Nova Teoria do Sebastianismo

Nova Teoria do SebastianismoNova Teoria do Sebastianismo é um ensaio que reflecte sobre o mito sebastianista como alucinação racionalmente falsa mas sentimentalmente verdadeira e nos dá a conhecer os autores que trataram o tema, desde Bandarra e Padre António Vieira até aos filósofos contemporâneos, passando por Fernando Pessoa, António Quadros, António Sérgio e Eduardo Lourenço.

O presente título insere-se numa colecção na qual foram já publicados dois outros títulos de Miguel Real: Nova Teoria do Mal e Nova Teoria da Felicidade enquanto propostas para uma ética do século XXI.

Nas livrarias a 18 de Março

Citando Ana María Matute

Olhou-me pela primeira vez, com os seus grandes olhos azuis, parecidos ou talvez iguais aos do Unicórnio, e acrescentou: «Deve ter outra linguagem.» Com outra linguagem, e sabendo que as flores murchas podem ressuscitar de noite, e também contam as suas histórias as chávenas, os garfos, as agulhas de pontear e as frigideiras, passava eu, no meu barquinho de papel de jornal, até à gruta debaixo do alto e incómodo sofá, onde me permitiam ver, ouvir e cheirar todas aquelas criaturas, que fingiam não me ver mas que gostavam de mim.

Ana María Matute, escritora Catalã editada pela Planeta (excerto de Paraíso Inabitado)

“Ana María Matute enche-me de orgulho como mulher, como escritora, como exemplo de conhecimento, de experiência, de sabedoria, de humanidade e celebro-a em todas as suas vertentes e capacidades. Exalto-a e elevo-a. Desejo-lhe, com toda a admiração e a par desta complexa e temporária passagem pelo planeta Terra, muita saúde e as maiores felicidades em tudo, na sua condição humana e na sua literatura.” Cristina Carvalho

A Mulher e a Literatura – Encontro

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Três escritoras e uma editora. Esta é a proposta doMuito cá de casa para este sábado, dia 8, dia Internacional da Mulher.

Em As Mulheres da Fonte NovaAlice Brito, oferece-nos o retrato de uma cidade conserveira a trabalhar para encher a despensa de uma europa à beira da guerra. Os homens no mar e as mulheres nas fábricas de conservas. Uma indústria de mulheres cheia de artes e segredos, cheia de lógicas próprias, perícias únicas e muita pulhice patronal. A riqueza fica nos bolsos dos patrões, a cidade e o país desperdiçam a oportunidade de melhorar o nível de vida das populações. As mulheres são operárias, donas de casa e mães. Pede-se-lhes ainda que sejam honradas. Os homens, sem direitos de cidadania, têm a autoridade definitiva sobre as mulheres e sobre elas impõem o que a sua educação machista lhes ensinou.
Ao longo do livro, ocasionalmente, uma voz desponta, uma voz contemporânea ao ato da escrita, ao nosso momento de leitura, que interroga a autora. Uma voz crítica, que vigia e chama a atenção: “Já disseste isso lá atrás…” Uma voz de mulher. Existe na escrita no feminino uma maior acutilância? Uma apurada consciência de combate?

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Cristina Carvalho na Culsete

O universo da escrita de Cristina Carvalho move-se entre o fantástico e o romance de narrativa mais clássica. O conto marca também uma presença assídua, quer para adultos como na sua participação na coletânea Contos Capitais, quer para um público infanto-juvenil como em Tarde FantásticaAna de Londres, antes de ser romance, foi publicado como conto.

Dentro do fantástico, Lusco-Fusco é um breviário dos elementais e O Gato de Upsala a descoberta da idade adulta. Agneta e Elvis partem com a ilusão ver o Vasa, o maior navio de guerra até então construído e, quem sabe, subir bordo e conhecer terras distantes. O Vasa afundar-se-á diante dos seus olhos sem lhes levar o sonho de uma vida a dois que então começava. Homem e mulher completando-se como nas histórias mais antigas.

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Rómulo de Carvalho e Seu Amigo António Gedeão

Documentário realizado em 1996 sobre o professor de química e também poeta – Rómulo de Carvalho / António Gedeão – realizado por altura do seu 90º aniversário.

Nascido em Lisboa, no Bairro da Sé, Rómulo de Carvalho fez o curso de Físico-Químicas na Faculdade de Ciências do Porto e foi depois professor do ensino secundário nos Liceus Camões e Pedro Nunes.

Divulgador da ciência, só tardiamente publicou o seu primeiro livro de poesia, mas alguns poemas atingiram grande notoriedade, nomeadamente “Pedra Filosofal”, “Lágrima de Preta” e “Calçada de Carriche”.

Quarta-feira, 19 de fevereiro, às 21:30, na RTP Memória ou quando quiser no RTP Play

O Botequim da Liberdade

botequimEra uma mulher inigualável. Nos caprichos, nos excessos, nas iras, nas premonições, nos exibicionismos, na sedução, na coragem, na esperança. Cantava, dançava, declamava; improvisava, discursava, polemizava como poucos entre nós alguma vez o fizeram, o somaram.
(Botequim da Liberdade, de Fernando Dacosta)

Natália Correia surge aqui num retrato de corpo inteiro, com seu lado inquieto a vincar estas páginas. O Botequim foi local de gente assídua e, provavelmente, com o Procópio das últimas tertúlias de Lisboa. Local de comunhão com pessoas de espírito e ousadia porque se deve evitar a cultura desvivenciada, pois só quando se está muito na vida se pode transmiti-la aos outros.

Ler mais no Acrítico – leituras dispersas.

MERCADORES DE GENTE | Cecília Prada

Alberto da Costa e Silva, diplomata,poeta e africanólogo, deve ser figura ainda lembrada em Portugal, onde foi embaixador do Brasil, e também pelos seus estudos das ex-colonias portuguêsas na África e do relacionamento entre as várias literaturas lusófonas. Um de seus mais interessantes livros é  Francisco Félix de Souza, mercador de escravos,  (2004), onde mostra um personagem altamente interessante: um mestiço baiano que tendo chegado à África sem um tostão, em pouco tempo se tornou um  dos maiores mercadores de escravos da história e um potentado africano, com o título de “chachá” ou vice-rei de Ajudá. Chegou a ser considerado, na sua época (nascido em 1754,ou em 1768, e morto em 1849), como um dos três homens mais ricos do mundo. Suas letras eram honradas em todas as praças da Europa, e até mesmo sua palavra era tida como garantia suficiente de vultosas transações. O que é mais interessante nessa figura, porém, é que, mesmo exercendo uma das mais cruéis e repugnantes profissões, conseguiu granjear, pela sua habilidade, inteligência  e carisma, a estima e o apreço tanto de brancos como de negros, sendo tido até hoje como um grande benfeitor da comunidade “brasileira” do Daomé. O vice-cônsul britânico naquele país, John Duncan, ainda que lamentando a espécie de comércio feito por Francisco Félix, dizia que ele era “o homem mais humano e generoso das costas da África”– contribuía para essa fama, certamente, o esplendor com que Francisco recebia, em sua enorme mansão, entre baixelas de ouro maciço, louças monogramadas, pratas e cristais, acepipes e vinhos caros, os oficiais de marinha de todas as nacionalidades, inclusive os ingleses que, cumprindo tratados e determinações de sua Corte, davam caça aos navios negreiros do próprio “chachá”.

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Genealogias da Cultura | Luís Carmelo | Lançamento dia 12 de Dezembro, 19 horas no Corte Inglês

capa_Cultura_3DbSINOPSE

“Genealogias da Cultura pretende ser uma contribuição para o debate sobre o que é – e o que significa hoje – a cultura. Distanciada dos limites da história ou da antropologia, a obra centra-se sobretudo na área da significação ou, mais canonicamente, da semiótica. Partindo do princípio de que a cultura é sempre uma construção, o livro aborda diversos níveis de tematização do mundo, integrando em dez capítulos matérias tão diversas como as escatologias, as utopias, os programas modernos, a fragmentação das narrativas do nosso dia-a-dia, o culto do património, a crise, o poder das conotações ou ainda o papel da instantaneidade tecnológica na era da rede. Genealogias da Cultura procura levar a cabo um diagnóstico das várias camadas que se organizam na substância de conteúdo que todos partilhamos, numa perspectiva que não é imune à hibridez que cada vez mais se entretece entre local/territorial e global. Uma obra que tenta dinamicamente apurar aquilo que continuamos a designar por “cultura”, muitas vezes como se fosse uma coisa dada, óbvia e definitiva.”

António Guerreiro | “Gonçalo M. Tavares vale por uma literatura inteira”, in Diário Digital

(…)

António Guerreiro adjectivou o livro de “objecto singular com um título excepcional”.

A transversalidade da criação do escritor português levou o crítico literário a afirmar que Gonçalo M Tavares “vale por uma literatura inteira”, pois abarca todos os géneros literários, existentes ou ainda em potência.

“«Atlas do Corpo e da Imaginação» é uma obra de arte total.”

O livro concede a liberdade de ser começado por onde o leitor quiser. O objecto de reflexão é o próprio pensamento: “O que significa pensar?”

O leitor é desafiado a acompanhar o raciocínio sobre a própria linguagem. Esta obra de não-ficção torna visual o pensamento.

LER MAIS: http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=671631

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Ulisses | James Joyce

«Ulisses» é um romance de referências homéricas, que recria um dia de Dublin, a quinta-feira de 16 de Junho de 1904, o mesmo em que Joyce conheceu Nora Barnacle, a jovem que viria a ser sua mulher.
Nesse único dia e na madrugada que se lhe seguiu, cruzam-se as vidas de pessoas que deambulam, conversam, tecem intrigas amorosas, viajam, sonham, bebem e filosofam, sendo a maior parte das situações construídas em torno de três personagens. A principal é Leopold Bloom, um modesto angariador de publicidade, homem traído pela mulher, Molly, e, de modo geral, o contrário do heróico Ulisses de Homero.
Joyce começou a escrever esta obra em 1914, recorrendo às três armas que dizia restarem-lhe, «o silêncio, o desterro e a subtileza».
Depois de várias dificuldades editoriais, «Ulisses» seria publicado pela Shakespeare & Company, em Paris, em 1922, no dia de aniversário de Joyce.

«Mais do que a obra de um só homem, “Ulisses” parece de muitas gerações (…). A delicada música da sua prosa é incomparável.» [J. L. Borges, «James Joyce», 1937]

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Cansaço, Tédio, Desassossego | José Gil

Porque é que Fernando Pessoa faz morrer Caeiro e mais nenhum heterónimo? Ou: como caracterizar o corpo de Caeiro a que o poeta neo-pagão se refere constantemente? Mas inúmeras outras perguntas pedem resposta: porque é que Álvaro de Campos interfere na relação amorosa de Fernando Pessoa e de Ofélia (quando nenhuma relação desse tipo se vislumbra na obra do engenheiro naval)? Porque é que o patrão Vasques se destaca no deserto da paisagem humana do Livro do Desassossego? (…)

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O CRÍTICO PÓSTUMO | António Guerreiro in Ípsilon 22.11.2013

