Rússia / Ucrânia | “Devem ouvir-se igualmente ambas as partes” – (Demóstones, in Oração da Coroa, 330 a.c.) | Carlos Esperança

O conflito ucraniano traz-me à memória os dois anos de guerra colonial, o sofrimento de quem participou, os mortos e estropiados de uma guerra injusta, de um e outro lado do conflito.

Poucos desejarão tanto a paz como os que foram obrigados a fazer a guerra.

Os próprios soldados russos se hão de interrogar por que motivo estão ali, já que os ucranianos têm a defesa dos seus haveres e vidas por que lutar, sem se interrogarem se teria sido possível evitar a destruição e o sofrimento de que os ucranianos são as maiores vítimas.

Quantos soldados alemães não terão sentido a inutilidade e injustiça da guerra para que o ditador nazi os enviou? Na guerra há quem ganhe, nunca os que servem de carne para canhão. E, neste caso, é todo o povo ucraniano, incluindo russos, a sofrer a demência belicista de Putin e da Nato.

O sofrimento do povo mártir da Ucrânia impede-me de ir mais longe na denúncia do seu governo, na condenação das duas partes, na análise dos extremismos que está a gerar, da manipulação da informação e de quem empurrou uns e outros para o conflito.

O respeito pelos mortos, dos dois lados, leva-me a refletir sobre o tema que me dilacera, porque, sem saber quando e como acabará a guerra, já foram vencidos os ucranianos, os russos, a UE, a paz e a compaixão.

Sentimos a negrura dos dias que hão de vir, enquanto nos comovemos com o sofrimento de quem foge, e de quem não pôde, sem precisar de encenações que matam a liberdade, a verdade e o espírito crítico.

A minha geração, nascida durante a guerra (1939/45), nunca ouvira a palavra “nuclear” com tão fortes arrepios e tanta desconfiança nos que decidem o destino da Humanidade.

A identidade ucraniana está a ser criada de forma sangrenta, cerzindo a sua diversidade étnica, religiosa e histórica nas fronteiras atuais. Com a invasão, Putin veio proporcionar à Ucrânia aquilo que lhe negava.

Não me conformo com a decisão do Conselho Europeu, na passada terça-feira, quando baniu as cadeias de informação russas do espaço mediático ocidental, à semelhança do que faz a Rússia. Quando as democracias não respeitam o pluralismo, incluindo os que são contra a democracia, entram no autoritarismo que as corrói.

Termino com uma frase do artigo habitual de Pacheco Pereira, ontem, no Público: ««Sim, a extrema-direita ucraniana é nazi, do mesmo tipo da extrema-direita russa.». Basta ver o critério policial racista para o embarque de quem foge da Ucrânia.

Retirado do Facebook | Mural de  Carlos Esperança

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.