dar os seus sinais ao mercado ansioso. No ano passado, a pandemia arrasou a festa e transferiu-a para o mundo virtual, o que faz perder o glamour das flutes de champagne e dos encontros de negócios. Apesar dessa tragédia, houve pelo menos um dos frequentadores, Marc Benioff, um bilionário que fundou a Salesforce, uma empresa de software, que então conseguiu resumir a autocongratulação dos vencedores da crise: “temos de o dizer, os CEOs foram definitivamente os heróis de 2020”. Talvez essa saga explique como se vão definindo algumas das mudanças surpreendentes do nosso mundo.

Os heróis da crise

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“Não encontrei Deus no universo, mas Einstein sim, na perfeição e na beleza de suas leis” | Eduardo Battaner López in Los Físicos y Dios | in El País

O astrofísico espanhol Eduardo Battaner analisa num livro a relação dos físicos com as crenças religiosas ao longo da história.

Eduardo Battaner López (Burgos, 1945) não tem procurado Deus na física, mas físicos que o fizeram ao longo da história e aqueles que negaram sua existência —algo que, como dizia Paul Dirac, é um dos problemas fundamentais desta ciência. Battaner, astrofísico formado na Espanha e no prestigioso Instituto Max Planck da Alemanha, é professor emérito da Universidade de Granada e publicou Los Físicos y Dios (sem edição em português), que analisa a relação desses buscadores de respostas ao longo da história.

Pergunta. Por que Los Físicos y Dios?

Resposta. Os grandes pesquisadores têm trabalhado nesse horizonte que divide o conhecido e o desconhecido. Portanto, têm o privilégio de observar a natureza como isso nunca antes havia sido feito. Sua interpretação da natureza tem implicações na filosofia e na teologia. Por isso, muita gente quer saber qual era o pensamento religioso dos grandes cientistas e, portanto, dos grandes físicos. Mas é preciso dizer que neste livro não há nenhuma intenção de propaganda doutrinária. Não se defende nenhuma posição religiosa concreta. Nem se defende o teísmo ou o ateísmo. Fala-se da atitude dos físicos diante da ideia de Deus com base em suas próprias palavras. Este livro tem apenas um enfoque histórico.

P. Por que essa preocupação entre os físicos?

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O Fim da Civilização | Gustave Flaubert, in ‘Memória de um Louco’

Quando se extinguirá esta sociedade corrompida por todas as devassidões, devassidões de espírito, de corpo e de alma? Quando morrer esse vampiro mentiroso e hipócrita a que se chama civilização, haverá sem dúvida alegria sobre a terra; abandonar-se-á o manto real, o ceptro, os diamantes, o palácio em ruínas, a cidade a desmoronar-se, para se ir ao encontro da égua e da loba.

Depois de ter passado a vida nos palácios e gasto os pés nas lajes das grandes cidades, o homem irá morrer nos bosques. A terra estará ressequida pelos incêncios que a devastaram e coberta pela poeira dos combates; o sopro da desolação que passou sobre os homens terá passado sobre ela e só dará frutos amargos e rosas com espinhos, e as raças extinguir-se-ão no berço, como as plantas fustigadas pelos ventos, que morrem antes de ter florido.

Porque tudo tem de acabar e a terra, de tanto ser pisada, tem de gastar-se; porque a imensidão deve acabar por cansar-se desse grão de poeira que faz tanto alarido e perturba a majestade do nada. De tanto passar de mãos e de corromper, o outro esgotar-se-á; este vapor de sangue abrandará, o palácio desmoronar-se-á sob o peso das riquezas que oculta, a orgia cessará e nós despertaremos.

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As Mulheres São Mais Fortes | José Saramago

Para começar, gosto das mulheres. Acho que elas são mais fortes, mais sensíveis e que têm mais bom senso que os homens. Nem todas as mulheres do mundo são assim, mas digamos que é mais fácil encontrar qualidades humanas nelas do que no género masculino. Todos os poderes políticos, económicos, militares são assunto de homens. Durante séculos, a mulher teve de pedir autorização ao seu marido ou ao seu pai para fazer fosse o que fosse. Como é que pudemos viver assim tanto tempo condenando metade da humanidade à subordinação e à humilhação?

José Saramago, in ‘L’Orient le Jour (2007)’

Retirado do Facebook | Mural de Julio Machado Vaz