A crítica, especialmente a crítica literária dos jornais e revistas, está moribunda. Sobre ela, o mais urgente que há a discutir é o seu fim. Quem, por profissão, capricho ou relação interessada com a coisa literária continua a fazer a vez do crítico deverá saber que a sua condição é a de crítico póstumo. Se não chegou ainda a essa conclusão, nem chega a ser póstumo, é mais uma personagem de histórias de fantasmas para adultos. E quanto mais póstuma é a condição da crítica, mais enfáticos e patéticos são os gestos com que ela dá sinais de vida. Os críticos tornam-se puras manifestações tipológicas (de que este texto, que só pode ser lido como um exercício de auto-reflexão, é um exemplo óbvio): há os melancólicos, os canonizadores, os avaliadores, os mediadores, os animadores do gosto, os caçadores de tendências e os que são tudo isto ou várias coisas ao mesmo tempo porque tal é preciso num meio em que a procura é escassa e a autonomia reduzida. As razões para este estado de coisas são muitas e não falta bibliografia sobre o assunto. Detenhamo-nos num único aspecto: o facto de os críticos já não procurarem a legitimação dos seus pares. Descrevendo com maior rigor a situação, o que se passa é que as páginas de crítica literária e de divulgação de livros (dos jornais e revistas) dirigem-se a um público muito mais vasto do que o dos leitores cultos ou até especializados. Dir-se-á que sempre foi assim, e é verdade. Mas o ponto a que se chegou (num processo que se acelerou, quando se deu o completo domínio da cultura de massas e as próprias elites foram permeáveis a ela) é aquele em que se prescindiu completamente da autoridade que só pode ser outorgada pelos pares. O capital simbólico passou a ser adquirido fora do campo específico a que pertence o crítico (o mesmo vale, aliás, para os escritores). A situação paradoxal com que hoje estamos confrontados é esta: aqueles a quem se devia dirigir em primeiro lugar a crítica, aqueles que, em última instância, detêm o poder de legitimá-la e de prolongar o diálogo que ela deveria estabelecer, foram excluídos ou excluíram-se voluntariamente porque o discurso deixou de lhes dizer respeito. Póstumo, o crítico fala para um público que se ausentou, para um “povo que falta”, para usarmos uma expressão tão citada de Klee. A alternativa consiste em entrar na tagarelice – se não esteve nela desde sempre – que lhe permite (a ele e à publicação onde escreve) imaginar que tem um público numeroso. Daí o paradoxo: os suplementos literários são concebidos em grande parte (não exclusivamente, é certo), para um público de leitores ocasionais, em relação aos quais o crítico é uma espécie de conselheiro, isto é, um publicitário. Este sistema funciona, mas tem de vez em quando alguns sobressaltos: é quando surge alguém, com alguma autoridade, alguém que é um par respeitado, e vem dizer que se sente escandalizado com o curso da tagarelice. Prescindir do juízo dos pares, dispensar a sua função legitimadora, colocá-los à distância, não procurar a autorização conferida pelas regras do campo específico da disciplina ou da actividade intelectual que se exerce – tudo isso resulta num obscurantismo disfarçado de entretenimento. Nestas condições, a tagarelice não será interrompida porque quem estaria em condições de a denunciar já se demitiu até de entrar nos lugares onde ela reina e se por acaso ou imprudência se cruza com ela limita-se a virar a cabeça para o lado. Não tenhamos ilusões: o crítico pode hoje ser inócuo e medíocre impunemente porque se ausentaram os que o podiam criticar.

http://ipsilon.publico.pt … (FONTE)

Krakow’s story: a Unesco City of Literature built out of books

Krakow, Unesco City of Literature

Paved with poetry … Krakow

To mark Krakow’s appointment as Unesco City of Literature, a set of super-sized, multi-coloured letters were placed in the iconic medieval Marketlplace (“Rynek”), spelling out “Krakow, City of Literature” in Polish (“Miasto literatury”). Overnight, the citizens demonstrated their creative spirit by rearranging the letters to form messages of their own (some not fit to be printed).

Krakow lives and breathes literature. No city could be more eminently qualified for the Unesco title, which is now in its seventh year, withEdinburgh and Norwich among previous recipients. It’s hard to imagine how it can add to its existing plethora of literary events: it hosts two annual international literary festivals, a book fair, and any number ofpoetry readings; it is home to the Polish Book Institute – a superb public organisation which exists to promote Polish literature at home and abroad. It’s also home to several publishing houses, from old and traditional to young and ground-breaking.

Ler mais: http://www.theguardian.com/books/2013/nov/14/krakow-unesco-city-of-literatre … (FONTE)

O pícaro de Eça de Queiroz em edição ilustrada | Adelto Gonçalves

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Depois de publicar a edição ilustrada de Clepsydra, de Camilo Pessanha (Lisboa: Livros Horizonte, 2006) e uma antologia ilustrada de Os Maias, de Eça de Queiroz (Lisboa: Parceria Antônia Maria Pereira, 2009), além de outras ilustrações queirozianas em revistas e na Fotobiografia de Eça de Queiroz: vida e obra(São Paulo, Leya, 2010), o arquiteto Rui Campos Matos (1956) acaba de lançar A Relíquia: Uma Antologia Ilustrada (Fortaleza; Fundação Waldemar Alcântara, 2013).

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Lançamento do livro “Dois dedos de conversa” de Carmen Zita Ferreira, com ilustrações de Sara Cunha

A Tropelias & Companhia tem o prazer de convidar V.ª Ex.ª para o lançamento do livro “Dois dedos de conversa” de Carmen Zita Ferreira, com ilustrações de Sara Cunha, no próximo dia 17 de novembro, pelas 16h, na sede da APDAF (Associação para a promoção e desenvolvimento do apoio à família), na Rua Santa Teresa de Ourém (junto à escola do 1.º Ciclo), em Ourém.

A obra será apresentada pelo Doutor João Manuel Ribeiro e o evento contará com a atuação do Coral Infantil e Juvenil de Ourém.

Queira brindar-nos com a sua presença.

Coordenadas: 39º 39′ 19.40” N 8º 34′ 24.06” O

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Prémio PEN Clube de Ensaio 2012

Salazar e o Poder – A Arte de Saber Durar foi vencedor do prémio PEN Clube de Ensaio 2012.

Fernando Rosas deixa-nos uma visão lúcida e desprendida de atavismos morais. Bem documentado, este livro, espelha o trabalho de quem dedicou uma vida académica a este período da história de Portugal e sempre procurou saber como Salazar sobrevivera durante tanto tempo. Não o teria conseguido por recurso a um exercício excessivamente autoritário ou repressivo, mas por uma sábia conduta de quem conhece a verdadeira natureza dos portugueses e, tirando partido disso, se lhes impôs como líder desejado e providencial. Uma obra indispensável ao conhecimento deste período da história de Portugal que, nos dias de hoje, muitos gostariam de ver repetida.

leia mais no Acrítico – leituras dispersas

Por onde entrar no labirinto de Gonçalo M. Tavares? | Anabela Mota Ribeiro

Por onde entrar no labirinto de Gonçalo M. Tavares? Vários acessos, vários percursos. Vários livros, vários personagens. É um autor prolífico. Nos últimos meses, editou o ambicioso Viagem à Índia, Matteo perdeu o Emprego e novo livro da série dos senhores. Editou dezenas de livros, nos últimos nove anos.

É um homem genial, a chegar aos 40, reconhecido já como um dos grandes escritores de língua portuguesa do século XXI. Editado no mundo todo, recebe críticas elogiosas nos grandes jornais e revistas. Recentemente, Aprender a Rezar na Era da Técnica foi apontado como o melhor romance estrangeiro editado em França. Uma honra, diz ele. Em França dizem frequentemente que é o Kafka português.

Ler mais aqui:  http://anabelamotaribeiro.pt/62336.html

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Dia “D” de Drummond

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Carlos Drummond de Andrade tinha 28 anos quando conseguiu publicar seu primeiro livro, Alguma Poesia, em 1930. Foi uma edição modesta, paga pelo próprio autor. Essa obra, que tinha poemas como No Meio do Caminho, Quadrilha e Poema de Sete Faces, mudou os rumos da poesia no Brasil.

Num texto de 1958, Bandeira se pergunta: “Como chegou ele a tamanha destreza”? Em seguida, responde: “Conheço um pouco o segredo dele pela leitura de um livro seu que nunca foi publicado — Os 25 Poemas da Triste Alegria. O estilo do livro sabe àquela sutileza própria do Ronald-Guilherme, no modernismo incipiente”. O original dessa obra, de 1924, estava desaparecido.  Muitos chegaram a duvidar de sua existência. Há quatro anos, o poeta Antônio Carlos Secchin, conseguiu localizá-lo. Agora, com aval da família, pretende publicá-lo em versão fac-similar.

Os 25 poemas foram escritos no começo de 1920. Doze são inéditos, e os demais foram publicados, esparsamente, em jornais da época como o Diário de Minas. Nesse período, Drummond acabara de mudar-se para Belo Horizonte.  Foi nesse mesmo ano que o poeta pediu a Dolores para datilografar os 25 poemas. Ele mandou encadernar um único exemplar e o enviou para o amigo Rodrigo Melo Franco de Andrade, que morava no Rio de Janeiro, então capital da República, e tinha bons contatos que poderiam ajudar na publicação da obra. Nesses poemas, Drummond já usa o verso livre. Sua temática são as musas esvoaçantes, o anoitecer, a angústia pela passagem do tempo.

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Lettre de Lou Reed à Delmore Schwartz : « Je voulais écrire. Une phrase aussi bonne que l’une des vôtres. »

Lou Reed s’est éteint le dimanche 27 octobre 2013, à l’âge de 71 ans. Figure mythique de la musique et des cultures de l’underground, star presque malgré lui, ce compositeur-chanteur-guitariste d’exception, fondateur des Velvet Underground, qui créa les immortels Take a walk on the wild side, Vicious, Perfect day ou encore Satellite of love, était un féru de littérature. Prince du punk et du rock, il doit sa passion poétique, son amour des mots, l’amenant à écrire des recueils de poèmes et à consacrer l’une de ses dernières tournées à lire en public Edgar Allan Poe, à son professeur de littérature, le poète Delmore Schwartz. En hommage à ces deux personnages, voici la lettre posthume de l’élève au maître : une exclusivité deslettres !

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1er juin 2012

Ô Delmore, comme vous me manquez. C’est vous qui m’avez insufflé l’envie d’écrire. Vous êtes le meilleur homme que j’aie jamais rencontré. Vous saviez saisir les émotions les plus profondes avec les mots les plus simples. Vos titres étaient plus que suffisants pour éveiller en moi des muses enflammées. Vous étiez un génie. Maudit.

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Lettre de François Mitterrand à Marie-Louise, sa fiancée : « Mon bonheur ne dépend que de toi, et je ne suis pas malheureux de constater ma dépendance »

François Mitterrand, figure incontournable, aussi adulée que détestée de la société française, a fait couler beaucoup d’encre. Si sa vie intime et publique a été révélée au grand jour par de nombreux témoignages, scandales, et autres publications sulfureuses, si son passé est empreint de polémiques, il est un visage de Mitterand qui reste méconnu : l’amoureux. En pleine seconde guerre mondiale, François Mitterand est fiancé à une certaine Marie-Louise Terrasse, qui deviendra par la suite Catherine Langeais, présentatrice de télévision qui fera date. Le goût de la littérature et l’amour ont enivré l’intrépide Mitterand dans cette lettre pour le moins surprenante à sa Dulcinée.

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5 mars 1940

Ma fiancée chérie, tu le vois, j’ai peine à me séparer de toi. D’un seul coup, ce vide où je suis précipité loin de toi, m’effraie. Et je tente de continuer notre conversation. J’essaie de croire que tu es là et que tu m’entends. Ce qui rend une lettre si difficile, c’est qu’elle ne peut tenir compte du silence : près de toi, les paroles sont douces, mais pas nécessaires ; il semble que je puis t’exprimer aussi bien mon amour en me taisant. Comment rendre avec des phrases ce qui est si terriblement simple ? Comment te dire je t’aime alors que je le sens si profondément ?

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Lettre de Pablo Picasso sur l’art : « Je ne cherche pas, je trouve ».

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Pablo Picasso est l’un des peintres majeurs du XXè siècle, et l’une des figures de proue du cubisme ; tant et si bien que l’un de ses camarades, le mathématicien Maurice Princet, dit de lui qu’il était « l’accoucheur » du cubisme. Sa notoriété, qui n’est pas à démentir, et son talent indéniable l’amènent en 1926 à écrire pour le magazine moscovite Ogoniok une lettre ouverte sur sa conception de l’art et la création de ses contemporains. A l’occasion de son anniversaire, deslettres.fr vous en partage sa retranscription, confession de l’un des plus grands génies de notre époque.

1926

On me prend d’habitude pour un chercheur. Je ne cherche pas, je trouve.

