A teologia de Jesus | por JOSÉ BRISSOS-LINO in Revista Visão 16.02.22 | sobre texto de Viriato Soromenho Marques

Se um dia boa parte dos teólogos e das igrejas cristãs tiverem a coragem de se centrar efectivamente no discurso e obra do Mestre de Nazaré, deixando de lado o corpo das respectivas tradições, terão um choque ao verificar quão distantes se encontram daquilo a que podemos chamar a teologia de Jesus.

Grande parte das atuais controvérsias no campo religioso cristão, mas também das tensões entre este e o mundo secular relacionam-se com aquilo que S. Paulo denomina “preceitos e doutrinas de homens”: “As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens. As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne” (Colossenses 2:22,23). Com efeito, o que os textos neotestamentários nos fornecem relativamente tanto à palavra como à ação do Cristo dos evangelhos, parece ir em contramão com a pregação, os preceitos e a praxis do cristianismo como o conhecemos, nas suas diferentes versões.

Em obra recentemente publicada (“A Teologia de Jesus: Tudo o que o Mestre falou”, Lisboa: Ed. Univ. Lusófonas, 2021) e que Viriato Soromenho Marques me deu a honra de prefaciar, procurei abordar a questão, com apoio de um esforçado colaborador nesta investigação (Vitor Rafael).

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VÊM AÍ OS RUSSOS | Paulo Sande

São tantas e tão variegadas as opiniões sobre o iminente ataque da Rússia à Ucrânia, que confesso a minha dificuldade em contribuir. Mas estou desde o início céptico sobre a possibilidade de um ataque – e suspeito que a sua iminência não passa de um mero recurso de intimação no âmbito de um processo negocial que é a um tempo político, diplomático, estratégico e económico. No fundo, é mais uma questão de eminência do que de iminência.

Permitam-me uma breve e limitada análise.

A GEOPOLÍTICA E A UCRÂNIA

O país onde a civilização russa (“Rus”) nasceu é hoje um nó geopolítico sobre o qual giram os interesses opostos de dois pólos de poder mundial – os EUA e aliados, a Rússia e aliados. De facto, a Ucrânia é um corredor entre a Europa ocidental e a Ásia, através do qual a Rússia faz passar uma parte importante da energia que exporta.

Apesar das muitas narrativas divergentes, trata-se de um Estado frágil, com problemas demográficos crescentes, cuja população se divide entre russófonos, a sul e leste, e ucranófonos, a norte, sem que haja uma correspondência perfeita entre russófonos e russófilos e entre ucranófonos e russófobos. Mas a tendência é essa, o que permitiu a fácil e quase não contestada internamente anexação da Crimeia.

A divisão tem mais a ver com o idioma usado, do que com a pertença étnica, que é a mesma.

E foi este o país que, ao anunciar a disponibilidade para considerar a adesão à NATO, despoletou a presente crise, como o anúncio da celebração de um acordo comercial aprofundado com a União Europeia em 2014 levou à invasão da Crimeia.

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