On veut faire du cubisme une espèce de culture physique. On voit tous les jours des tas de gens décrépits qui se donnent pour des “costauds” ; ils prétendent arriver à la puissance en réduisant tout à un carré.

Mon  œuvre parfaitement logique, mon  œuvre à laquelle je consacre tous mes efforts, ne leur sert qu’à faire quelque chose d’artificiel, dénué de toute réalité.

Voyez, par exemple, X… En voilà un qui est vraiment “arrivé”.

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DOZE NOTAS SOBRE LITERATURA EM TOM DE PRECEITO | Mário de Carvalho

1) – Comece o escritor por ser um leitor curioso, variado e insaciável, capaz de ser «autor dos livros que lê», na expressão esclarecida de Óscar Lopes.
2) – Há coisas que não se escrevem, nem sob tortura. Frases como um «rapaz alto e espadaúdo», «lábios vermelhos como cerejas», ou incipits como «tudo começou quando», são admissíveis em clave de ironia ou de apelo à cumplicidade do leitor. Se não, revelam o autor ingénuo, em demanda de leitor apropriado.
3)  – Aprenda-se com os mestres. Ainda com aqueles de quem não se goste, ou com quem não existam afinidades de imaginário, prosa ou família literária. Quer para os rejeitar (ou exorcizar) ou para os incorporar, impõe-se não serem esquecidos. A literatura não se inventa a cada instante. Reinventa-se.
4) – As neves de antanho são despachadas a derreter. Em menos de uma geração estalam e desfazem-se as gloríolas literárias. É sensato ser circunspecto, quer em relação ao sucesso próprio, quer ao dos outros. Têm vocação de fugazes e frágeis.
5) – Nunca se deve lisonjear o leitor. Apostar na moda é condenar-se àquilo que já passou.
6) – Guardar-se de palavras fortes sobre a matéria, tais como «fulgor», «assombro» e «sublime» e adjectivos derivados. A literatura e a arte situam-se nas zonas do indizível a que as palavras não chegam. Por isso elas descaem, quando são forçadas.
7) – A literatura não é sagrada, nem precisa de altares, santinhos, beatos e beatas. Mesmo o texto mais solene e dorido tem um fio lúdico que bule com o entranhado instinto de jogo dos humanos.
8) – Há que valorizar o ofício, a técnica, a velha techné dos antigos, o domínio cuidado e rigoroso sobre os materiais. Essa é a arte em que falavam os Gregos, emparelhada com o engenho, ou inventiva.
9) – As teorizações e doutrinas vêm após o texto e exercem-se sobre ele. Quando se tenta o contrário, nem sempre dá bom resultado. Está para se saber se uma hiperconsciência do texto será ou não inibidora.
10) – A língua com que trabalhamos apresenta variadíssimas panóplias de recursos. Nenhum deles está vedado ao autor que pode, até, escolher as soluções mais rudimentares. Mas que o texto resulte sempre de uma opção livre e não de uma ignorância limitadora.
11) – Considerar que no jardim do Senhor há muitas tendas, como diz a Bíblia algures, ou, se não diz, podia dizer. Com os outros, aprende-se sempre alguma coisa. Pode ser que a criação de espaço e as demarcações impliquem algum alarido. Mas ponderadas em termos históricos, para já não dizer sub specie aeternitatis, soam um bocado a chocalho. Pode, aliás, ser um bom exercício formativo, o de encontrar qualidade naquilo de que se não gosta.
12) – Todas as afirmações peremptórias sobre literatura estão erradas. E, como no célebre paradoxo do cretense, se calhar, esta também está errada. Bem como as anteriores. Mas não deixa de ser curioso verificar que o gosto da frase bombástica e assertiva denuncia desde logo o outsider ou o parvenu.
MdC 

Na imagem, Tolstoi por Ilya Repin

www.mariodecarvalho.com

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Lettre de Camille Claudel au Docteur Michaux : « C’est affreux d’être abandonnée de cette façon, je ne puis résister au chagrin qui m’accable. »

Camille Claudel, l’une des premières sculptrices, d’un talent reconnu et envié par le maître incontesté de l’époque, Auguste Rodin -son professeur et amant-, artiste pionnière et femme libérée des conventions sociales et familiales de son temps, est décédée le 19 octobre 1943, après 30 ans d’internement psychiatrique. Enfermée de force le 10 mars 1913 à la demande de sa famille, elle ne cessera de demander sa remise en liberté, de dénoncer les motifs et les conditions misérables de son incarcération, et plongera peu à peu dans la folie, nourrie de délires de persécution. En hommage à cette martyre de l’art, à cette immense artiste écrasée par la société et son époque, voici une lettre de supplication adressée au docteur Michaux, véritable cri de souffrance et appel au secours pour fuir la misère sordide qui l’étouffe et finalement, l’emportera.

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15 juin 1918

Monsieur le Docteur,

Vous ne vous souvenez peut-être plus de votre ex-cliente et voisine, Mlle Claudel, qui fut enlevée de chez elle le 3 mars 1913 et transportée dans les asiles d’aliénés d’où elle ne sortira peut-être jamais. Cela fait cinq ans, bientôt six, que je subis cet affreux martyre. Je fus d’abord transportée dans l’asile d’aliénés de Ville-Evrard puis, de là, dans celui de Montdevergues près Montfavet (Vaucluse). Inutile de vous dépeindre quelles furent mes souffrances. J’ai écrit dernièrement à monsieur Adam, avocat, à qui vous aviez bien voulu me recommander, et qui a plaidé autrefois pour moi avant tant de succès ; je le prie de vouloir bien s’occuper de moi. Mais dans cette circonstance, vos bons conseils me seraient nécessaires car vous êtes un homme de grande expérience et, comme docteur en médecine, très au courant de la question. Je vous prie donc de vouloir bien causer de moi avec monsieur Adam et de réfléchir à ce que vous pourriez faire pour moi. Du côté de ma famille il n’y a rien à faire ; sous l’influence de mauvaises personnes, ma mère, mon frère et ma sœur n’écoutent que les calomnies dont on m’a couverte.

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Filhos da Leitura – Setúbal

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FILHOS DA LEITURA

ESPETÁCULO MULTIDISCIPLINAR COMEMORATIVO DO 40.º ANIVERSÁRIO DA CULSETE

20 de OUTUBRO, DOMINGO, 16 HORAS

FÓRUM MUNICIPAL LUÍSA TODI, SETÚBAL

A finalidade deste espetáculo é reunir sob o signo da leitura, de leituras, todos os que se considerem seus filhos, aqueles que, através das leituras que foram fazendo, cresceram e se afirmaram como indivíduos com pensamento livre, crítico e atuante, todos aqueles cujas raízes cada vez mais estejam presas ao livro e à leitura.

Pretende-se festejar os 40 anos da Culsete com um ramalhete de palavras, sentir a sua força, escutar a sua música, quer sejam lidas, ditas ou cantadas, deixar ecoar o seu som ao lado de outros sons, produzidos por instrumentos que não a voz humana.

Ver o seu bailado em poemas, monólogos e frases, ao lado do movimento dos corpos propondo-nos outras leituras.

Festa é alegria, é contentamento, é o entrecruzar de gestos, sons e imagens que se colam a nós, transportando-nos para outros lugares. Também dos momentos de festa e júbilo nos alimentamos.

É esta a proposta da tarde de amanhã. Vamos viver a festa de sermos filhos da leitura.

 

«A DAMA E O UNICÓRNIO»: MITO, SEDUÇÃO E TRAGÉDIA | Maria Teresa Horta

Graficamente belíssimo, já chegou às mãos de Maria Teresa Horta o livro com a sua última obra poética, «A Dama e o Unicórnio», incluindo o CD com a sonata profana de António de Sousa Dias sobre os poemas de MTH, ditos por Ana Brandão. Os leitores interessados terão de ter um pouco de paciência: a cuidada edição de Cecília Andrade, da Dom Quixote/Leya, com impecável produção executiva do Atelier 007, de Patrícia Reis (capa e paginação de Joana Miguéis), só chegará às livrarias no próximo dia 29.
Até lá fica um dos 72 poemas que compõem a obra e um trecho da contracapa.

LUME

Lume…
imagina o Unicórnio

Ao sentir o afago
da mão que a Dama
demora no seu dorso

E em seguida na lividez
da testa
em torno do seu corno

Osso de luz
a contragosto

CONTRACAPA – Conjugando numa unidade indivisível a tecedura das tapeçarias quatrocentistas «La Dame à la Licorne» com uma original interpretação da intriga nelas urdida, Maria Teresa Horta cria uma obra poética que se desdobra por vários cantos – «Arte e Ofício», «As Personagens», «As Tapeçarias», «O Mito», «À mon seul désir», «A Sedução», «Posse» e «A Eternidade» – numa apaixonante e mágica composição que o modelo gráfico acompanha lúcida e harmoniosamente. Com esta obra complexa, na qual uma sensualidade imanente subjaz ao lirismo com que a tragédia é tecida nos seus 72 poemas, a poetisa dá voz a um fascínio que remonta ao final dos anos 50, em Paris, quando se lhe depararam as tapeçarias numa primeira visita ao Musée de Cluny, actual Musée National du Moyen Âge.

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Atlas do Corpo e da Imaginação | Novo livro de Gonçalo M. Tavares | nas livrarias no dia 29 de outubro

Sobre o livro

Atlas do Corpo e da Imaginação é um livro que atravessa a literatura, o pensamento e as artes passando pela imagem e por temas como os da identidade, tecnologia; morte e ligações amorosas; cidade, racionalidade e loucura, alimentação e desejo, etc. Centenas de fragmentos que definem um itinerário no meio da confusão do mundo, discurso acompanhado por imagens de “Os Espacialistas”, colectivo de artistas plásticos.

É um livro para ler e para ser visto e é também, de certa maneira, uma narrativa – com imagens que cruzam, com o texto, os temas centrais da modernidade.

Neste Atlas do Corpo e da Imaginação, Gonçalo M. Tavares revisita ainda a obra de alguns dos mais importantes pensadores contemporâneos, partindo de Bachelard e Wittgenstein, passando depois por Foucault, Hannah Arendt, Roland Barthes, mas também por escritores como Vergílio Ferreira, Llansol ou Lispector, entre muitos outros. Arquitectura, arte, pensamento, dança, teatro, cinema e literatura são disciplinas que atravessam, de forma directa e oblíqua, o livro.

Com o seu espírito claro e lúcido, Gonçalo M. Tavares conduz-nos com precisão e entusiasmo através do labirinto que é o mundo em que vivemos.

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ELE 2013 | Language Fair | Minde | Portugal

We are pleased to announce that the programme of the Language Fair, an activity of ELE 2013 which will take place on the 19th of October at Fábrica de Cultura in Minde (Portugal), is now available and can be consulted here: http://www.cidles.eu/events/conference-ele-2013/language-fair/programme-1/.

11 communities from all over Europe will participate in this event presenting their native languages in 30-minute cultural performances and/or exhibition stands.

Don’t miss it!

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NOBEL da Literatura distingue a canadiana ALICE MUNRO

Alice Munro é a vencedora do prémio Nobel da Literatura 2013, hoje anunciado em Estocolmo, no aniversário da morte do industrial e filantropo sueco Alfred Nobel, que o instituiu.

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O galardão, no valor de oito milhões de coroas suecas (925 mil euros) foi anunciado pelo secretário da Academia de Ciências Sueca no histórico edifício da Bolsa, na baixa de Estocolmo.

Nos últimos 10 anos, o Nobel da Literatura distinguiu nomes como o chinês Mo Yan (2012), o sueco Tomas Tranströmer (2011), o peruano Mario Vargas Llosa (2010), a alemã de origem romena Herta Müller (2009), o francês Jean-Marie Gustave Le Clézio (2008), a britânica Doris Lessing (2007), o turco Orhan Pamuk (2006), o britânico Harold Pinter (2005), a austríaca Elfriede Jelinek (2004) e o sul-africano J.M. Coetzee (2003).
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/nobel-da-literatura-2013-distingue-a-canadiana-alice-munro=f834943#ixzz2hJkXXV4w

Quando a literatura pode mudar a sociedade | Luiz Ruffato

Para o brasileiro Luiz Ruffato “escrever é um compromisso”. O autor de “Estive em Lisboa e lembrei-me de ti” (que é editado em Portugal pela Quetzal e Tinta da China) quer “afectar o leitor”, modificá-lo, para transformar o mundo. “Trata-se de uma utopia, eu sei, mas me alimento de utopias”, disse nesta terça-feira, na cerimónia oficial de abertura da Feira do Livro de Frankfurt, que este ano tem o Brasil como país convidado.

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O escritor de Minas Gerais foi escolhido para ser o orador literário da cerimónia de boas vindas ao país convidado ao lado da presidente da Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Machado, naquela que é a mais importante feira mundial do sector e que nesta quarta-feira abre portas. Fez um discurso que não deixou ninguém indiferente, mostrando como o Brasil é um “país paradoxal”: “Ora o Brasil surge como uma região exótica, de praias paradisíacas, florestas edénicas, carnaval, capoeira e futebol; ora como um lugar execrável, de violência urbana, exploração da prostituição infantil, desrespeito aos direitos humanos e desdém pela natureza.”

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GONÇALO M. TAVARES | LOOK AT YOUR HANDS | POSTED BY MARK O’CONNELL | THE NEW YORKER

In the novel “Jerusalem,” by the Portuguese writer Gonçalo M. Tavares, there is a character named Mylia, handwho suffers from schizophrenia. One of the manifestations of Mylia’s illness is a strangely intimate experience of, and relationship with, inanimate objects. She is, for example, disgusted by shoes because of their dumb subservience to people, their total self-abnegation as things to be possessed and used. “Not even a dog,” she reflects, “was as submissive as a shoe.” She is also deeply disturbed by eggs: “Eggs, all eggs, contained a kind of concrete, material altruism that Mylia couldn’t find in anything else in the world. Eggs appear because they want to disappear.” This anthropomorphic intimacy leads her to handle things in a way that appears somehow unseemly:

Her mother would say to her, “It’s not right to touch things that way.”“So how should I touch them?”

“Use less pressure. Don’t grab. Don’t get so involved.”

What her mother didn’t tell her—though other people did—was that she was always reaching out for things as though caressing a lover, as though everything in the world turned her on. So, “It’s not right to touch things that way” was, more than anything, a call for modesty.

When you first discover a writer who is unlike any you’ve read before—whose work seems at once to demand and to deny the possibility of contextualization—you tend to seek insights, in the writing itself, into where this strangeness and difference might be coming from. When I came to this passage in “Jerusalem” about Mylia’s way of touching things, I read it again and again, convinced that, in its oblique way, it revealed something essential about Tavares. There is an indecency to his writing, a strange and thrilling obscenity, that has to do with its way of handling things as though they were people, and people as though they were things.

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A propósito de “A Dobra do Crioulinho”, de Luís Carmelo

DobraEscrevo estas palavras como leitora. Não está aqui em causa a análise literária exaustiva, que deixo para os peritos, mas a simples tradução do impacto que a leitura deste romance me suscitou. As frases iniciais transportam-nos de imediato para uma paisagem em que apetece entrar. E olhar. Pode ler-se, em dado momento: ”A paisagem é a súmula demorada de todos os olhares que até hoje a terão esboçado.”. Entrei, portanto, com a lentidão de quem se quer demorar, com o olhar pronto a desenhá-la ao ritmo do espanto.

Deixei-me conduzir por imagens assombrosas, que foram construindo à minha passagem um mundo novo, que fui desbravando numa permanente descoberta. Entrei numa vila. E era como se já lá tivesse estado, e conhecesse as gentes que a habitavam, tal o realismo do retrato criado. Caminhei no empedrado imaculado, entrei na livraria, passei junto ao café, demorei-me em frente à Igreja de Nossa Senhora dos Ares. Conheci as pessoas que se movem por estas ruas, entrei nas suas casas. Percebi as suas tristezas e os seus sonhos. Despedi-me com a saudade de quem deseja ficar, só mais um pouco. No olhar, a promessa de um regresso. Talvez eu tenha deixado naquela paisagem um pouco de mim. Afinal, os meus olhos também a esboçaram. Penso que, ao ler uma história, o leitor mergulha no mar de sonhos de quem a escreveu. Ao sair, deixa lá os seus próprios sonhos. E aquele mar torna-se, de repente, um oceano.

Obrigada ao autor por me ter permitido a entrada neste pequeno mundo encantado, onde puras delícias espreitam a cada esquina.

Teresa Sande

(Luís Carmelo, A Dobra do Crioulinho, Editora Quidnovi, 2013)

TABULA RASA

220px-John_LockeTabula rasa é uma expressão latina que significa literalmente “tábua raspada”, e tem o sentido de “folha de papel em branco”. A palavra tabula, neste caso, refere-se às tábuas cobertas com fina camada de cera, usadas na antiga Roma, para escrever, fazendo-se incisões sobre a cera com uma espécie de estilete. As incisões podiam ser apagadas, de modo que se pudesse escrever de novo sobre a tabula rasa, isto é, sobre a tábua raspada ou apagada. Como metáfora, o conceito de tabula rasa foi utilizado por Aristóteles (em oposição a Platão) e difundido principalmente por Alexandre de Afrodisias, para indicar uma condição em que a consciência é desprovida de qualquer conhecimento inato – tal como uma folha em branco, a ser preenchida.1

Já na Modernidade, o conceito será aplicado ao intelecto, na tese epistemológica que fundamenta o empirismo – vertente filosófica do século XVII, segundo a qual não existem ideias inatas, sendo que todo conhecimento se baseia em dados da experiência empírica.2

O argumento da tabula rasa foi usado pelo filósofo inglês John Locke (16321704), considerado como o protagonista do empirismo. Locke detalhou a tese da tabula rasa em seu livro, Ensaio acerca do Entendimento Humano (1690). Para ele, todas as pessoas nascem sem conhecimento algum (i.e. a mente é, inicialmente, como uma “folha em branco”), e todo o processo do conhecer, do saber e do agir é aprendido através da experiência. A partir do século XVII, o argumento da tabula rasa foi importante não apenas do ponto de vista da filosofia do conhecimento, ao contestar o inatismo deDescartes, mas também do ponto de vista da filosofia política, ao defender que, não havendo ideias inatas, todos os homens nascem iguais. Forneceu assim a base da crítica ao absolutismo e da contestação do poder como um direito divino ou como atributo inato.3

A teoria da tabula rasa também fundamenta uma outra corrente da filosofia e da psicologia, o behaviorismo clássico. O behaviorismo atual, que é obehaviorismo radical, não se baseia na tabula rasa.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Tabula_rasa (FONTE)

ASSUSTADOR!!! | Dez Mil Milhões | Enfrentando o nosso futuro

emmottSinopse

Eis um livro sobre nós.
Trata de si, dos seus filhos, pais e amigos. Trata de todos nós. Trata do nosso falhanço: enquanto indivíduos, do falhanço dos negócios e do falhanço dos nossos políticos.
Trata da emergência planetária sem precedentes que nós próprios criámos.
Trata do nosso futuro.
Dez Mil Milhões de Stephen Emmott
Críticas de imprensa
«A mudança na maneira de pensar que será necessária se quisermos preparar-nos para viver num mundo diferente começa pela leitura deste livro indispensável de Stephen Emmott.»
The Guardian

«Emmott, que dirige a investigação em Ciência Computacional da Microsoft, e passou cinco anos como consultor científico do ministério das Finanças britânico, está zangado com o caos em que mergulhámos o planeta. Não está sozinho. Mas o efeito da sua prosa despojada, sem adornos, apoiada por gráficos e imagens, é significativo. A população da Terra, diz ele, atingirá os 10 mil milhões neste século e, dada a maneira como o planeta está a ser tratado pelos seus atuais 7 mil milhões de habitantes, estamos a caminho de uma catástrofe.»
The Telegraph

União Baiana de Escritores | UBESC é fundada e empossa a primeira diretoria

SAM_1654Valdeck Almeida de Jesus é um dos integrantes da nova entidade e sua posse acontece durante a 3ª edição do Encontro de Escritores Baianos Independentes – ENEBI, nos dias 10 e 11 de outubro de 2013, quinta e sexta-feira, respectivamente, na Biblioteca Pública Thales de Azevedo (Rua Adelaide Fernandes da Costa, s/n – Costa Azul, em Salvador-BA). Os demais diretores são Roberto Leal (presidente), Jorge Carrano, Cymar Gaivota, Marcelo Oliveira e Rudival do Amparo.

Para Valdeck Almeida de Jesus “é uma honra participar da diretoria da UBESC, que já nasce grande, comprometida com a classe de escritores e com os parceiros que nela trabalham. Vida longa a esta União Baiana de Escritores”, declara.

A UBESC nasceu após a dissolução do Núcleo Baiano da União Brasileira de Escritores, que foi conduzido por três anos por Roberto Leal e pelo jornalista Carlos Souza Yeshua. Na opinião de Yeshua, um dos escritores que esteve na coordenação do núcleo da UBE, enquanto a UBESC estava sendo pensada, “Como diz Roberto Leal, 2013 é, realmente, o ano da literatura. Na Bahia, grandes acontecimentos têm marcado este momento e, o lançamento da União Baiana de Escritores – UBESC. É um marco histórico, digno de todo elogio, por ser fruto do trabalho de escritores abnegados que lutam pelo fortalecimento dos autores locais. A UBESC é um projeto que estava sendo estudado há cerca de quatro anos e, agora, chega para ficar”.

Roberto Leal justifica a criação da nova agremiação: “Pessoalmente não tenho nada contra a UBE/SP. A dissolução do Núcleo da UBE na Bahia se deu em razão da pouca comunicação, ou vez em quando de ásperas comunicações e da falta de ações culturais, o que causou inconformismo em alguns associados, pela forma como a UBE se portava diante da pouca presença na vida literária de cada um dos associados baianos”.

Em relação à União Brasileira de Escritores, com sede em São Paulo, à qual o Núcleo Baiano era subordinado, Leal esclarece: “Como um dos integrantes dessa formação, dessa fundação, da manutenção desse núcleo em parceria com o companheiro Carlos Souza, por longos três anos, decidimos pela regionalização da classe representativa e optamos pela criação da União Baiana de Escritores, que usará sigla “UBESC” e nada tendo de relação com a UBE/SP”. Roberto Leal acredita que a criação da UBESC não impede que os associados continuem filiados a São Paulo, independentemente da dissolução do núcleo baiano… Eles podem optar por uma ou outra, ou participarem das duas.

Jorge Baptista Carrano, publicitário, poeta e ativista cultural, é um dos coordenadores do Fala Escritor e suplente no Colegiado Setorial de Literatura do Estado, além de fazer parte, também, das atividades do Plano Municipal do Livro, Leitura e Biblioteca. Para Carrano, “A UBESC veio para dar um rumo, um norte à classe autoral. Ela surge num momento em que é fundamental que sejam muito bem demarcados os territórios de atuação dos escritores baianos. Um fórum que acolha as demandas do setor e promova discussões que alavanquem a produção e divulgação literária na Bahia. E necessário, porém, que na contrapartida, os escritores baianos se unam em torno da UBESC, se fortalecendo e tornando-a cada vez mais forte“.

O ENEBI é uma realização da União Baiana de Escritores e Fundação Òmnira, com o apoio da Fundação Pedro Calmon, da APUB – Associação dos Professores Universitários da Bahia, da Cantina da Lua e do site Galinha Pulando.com e tem curadoria do jornalista e editor Roberto Leal. O evento terá na programação: palestras, mesas-redondas, lançamentos de livros e revistas, recital poético, promoção de intercâmbio cultural, sorteio de publicações e coquetel de confraternização no encerramento.

Mais informações sobre a UBESC e ENEBI: http://www.fundacaoomnira.com.br/2013/08/encontro-de-escritores-vai-agitar-as.html?m=1

Vencedor do Prémio LeYa 2013 anunciado a 15 de outubro

logo_premio_leyaO romance vencedor da edição deste ano do Prémio LeYa será anunciado no próximo dia 15 de outubro, depois de concluídas as reuniões do júri, agendadas para 14 e 15 de outubro, na sede da LeYa, em Alfragide.

A edição deste ano superou as expectativas, com o número de originais recebidos a chegar aos 491 – mais 43 do que a edição de 2008, a mais concorrida até agora. Destaca-se, igualmente, a diversidade dos países de onde são oriundos os trabalhos a concurso: foram recebidos originais de 14 países diferentes. Com claro destaque para Portugal e Brasil, à LeYa chegaram também trabalhos da Alemanha, Angola, Espanha, França, Guiné Bissau, Itália, Luxemburgo, Macau, Moçambique, Reino Unido, Suécia e Estados Unidos.

O júri do Prémio LeYa 2013 mantém-se inalterado relativamente à edição anterior, sendo formado pelos escritores Manuel Alegre (Presidente do júri), Nuno Júdice, Pepetela e José Castello, e por José Carlos Seabra Pereira, Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Lourenço do Rosário, Reitor do Instituto Superior Politécnico e Universitário de Maputo, e Rita Chaves, Professora da Universidade de São Paulo. À análise do júri foram submetidas sete obras finalistas que estão a ser avaliadas em regime de “prova cega”.

A Mensagem, de Fernando Pessoa – edição comentada

84015c_c3d8058068d5f9252a4aa80bbb5ca683.jpg_srz_348_548_75_22_0.50_1.20_0.00_jpg_srzA Mensagem, obra maior da poesia contemporânea, é um dos textos essenciais da cultura portuguesa.
Esta edição de uma das mais famosas criações de Fernando Pessoa analisa detalhadamente cada poema, desvenda as palavras do poeta e clarifica a informação histórica que lhe está subjacente.
Elaborada de forma a possibilitar uma leitura acessível, quer ao aluno do ensino secundário, quer ao leitor mais íntimo da obra pessoana, Mensagem comentada por Miguel Real é uma obra obrigatória para se conhecer de forma mais profunda e rigorosa o maior poeta do século XX e um dos textos fundamentais da cultura portuguesa.

Edições Parsifal, 2013

Miguel Real oferece-nos uma leitura lúcida e inteligente deste belíssimo poema, respeitando-lhe a alma, permitindo ao leitor apreender, em toda a sua extensão, a simbologia e misticismo de que está impregnado. As ilustrações de João Pedro Lam dão ao livro um aspecto menos pesado, fazendo-nos abstrair do lado académico e mais formal desta obra.

Acrítico – leituras dispersas.

Ana de Londres – Transmission Bar

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Ontem foi noite de festa no Transmission Bar e o palco encheu-se. Manuel San-Payo falou do seu trabalho de ilustrador, das suas cumplicidades com a autora Cristina Carvalho e de como este “Ana de Londres” lhe diz muito; ele que foi educado numa escola estrangeira para se preparar para o salto. Esse ato de partir, não só em busca de um futuro melhor, mas de deixar um país que o condenaria à guerra nas picadas de África. Salvou-o o 25 de Abril.

A arte do ilustrador trabalha imagens sobre as imagens naturais da escrita, aquelas que o leitor cria à medida que vai lendo. Trata-se de um trabalho de risco; o conflito pode surgir a todo o momento, perder-se o efeito de contribuir para a narrativa, dando-lhe uma outra dimensão.

O André Gago leu de improviso um trecho do livro, com a segurança dos mestres. A autora falou-nos da Ana de Londres e dos tempos da Ana de Londres. Aproveitou para deixar claro que não se trata de um livro autobiográfico.

O editor Marcelo Teixeira, da editora Parsifal, está de parabéns.

(Na foto, das esquerda para a direita, André Gago, Manuel San-Payo, Cristina Carvalho e Marcelo Teixeira)
Sobre este livro, a minha crónica no PNet Literatura

Novo livro de Gonçalo M. Tavares | Atlas do Corpo e da Imaginação | em Outubro

??????????????????????Gonçalo M. Tavares é verdadeiramente o escritor surpresa do nosso séc. XXI literário. A sua obra conta com dezenas de títulos, abarca quase todos os géneros literários, introduz temáticas inéditas e foi recebida com entusiasmo por milhares de leitores mas também pelos mais reputados e exigentes críticos literários. Está publicado, com forte repercussão, em dezenas de países.

Sai agora na Caminho uma nova obra que certamente se tornará uma referência. Atlas do Corpo e da Imaginação é um livro que atravessa a literatura, o pensamento e as artes, passando pela imagem e por temas como os da identidade, tecnologia; morte e ligações amorosas; cidade, racionalidade e loucura, alimentação e desejo, etc.. Centenas de fragmentos que definem um itinerário no meio da confusão do mundo, discurso acompanhado por imagens de “Os Espacialistas”, colectivo de artistas plásticos.

É um livro para ler e para ser visto e é também, de certa maneira, uma narrativa com imagens que cruzam, com o texto, os temas centrais da modernidade. 

Neste Atlas do Corpo e da Imaginação, Gonçalo M. Tavares revisita ainda a obra de alguns dos mais importantes pensadores contemporâneos, partindo de Bachelard e Wittgenstein, passando depois por Foucault, Hannah Arendt, Nietzsche, mas também por escritores como Lispector ou Calvino, entre muitos outros. Arquitectura, arte, pensamento, dança, teatro, cinema e literatura são disciplinas que atravessam, de forma directa e oblíqua, o livro.

Com o seu espirito claro e lúcido, Gonçalo M. Tavares conduz-nos com precisão e entusiasmo através do labirinto que é o mundo em que vivemos.

A dimensão de Deus

Diálogo entre Deus e Caim. Deus interpela Caim:

“Que sabes tu do coração de job, Nada, mas sei tudo do meu e alguma coisa do teu, respondeu caim, Não creio, os deuses são como poços sem fundo, se te debruçares neles nem mesmo a tua imagem conseguirás ver, Com o tempo todos os poços acabam por secar, a tua hora também há-de chegar. O senhor não respondeu, mas olhou fixamente caim e disse, O teu sinal na testa está maior, parece um sol negro a levantar-se do horizonte dos olhos, Bravo, exclamou caim batendo as palmas, não sabia que fosses dado à poesia, É o que eu digo, não sabes nada de mim. Com esta magoada declaração deus afastou-se e, mais discretamente que à chegada, sumiu-se noutra dimensão.”

Caim, de José Saramago

As diversas dimensões onde Deus se some são um mistério para os homens.

Mais aqui, em breve.

Na Livraria Ler Devagar – Tertúlias de Lisboa – nos segundos sábados de cada mês

Uma iniciativa dos sítios Tertúlia de eBooks e PNET-Literatura em parceria com a Livraria Ler Devagar.

A iniciativa das Tertúlias de Lisboa visa criar um espaço de debate dedicado à cultura. Pretende-se promover encontros entre escritores e outros agentes culturais, criando uma dinâmica que, a partir da literatura, abra um espaço de debate inovador e plural, onde exista a convergência das mais diversas valências culturais. Uma proposta eclética assente na inquestionável qualidade dos seus convidados e no desassossego dos temas propostos.

As sessões têm lugar no segundo Sábado de cada mês, pelas 17 horas, na Livraria Ler Devagar, na Lx-Factory em Lisboa, com convidados e um moderador. Após uma introdução e exposição inicial dos convidados, o espaço de debate é aberto à sala, existindo um tempo limite para cada intervenção.

As intervenções iniciais dos convidados serão recolhidas em vídeo, sendo que, a partir desse momento, apenas serão recolhidas imagens, sem som, da sala e dos participantes. Este procedimento visa promover as condições para um debate aberto, plural e participado. No final de cada sessão, será recolhido em vídeo o testemunho de cada convidado e de alguns elementos da assistência.

Estes testemunhos estarão disponíveis online a partir da página no Facebook das Tertúlias de Lisboa.

A iniciativa dos debates pertence aos organizadores sendo acolhidas as sugestões que pretendam fazer chegar para: tertuliasdelisboa@gmail.comtertc3balialogo Ler Devagar

Logo Pnetliteratura

O Botequim da Liberdade | Fernando da Costa

botequimSinopse

A última grande tertúlia de Lisboa – que marcou culturalmente, politicamente várias décadas portuguesas – teve lugar no Botequim, bar do Largo da Graça criado e projectado por Natália Correia.
Nele fizeram-se, desfizeram-se revoluções, governos, obras de arte, movimentos cívicos; por ele passaram presidentes da República, governantes, embaixadores, militares, juízes, revolucionários, heróis, escritores, poetas, artistas, cientistas, assassinos, loucos, amantes em madrugadas de vertigem, de desmesura.
A magia do Botequim tornava-se, nas noites de festa, feérica. Como num iate de luxo, navegava-se delirantemente (é uma viagem assim que neste livro se propõe) em demanda de continentes venturosos, de ilhas de amores a encontrar.
O futuro foi ali, como em nenhuma outra parte do País, festivamente antecipado – nunca houve, nem por certo haverá, nada igual entre nós.
Fernando Dacosta
Ficcionista e autor dramático, formado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, exerceu a actividade profissional de jornalista, na sequência da qual publicou os trabalhos de investigação jornalística Os Retornados Estão a Mudar Portugal (Grande Prémio de Reportagem do Clube Português de Imprensa) e Moçambique, Todo o Sofrimento do Mundo (Prémios Gazeta e Fernando Pessoa). Estreou-se como dramaturgo com Um Jipe em Segunda Mão , peça que, tendo por tema as sequelas da guerra colonial portuguesa, foi distinguida com o Grande Prémio de Teatro da RTP, e editada, em 1983, com o monólogo dramático A Súplica e o diálogo Um Suicídio Sem Importância, volumes a que se seguiriam os trabalhos teatrais Sequestraram o Senhor Presidente (1983) e A Nave Adormecida (1988). Tentado pela maior liberdade de tratamento do espaço e do tempo no registo novelístico, com O Viúvo (Grande Prémio da Literatura do Círculo de Leitores) e Os Infiéis , afirmou-se no domínio da ficção com uma escrita instituída como indagação obsessiva sobre uma portugalidade entrevista num passado recente (O Viúvo ) ou no período dos Descobrimentos (Os Infiéis), e estabelecendo nexos de intertextualidade com outros autores de língua portuguesa que integram ou reflectiram sobre a mitologia do ser português, como Agostinho da Silva, Jaime Cortesão, Antero, Pascoaes, Oliveira Martins, Camões ou Pessoa.

Nas livrarias a 17 de Setembro | A Segunda Morte de Anna Karénina | Ana Cristina Silva

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Violante tinha, desde criança, um talento raro para a representação e, com a ajuda de Luis Henrique, um grande actor com quem acabou por se casar, tornou-se uma das mais aplaudidas actrizes portuguesas do princípio do século XX. Contudo, os que a vêem brilhar e afirmar o seu génio no palco dos maiores teatros nacionais desconhecem o terrível segredo que minou a sua vida e levou para longe o marido numa noite que podia ter acabado em tragédia. Agora, que Violante visita, longe da multidão, o jazigo de Rodrigo – um jovem oficial português caído na guerra das trincheiras em França -, espera finalmente sentir o desgosto da mãe que não chegou a ser, mas descobre que o filho que não criou carregava, afinal, no peito um peso tão grande ou maior do que o seu. E, com o espectro das recordações que essa revelação desencadeia, regressa também inesperadamente o próprio Luís Henrique, desejoso de obter, ao fim de tantos anos, a resposta que Violante não lhe pôde dar. O problema é que, numa conversa entre dois actores de excepção, nunca se sabe exactamente o que é verdade. A Segunda Morte de Anna Karénina é um romance sobre o amor sem limites, a traição e os custos da vingança – e também uma obra arrojada sobre as tensões homossexuais reprimidas, sobre as vidas desperdiçadas de tantos portugueses na Primeira Guerra Mundial e sobre as diferenças – se é que existem – entre o teatro e a vida real.
A autora
acsfotoAna Cristina Silva é docente universitária no ISPA-IU. Doutorada em Psicologia da Educação, especializou-se na área da aprendizagem da leitura e da escrita, desenvolvendo investigação neste domínio com obra científica publicada em Portugal e no estrangeiro. Publicou até ao momento sete romances, Mariana, todas as Cartas (2002), A Mulher Transparente (2003), Bela (2005), À Meia Luz (2006), As Fogueiras da Inquisição (2008), A Dama Negra da Ilha dos Escravos (2009) e Crónica do Rei-Poeta Al- Um’Tamid (2010), Cartas Vermelhas (2011, seleccionado como Livro do Ano pelo jornal Expresso e finalista do Prémio Literário Fernando Namora) e O Rei de Monte Brasil (2012, finalista do Prémio SPA/RTP).

A Desilusão de Judas | António Ganhão

Capa A Desilusão de Judas António GanhãoSe todos os tontos escrevessem um diário o mundo seria um local mais tranquilo. Não cederia a essa ilusão. Vou só falar do colega reformado com um problema de crédito, o gerente bancário que procurava interferir no processo, as escapadelas no Calçadas e a mulher que desliza em proposta de fim de tarde, tão perturbadora como o próprio pecado. E da minha ambição única de aprender a recitar o rosário.

“Não conhecemos outro romance publicado nos anos mais recentes que descreva ficcionalmente de um modo tão perfeito a radicalidade e banalidade do mal como A Desilusão de Judas, primeiro livro de António Ganhão.”
Miguel Real, Jornal de Letras, Artes e Ideias, Janeiro de 2012

“A Desilusão de Judas de António Ganhão é uma narrativa que funde esferas de naturezas diferentes e que propõe uma verosimilhança bastante assertiva. Conta a história, aparentemente pouco portuguesa, de um serial killer que age com motivações tão inesperadas quanto sigilosas.” do posfácio de Luís Carmelo.

Conversa com Mia Couto | Anabela Mota Ribeiro.

Estava a ocorrer-me um excerto de um livro carregado de humor onde é muito evidente a corrupção ao mais alto e ao mais baixo nível. Há uma cadeira de rodas da ajuda humanitária usurpada por um dos personagens que a aluga a outros que queiram dar umas voltinhas. E há o tráfico de armas conectado com os administradores, que são brancos e portugueses. A corrupção grassa no país de alto a baixo?

Não de maneira diferente que grassa noutros casos. É mais descarada. Tal e qual como a escravatura ou a colonização, a corrupção é a continuação de uma relação que tem sempre dois lados. Não há os corruptos de um lado e os honestos do outro. A escravatura foi feita com cumplicidades internas. Havia elites africanas que enriqueceram muito. Esta leitura da história que hoje há é muito simplista. Como há um certo sentimento de culpa dos europeus, ela passa bem. Mas deve ser interrogada, porque criou da parte dos africanos o discurso vitimista, de ser preciso fazer valer na Europa aquilo que perdemos durante séculos.

Ler mais:

http://www.buala.org/pt/cara-a-cara/conversa-com-mia-couto

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1822 – Laurentino Gomes

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Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D.Pedro a criar o Brasil – um pais que tinha tudo para dar errado.

Um livro que desvenda os acontecimentos históricos com uma metodologia sem falhar e que se lê com um sorriso nos lábios. O livro 1822 pretende mostrar que país era este que a corte de D. João deixava para trás ao retornar a Lisboa, em 1821. Vai falar do Grito do Ipiranga, das enormes dificuldades do Primeiro Reinado, da abdicação de D. Pedro, em 1831, sua volta a Portugal para enfrentar o irmão, D. Miguel, que havia usurpado o trono, e a morte em 1834.

Camilo Pessanha na intimidade

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I

Depois de publicar Clepsidra e outros poemas, para o qual escreveu o prefácio e fixou o texto, com ilustrações de Rui Campos Matos (Lisboa: Livros Horizonte, 2006), e A imagem e o verbo: fotobiografia de Camilo Pessanha (Macau: Instituto Cultural do Governo da R.A.E. de Macau e Instituto Português do Oriente, 2005), o pesquisador literário Daniel Pires (1951) acaba de lançar Correspondência, dedicatórias e outros textos, de Camilo Pessanha (Campinas: Editora Unicamp; Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal), que reúne 19 cartas do poeta português que se encontravam parcial ou integralmente inéditas e 59 que estão disseminadas por livros esgotados e por periódicos de difícil acesso. Obra desde já imprescindível para quem se aventurar a escrever sobre Camilo Pessanha (1867-1928), o livro traz ainda uma minuciosa cronologia que avança até 2010, acrescentando obras, teses acadêmicas, filme e exposições realizadas sobre a vida e a obra do poeta. Nos anexos, além de dedicatórias feitas a amigos e admiradores, há dois textos da lavra do funcionário público Camilo Pessanha: um relatório encaminhado ao secretário-geral do Governo de Macau sobre a atividade pedagógica das Irmãs Canossianas na cidade e uma ata secreta do Governo de Macau, que consta de acervo do Arquivo Histórico de Macau. No primeiro documento, Pessanha, presidente de uma comissão nomeada pelo governo, avalia a atuação de uma congregação religiosa na prática educacional. De sua leitura, vê-se a influência e conseqüências em Macau da revolução republicana de 5 de outubro de 1910, depois da deposição da monarquia em Portugal.  O segundo documento, de certa maneira, relata o inconformismo do poeta diante da provável execução, se fosse extraditado, de um alto dignitário chinês, Lam-Kua-Si, perseguido pelo vice-rei de Cantão. Como observa Daniel Pires no ensaio que escreveu à guisa de prefácio, em razão da dependência de Macau em relação à China, todas as personalidades portuguesas convocadas a aconselhar o governador diante do pedido feito pelo vice-rei se colocaram a favor da extradição, com exceção de Pessanha, que justificou em separado a sua posição, ainda que não houvesse “decerto bandidos mais bestialmente cruéis do que esse Lam-Kua-Si”, como escreveria mais tarde, em 1912. É que ao poeta repugnava o comportamento indigno dos tribunais chineses bem como os métodos desumanos com que as autoridades do país faziam cumprir a pena, métodos tão abjetos que talvez só concorressem em crueldade com os que seriam praticados pelos esbirros da ditadura militar brasileira de 1964. Eis como Pessanha descreve um deles num prefácio que preparou para o livro Esboço Crítico da Civilização Chinesa, de J. António Filipe de Morais Palha, publicado em Macau em 1912: “(…) Entre os suplícios restaurados havia a sensacional morte de gaiola, em que o paciente era suspenso pelo gasnete, mas de modo a poder apoiar no chão os dedos dos pés, e deixado nessa divertida posição, de equilíbrio instável, até morrer de esgotamento”. Continuar a ler

Gonçalo M. Tavares fez sessão no Litercultura, Curitiba

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O premiado escritor Gonçalo Tavares, que tem mais de 220 traduções de suas obras, em 45 países, abriu as sessões da tarde deste sábado no Litercultura, Festival Literário Curitiba 2013 que começou na sexta e vai até domingo. Para quem considera a literatura de Gonçalo Tavares um tanto fria ele diz que prefere provocar menos surpresas e transmitir  emoções mais perenes.

“Não acredito na emoção dos programas de TV em que o apresentador chora. É uma emoção violenta, mentirosa.  Cinco minutos depois ele está rindo”, afirmou Gonçalo ao responder uma pergunta do mediador Flávio Stein.

Ao responder uma pergunta sobre seu processo criativo disse que quando escreve não atende telefone. “Para conversar comigo meus pais colocam um bilhete por debaixo da porta. Se nos encontramos, por acaso, na cozinha quando faço um intervalo para um café, eles já nem me dão bom dia. O mundo da escrita para mim é quase hipnótico”.  Gonçalo resgatou seu cotidiano para explicar porque acredita que muitas vezes  é mais fácil se defender dos inimigos do daqueles que nos amam. O escritor, que está com 43 anos e teve seu  primeiro livro publicado em 2001, prefere escrever pela manhã porque considera estar em  seu melhor estado de lucidez.

Gonçalo falou em lucidez em mais um momento da sessão, ao abordar a transformação que a literatura pode provocar. “Não penso em alteração, penso em lucidez. Lucidez é perceber o que acontece ao redor. Saber que se foi violento com alguém, perceber  isso”, comentou ao se referir ao tema que norteou a conversa “O Bairro e o Reino, o Mal e a Ficção”.

As sessões que aconteceram ao longo da tarde tiveram as presenças dos escritores Miguel Sanches Neto, com mediação de Sidney Rocha. O tema do bate-papo foi “O Escritor como leitor, estratégias e obsessões de leitura de quem produz literatura”.

Em seguida Cristovão Tezza respondeu as perguntas do mediador Christian Schwartz que discutiram o impacto das leitura na formação do leitor e do escritor. Um debate sobre quadrinhos com José Aguiar,Antonio Eder e Fulvio Pacheco abordaram tópicos relacionados a adaptações literárias.

No início da noite Ana Maria Machado, conversou com Sílio Boccanera, num bate-papo intitulado Palavras, palavrinhas, palavrões.

José e Pilar, um filme de Miguel Gonçalves Mendes

 Este filme acompanha o dia-a-dia do casal José Saramago e Pilar del Rio, mostrando-nos o processo criativo do livro a “A Viagem do Elefante”. Momentos do cotidiano, ponteados pelas reflexões de José Saramago, enquanto Pilar, como uma abelhinha, vai cuidando do dia-a-dia do casal, da agenda de Saramago e do próprio Saramago.

Existe uma forte união entre os dois, sem que um apague o outro. Disso mesmo nos dá conta o filme, mostrando Pilar nas suas próprias iniciativas, em diversas conferências e presenças na comunicação social.

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Os 10 melhores livros, de ficção e poesia, da história da literatura brasileira

Em comemoração ao Dia Nacional do Escritor, celebrado em 25 de julho, perguntamos a colaboradores, leitores e seguidores do Twitter e Facebook — escritores, jornalistas, professores de literatura —, quais são os melhores livros — de ficção e poesia — da história da literatura brasileira. Discutível como qualquer lista de melhores, esta também não pretende ser abrangente e reflete apenas a opinião dos participantes da enquete. Abaixo, em ordem classificatória, a lista com os 10 livros que obtiveram o maior número de citações.

Memórias Póstumas de Brás Cubas | Machado de Assis

O mais importante romance brasileiro de todos os tempos. Moderno avant la lettre, revolucionário na forma fragmentária, no tempo narrativo não- linear, no estilo realista-irônico, é ao mesmo tempo um dos mais agudos retratos das elites brasileiras – além de repositório de algumas das passagens mais famosas da literatura em língua portuguesa. Fixação do texto e notas por Marcelo Módolo (professor do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da USP). Prefácio de Abel Barros Baptista (doutor em estudos portugueses pela Universidade Nova de Lisboa; professor do Departamento de Estudos Portugueses da Universidade Nova de Lisboa). Prólogo da 4ª. edição por Machado de Assis.

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Grande Sertão: Veredas | Guimarães Rosa

Este é o único romance do escritor mineiro João Guimarães Rosa. Aqui ele utiliza o idioma do próprio sertão, falado por Riobaldo numa extensa e perturbadora narrativa. Conheça as lembranças desse jagunço em suas desventuras no espaço mítico dos campos gerais e seu impossível amor por Diadorim.

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SOBRAS DE LOUCURA | Cecília Prada

Há na história da literatura uma variedade de escritores que vêm vindo, desde os primórdios da civilização humana,  dois tipos de escritores: os que se dizem “sãos”, normais; e os que são definidos como “loucos”, diferentes– em vários matizes, tonalidades e aceitações. Ou rejeições. Os primeiros são os meninos bonzinhos, o primeiro da classe – ou, meramente, o funcionário público da literatura, aquele que, em nosso tempo principalmente, está mais interessado em sua agenda, conta bancária e feiras de livros, de preferência internacionais. A receita de sua ficção – nós os temos aí às toneladas – é  a falta de estilo pessoal, vertida em prosa sem pensamento ou sobressalto, engordativa e abundante em enredos complicados (os históricos andam muito em moda), de preferência já votados a polpudas versões telenovelescas ou cinematográficas.

Os segundos : é grande sua variedade, englobados que estão dentro da categoria geral de todos aqueles escritores que vieram vindo, séculos afora, nos vários cantos da Terra, empenhados de modo tão visceralmente doloroso e difícil naquela luta “tão vã”– como dizia o poeta Drummond – a luta pela palavra, pela expressão do estranhamento cotidiano de si, do outro, do universo em que estamos todos metidos. Aqueles para os quais escrever é um imperativo interior que pode levá-los a extremos de satisfação ou de sofrimento, uma arte exigente, implacável, e certamente a mais solitária que existe.

Há mesmo na Inglaterra um curioso monumento, não me lembro em que lugar, “em homenagem ao escritor solitário”– uma enorme cadeira vazia que se levanta para  o céu – por entre suas pernas passa a história da humanidade. Homenageia um estranho, atordoado  e já raro ser – o “escritor literário” – que, se ainda não extinto hoje, estertora em meio à enxurrada editorial quantitativa despejada cotidianamente sobre sua cabeçapor todos os meios tradicionais ou up-to-date midiáticos, enquanto ele ainda tenta, qual Camões, salvar-se do naufrágio mantendo intacto o manuscrito de um poema, ou de um romance,  fora das águas.

Um ser que insiste em estar mergulhado, sempre, na compulsão de uma criação cujo mistério chega a desafiar até mesmo um dos maiores escritores da atualidade, Gabriel Garcia Marques, que pergunta: “Que tipo de mistério é esse, que faz com que o simples desejo de contar histórias se transforme numa paixão, e que um ser humano seja capaz de morrer por essa paixão, morrer de fome, de frio ou do que for, desde que seja capaz de fazer uma coisa que não pode ser vista nem tocada, e que afinal, pensando bem, não serve para nada?”

 

(É disso que trata meu décimo-terceiro livro, “PROFISSIONAIS DA SOLIDÃO”(artigos sobre literatura), que acaba de ser lançado pela Editora SENAC, de São Paulo – para o qual, gostaria muito esta autora de encontrar também editor em Portugal e em outros países lusófonos…)

O DEBITADOR por Cristina Carvalho

cc 01E então o rapaz levanta-se, entorta, ligeiramente, mas só ligeiramente a cabecinha para um lado – reminiscências de infância! -, ajeita os seus dois relógios, um em cada pulso, um verde, outro amarelo, esfrega as mãos, simula um auto-abraço, entrelaça os dedos das mãos, começa a andar de um lado para o outro do palco, com frenesim e alguma estudada e ensaiada atitude nervosa e começa a debitar um incompreensível, na sua totalidade, amontoado de palavras.

Dirige-se a um público atordoado – pensa ele – por tantas e singulares afirmações, um público que nem sabe bem onde é que está e o que veio ouvir.

O jovem debitador vomita e defeca palavras que não existem, questiona, ilude, prestidigita, inventa; o jovem debitador apresenta uma energia doentia, é baixote e ágil como um ladrão; forma frases compridíssimas, com mais palavras estrangeiras que portuguesas; tenta convencer em acto desesperado; de tempos a tempos, ergue os braços e incita a plateia a levantar-se e a aplaudir e faz-se de tal maneira insinuante que, num primeiro vislumbre, até confunde. E faz gestos que incitam a plateia a levantar-se, observa, ri-se e manda sentar, de novo! Apreciou a constatação: levantaram-se e baixaram-se a seu comando!

Eu sou quase Deus!

O jovem debitador não diz absolutamente nada. Nada de nada! É de uma banalidade confrangedora. São toneladas de lugares-comuns, resmas de frases feitas, pensamentos cansados, esgotados de tanto ouvidos. É um autómato, uma figura de cera que, se fôr deixada ao sol, derreter-se-à num ápice. Ele não sabe, ele não sente. Não deve ter sangue. A sua proclamada ambição e o seu expresso desejo é que todos os jovens deste desgraçado país trabalhem. E ele existe para nos convencer que, se não trabalham, é porque não querem e que se trabalhassem tinham sucesso garantido! Basta a vontade!! O rapaz é cansativo. Rebenta-nos de cansaço! Fala à velocidade da luz e não dá tréguas. Não tem tempos. Não tem noções. Impõe. Exige! Ordena!

Expulsa! Tudo explode à sua volta! Não! Não quero ouvi-lo nem mais uma fracção de segundo em todo o resto da minha vida!! Irra!

O debitador tem sido recebido em todo o lado. Nas televisões, nas rádios, nos jornais como se de um Messias se tratasse, um espalhador da palavra, um arrebimba-o-malho de certezas e confianças no nada, no zero. Nada! Diz nada! Não há, naquele discurso, nada de coerente, de sábio, de conhecedor. Não há vida. No seu discurso existem todas as sombras de todos os desesperos, de todas as angústias, de todas as incertezas.

O ignóbil disto tudo é o sorriso satisfeito dos que o elegeram para encabeçar um movimento destes: o empreendedorismo jovem! E também daqueles que lhe dão cobertura mediática. É que isto chama audiêêências! Muitas!

No olhar deste rapaz não existe nada a não ser a vontade desmedida de se fazer notado seja de que maneira seja. Um case study, para usar umas das suas muitas lenga-lengas anglo-saxónicas e que passo a dar exemplos:

Mind set, interface, feedback, swaip, pitch, slide, as we speak, expertise, spam, newsletters e desculpem-me os erros, que alguma coisa deve estar mal escrita.

Não existe naquele olhar uma única estrela! Nem um grão de pó de estrela! Não há o desenho do infinito, não há um horizonte de sonho, ainda que possa parecer. Daquele sonho inalcançável, que faz dos homens seres excepcionais. Não há sedas, nem veludos, nem esconderijos secretos, nem absurdos de fantasias! Não há nada que se vislumbre naquele olhar de tão perdido que anda!

Que triste vida!

Cristina Carvalho

Agosto 2013 – Pnet Literatura

http://pnetliteratura.pt/cronica.asp?id=5947 … (FONTE)

Sem Barreiras Arte Russa 1985-2000: Que farei com esta liberdade?

Quem visitou São Petersburgo talvez se recorde de ter visto, no Museu Russo – que alberga uma das maiores e mais imponentes colecções de arte russa do mundo – o quadro de Karl Briullov (1799-1852), um dos mais reconhecidos artistas do seu tempo, “A morte de Inês de Castro” (1834). Este encontro inesperado com uma página da história portuguesa na capital cultural da Rússia não deixa certamente de emocionar. Também o registou Fernando Namora, em “Os adoradores do sol” (1971), crónica de viagens à Escandinávia e a São Petersburgo, então Leninegrado. Na mesma obra, escreveu, também “O sol, como a saúde, como a liberdade, só se dá por ele se é escasso. Ou se o perdemos”.

Semaforo 02

Vêm estas palavras à memória, transmutadas em perguntas, a propósito da exposição “Sem Barreiras Arte Russa 1985-2000”, inaugurada no mesmo Museu Russo em Dezembro de 2012. Que acontece quando se reencontra a liberdade? Ou se adquire uma liberdade que nunca se teve antes?

Retrato de um tempo enquanto meio do artista que o retrata

1985-2000: estes foram os anos das reformas globais do sistema socialista soviético, a “Perestroika”, anos de revoluções profundas e sucessivas em todas as esferas da vida de um país que acabaria por deixar de existir e da dos países que lhe sobreviveram. Recordemos algumas datas fundamentais: em 1985-1990 dá-se o início da liberalização política; surge a imprensa independente, são legalizadas fontes de informação ocidentais, é publicada literatura antes silenciada; fazem-se as primeiras tentativas de reforma da economia planificada; 1989 é o ano da queda do Muro de Berlim e do fim da Guerra Fria; desenrola-se o processo de desintegração da União Soviética, cuja existência cessa oficialmente em 1991, processo que envolveu confrontos com intervenção de forças militares nas ex-repúblicas; entretanto, intensifica-se a crise económica, verifica-se um défice total de produtos de primeira necessidade; em 1992 são levadas a cabo reformas económicas “de choque” de transição para a economia de mercado; a inflação sobe em flecha; em 1993 dá-se uma crise constitucional acompanhada por um conflito armado em Moscovo; em 1994 ocorrem actos terroristas em Moscovo e outra cidades russas, e também no Cáucaso; em 1998 dá-se uma profunda crise económica, com a desvalorização abrupta do rublo e a derrocada do sistema bancário; inúmeros cidadãos perdem as suas poupanças.

Escusado será dizê-lo, foram anos em que o Museu Russo não dispunha de meios para adquirir obras para o seu espólio. Mas foram os anos em que muitas obras que se encontravam nos depósitos foram expostas, de novo ou pela primeira vez. Entre outras, realizam-se no Museu Russo, nos finais dos anos 80, as exposições de Pavel Filonov (1883-1941), Vassili Kandinsky (1866-1944) e “Arte dos anos 1920-1930”, em 1996 a retrospectiva de Vladimir Tatlin (1885-1953) e em 1997-1998 a exposição “Mosteiros Russos: Arte e Tradição”. No vizinho Museu Ermitage, em 1988, acontece a exposição de arte ocidental do século XX “Época de descobertas”. Em 1989, no Parque de Exposições Lenexpo, também em Leninegrado, tem lugar a exposição “Da arte não-oficial à perestroika: 40 anos de underground em Leninegrado”.

Como escreveu Mark Petrov, num dos artigos incluídos no catálogo da exposição “Sem Barreiras Arte Russa 1985-2000”, assistiu-se naquele período ao “enfraquecimento abrupto das funções censório-repressivas dos institutos estatais, chamados a zelar pela cultura na sociedade do socialismo triunfante. (…) A ideologia enquanto sistema de medidas proibitivas deixa de ser factor determinante na organização da vida artística ainda antes da mudança de regime, e depois, durante os anos 90, deixa completamente de existir”.

Por escolha consciente, os mais de 200 artistas representados na presente exposição são artistas que não emigraram até 1985 ou que viviam na Rússia pré- ou pós-soviética na altura em que criaram as obras expostas. O olhar dos artistas que emigraram foi necessariamente influenciado pelas novas circunstâncias em que se encontraram, e talvez pelas expectativas da cultura com que se depararam; por exemplo, verifica-se que a desconstrução e desvalorização do sistema de símbolos soviéticos, quando patente, tem contornos mais suaves nas obras dos artistas que ficaram. Pretendeu-se que a exposição fosse sobretudo reflexo de uma vivência na Rússia em 1985-2000, mostrando os caminhos que foram trilhados como resposta à pergunta que se colocava, também, no plano artístico: que fazer com a nova liberdade?

Pintar a realidade, sem barreiras

E o que é isso de “liberdade”? Um “contra tudo e contra todos” por definição, uma liberdade egoísta e hedonista, ou responsável e com valores? E que valores, agora que “nada é proibido”? Que fazer, quando todos os caminhos, na arte como na vida, são uma possibilidade e não há regras, barreiras ou indicações, como simboliza o “Semáforo”, tela do início da década de 90, de Aleksandre Petrov (n. 1947), com as luzes vermelha, amarela e verde acesas em simultâneo?

Há ainda hábitos de receio: na tela “Autoretrato (com censura interior)” (1988), de Valeri Lukka (n. 1945), há um rosto sem feições definidas e um corpo como uma massa que se desprende, viscosamente, da massa envolvente.

Há o desejo de ironizar com os símbolos do passado soviético – a desconstrução semiótica de um sistema é uma constante da revolução que leva à mudança desse sistema. Na escultura “Lira russa” (1985), de Aleksandre Sokolov (1941-2009), a foice e o martelo transformam-se numa lira, rudimentar e tosca, mas que é, ao mesmo tempo, uma evocação do “Contra-relevo de canto” (1915) de Tatlin – símbolo da arte de vanguarda russa do princípio do século XX que foi inicialmente associada ao regime saído do Golpe Bolchevique de 1917, mas que passaria a ser, a partir dos finais dos anos vinte, arte “non grata”; na tela “Em Pereiaslavle” (1987), de Ekaterina Grigorieva (1928-2010), mulheres conversam numa praça da cidade de Pereiaslavle, levantando um braço num gesto que repete o braço estendido de Lenine na estátua no meio da praça; na paisagem fabril da tela “Levam-no” (1997-1998), de Iuri Chichkov (n. 1940), cinco homems levam em ombros uma estátua de Lenine, o mesmo braço estendido, num cortejo fúnebre, encabeçado por dois músicos de jazz; na tela “Ameixas em calda” (1988), de Oleg Zaika (n. 1963), uma lata de ameixas em calda é elevada à categoria de ícone “Soc-art” (“arte socialista”): trata-se de uma lata “artesanal” e imperfeita, em vez dos contornos bem definidos das latas de sopa Campbell’s de Andy Warhol.

Há o empenho em registar e narrar a realidade: telas realistas e hiper-realistas que não cantam a beleza idealizada do trabalho e das gentes, mas constatam a fealdade do quotidiano, como o bêbado em “Levanta-te, Ivan!” (1997), de Hélio Korjev (1925-2012), as filas intermináveis em “Fila” (1989), de Aleksei Sundukov (n. 1952) ou o desencanto no rosto dos mais velhos em “Velhice feliz” (1988), de Tatiana Nazarenko (n. 1944); que não descrevem celebrações populares solenes, mas momentos de descanso na relva, com vodca e pão com chouriço, sem pompa nem glória, como a tela “Na relva” (1983-85), de Fiodor Kunitzin (n. 1951); que não mostram as virtudes da vida no campo, mas desalento, como em “Jantar na aldeia” (1987-88), de Vladimir Cherbakov (1935-2008) – mãe e filho, pão e um ovo sobre a mesa, cansaço nos olhos da mãe, que deita leite numa chávena, mudez nos olhos do filho, que tudo vê.

Memórias, destroços, metáforas

A realidade rima com desencanto e inquietação: a escultura “Rapto” (1987), de Vladimir Soskiev (n. 1941); a tela de Igor Orlov (n. 1935), “Pressentimento” (1988), uma paisagem, à primeira vista, clássica e harmoniosa, com montes, árvores e casas, uma luz de fim de tarde, mas em que a harmonia logo se quebra, pois que as casas afinal resvalam para um abismo; “À procura de Ícaro” (1990), escultura de Pavel Chimes (n. 1930), em que Ícaro, de asas abertas, jaz, caído, e em cima dele a multidão amontoa-se, olhando para o longe à procura de um sinal, rostos que parecem murmurar “E agora?”; a escultura “Estrela caída” (1991), de Vassili Pavlovski (1932-2009).

Na tela “Recordação do futuro” (1989), de Mark Petrov (1933-2004), encontramos a saudade de ideais por cumprir, expressa nos rostos cinzentos-azulados que se recortam num fundo de referências a heróis de várias épocas, um rosto que olha para o momento presente, outro para o passado, outro para o futuro. Será também esta saudade, com ironia desencantada, que exprime Konstantin Persidski (1954-2008) na tela “O bolo” (1999-2000): a Rússia, simbolizada pela Praça Vermelha em Moscovo, é um enorme bolo coberto de velas, em cima de uma mesa à volta da qual, de pé, em vestes cinzentas e de rostos cinzentos, avidamente uns, tristemente outros, esperam, silenciosamente, a sua fatia, os “proletários e camponeses”, as longas mãos esguias e vazias. Velas que assinalam mais um aniversário do Golpe de Outubro de 1917, ou da mais recente revolução, a “Perestroika”; fatia que, claramente, não lhes chegará ao prato, como realça o contraste da cor – o bolo, cor desmaiada de tijolo, e a envolvente cinzenta da mesa e dos pratos vazios, dos corpos e das faces, do fundo azul de chumbo.

Há toda uma atmosfera de desesperança e abandono: na paisagem cinzenta e branca de neve, cães e corvos na tela “No boulevard” (1983-88), de Nikolai Andronov (1929-1998); nas manchas cinzentas do céu e das asas das aves na tela “O lento voo dos corvos” (1988), de Irina Starzhenetskaya (n. 1943);  na tela de Vladimir Chinkarev (n. 1954) “No hospital Skvortzov-Stepanov” (1990), em que a enfermaria de um hospital se transforma em paisagem, também ela cinzenta, onde as paredes e o tecto são como o rio e o céu que prolongam o espaço das camas, a cidade é assim uma enorme enfermaria, um espaço colectivo de sofrimento; na tela “Chá” (1997), de Ludmila Markelova (n. 1959), onde muitas mãos se estendem para um único prato e para um único bule minúsculo, numa mesa em tons vermelhos escuros de amora e malva, visível um único rosto, cor de mostarda; na tela “Outono” (2000), de Serguei Kitchko (n. 1946), onde há maçãs e folhas caídas e caindo nas ervas e em cima de uma velha mesa e duas cadeiras de madeira, chagas abertas na tinta azul, um jarro de água esquecido sobre a mesa.

Há também a solidão: nas telas “Metro” (1986-88), de Gueorgui Koventchuk (n. 1933), em que o túnel das escadas rolantes ressoa em ondas de amarelos e vermelhos, como gritos de Edvard Munch, ou “Era uma vez Zinaida, a bela” (1992), de Vladimir Iachke (n.1948), um retrato de mulher que é uma síntese de Vincent van Gogh e Henri de Toulouse-Lautrec.

Há o preservar da memória pessoal e íntima – por oposição à memória colectiva – no espaço e nos objectos, como na “Fotografia de recordação” (1984-85), de Erik Bulatov (n. 1933), uma paisagem bucólica em que, recortados como sombras chinesas, mas a vermelho – para que a recordação seja mais vívida? – estão quatro amigos, sentados num banco, talvez para sempre fisicamente longe da paisagem que conserva a memória deles, ou na escultura em ferro fundido e bronze “A sombra da minha Avó” (1999), de Marina Spivak (n. 1955), em que os contornos, como um espectro, de uma figura de mulher, sentada a uma máquina de costura Singer, tão metálicos como a própria máquina, fazem já parte dela.

Há a memória da repressão, traduzida em metáforas na tela “Sombra mortal” (1992), de Boris Sveshnikov (1927-1998), herdeira da arte analítica de Filonov, um mosaico em tons de azul e verde, que é feito, afinal, de caveiras; nesse mosaico há também dois rostos, um deles o rosto da morte, o galo, símbolo da traição, e a dança da morte, no horizonte, como nas cenas finais do filme “O sétimo selo” de Bergman.

Há o sentimento de mudança de uma era: na tela “Movimento dos gelos” (1987), de Victor Ivanov (n. 1924), em que a estética do “estilo austero”, renovação dentro do realismo socialista nos anos 60, faz parte da metáfora, pois veste aqui uma temática não correspondente e cheia de densidade psicológica, há um grupo de homens e mulheres, uma delas com uma criança ao colo, expressivas silhuetas gráficas recortadas na paisagem azul, que observam, imóveis e solenes, a passagem das massas de gelo flutuando no rio depois do inverno.

Há o sentimento de que é preciso começar tudo de novo, e não se sabe como: na tela de Helena Figurina (n. 1955), “Brincadeira na areia” (1988), com referências às telas de Henri Matisse “A dança” e “A música” (a propósito, ambas no Museu Ermitage) mas em amarelos e laranjas, cinco homens-embriões tentam, sem instruções e sem roteiro, (re)construir a realidade a partir da areia, matéria limitada e que se lhes escapa por entre os dedos.

Renascimento

Mas há também esperança no meio dos destroços: na tela “Rapazinho colhendo ameixas” (1999), de Larissa Naumova (n. 1945), um rapazinho, banhado pelo sol da manhã, procura ameixas no meio de um amontoado de troncos de bétula caídos, um bosque branco destroçado em que as ameixas são o único toque de cor, embora triste, e olha para nós, como que surpreendido pela nossa presença, talvez com um pedido mudo de auxílio.

Há curiosidade e amor pela vida: na escultura “É só o começo…” (1989), de Adelaida Pologova (1923-2008), em que uma mulher, engelhada pela idade, tenta caminhar, podem ler-se, na base, os versos finais do poema de Paul Claudel “A resposta do sábio Hsien Yuan”: “Porque é que dizemos que é o fim de tudo, quando, na verdade, é só o começo”.

Há, enfim, renascimento espiritual e religioso, depois do colapso do sistema que, propondo-se moldar o homem novo e livre, perseguiu o Cristianismo, demoliu igrejas e catedrais, arrasou cemitérios. Uma metáfora para este renascimento é a tela de Ivan Uralov (n. 1948), “O anjo da nossa aldeia (Achado)” (1998), harmoniosa como um fresco muito antigo, acentuando a ligação com o passado, onde duas mulheres, perto de um rio, se debruçam sobre a figura de um anjo, que jaz como que numa sepultura – o anjo reencontrado da igreja da aldeia (cada igreja tem um anjo, e o anjo continua nesse lugar, mesmo se a igreja tiver sido destruída).

Alguns artistas escolhem a Paixão de Cristo como tema das suas obras: as telas “Levando a Cruz” (1996), de Serguei Repin (n. 1948), “Crucificação” (1994), de Natália Nesterova (n. 1944) e “Gólgota” (1988), de Evcei Moiceenko (1916-1988).

Também profundamente simbólica é a tela “Ícone novo” (1990), de Ivan Lubennikov (n. 1951). Representa um ícone cujos traços são quase indefinidos, como que apagados, destruídos pelo tempo e pelo abandono. Mas sobre essa forma esfumada aparece claramente recortada uma cruz branca, e ainda outra cruz preta, mais pequena, e outra, e outra, cruzes essas que são, ao mesmo tempo, atributos das vestes dos santos em alguns ícones da Rússia Antiga e referências inequívocas ao suprematismo de Casimir Malevitch. “Ícone Novo” aparece assim como uma metáfora para a regeneração da fé Cristã: a religião renegada renasce, emergindo mesmo através das formas da arte que foi um dia símbolo do sistema que a renegou.

Extremos que se tocam

Em 1985-2000, há também artistas que aparecem como herdeiros do abstraccionismo russo e soviético das três primeiras décadas do século XX. A vanguarda de ontem tansforma-se assim em tradição interrompida, à qual se retorna para expressar uma outra realidade nova. Encontramos, por exemplo, referências ao abstraccionismo expressivo de Kandinsky, na “Composição Nº3” (1990), de Leonid Tkatchenko (n. 1927) e ao construtivismo de Tatlin, no tríptico “Contra-relevo-estéreo” (1993), de Viacheslav Koleitchuk (n. 1941), em que o painel central, “Contra-relevo-estéreo em estilo arcaico”, é uma reinvenção do motivo da cruz.

Salientam-se ainda a renda geométrica dos barcos inquietos na paisagem metafísica verde de Mikhail Shvartzman (1926-1997), na tela “Perturbação” (1985), a perspectiva e a luz pastel da cidade abstracta de Valentin Levitin (n. 1931), evocando os pátios sempre presentes de São Petersburgo, na “Composição” (1990-92), a luz e as sombras nas texturas simultaneamente diáfanas e telúricas na tela “Obra apócrifa” (1999-2000), de Vladimir Dukhovlinov (n. 1950) e a arquitectura do edifício formado pela memória dos textos sucessivamente raspados e reescritos no “Palimpsesto (Deslocamento da haste)” (2000) de Serguei Sergueiev (n. 1953), tela que é mais uma metáfora para o desaparecimento de uma era e o aparecimento de outra.

Uma tradução é sempre uma interpretação, e o descodificar dos vários conteúdos apresentados na exposição “Sem Barreiras Arte Russa 1985-2000” aqui proposto propõe-se ser ponto de partida para a leitura em contexto da mesma exposição. E, porque os extremos se tocam, nas espirais do tempo e das formas, poderá ser ainda ponto de partida para outras reflexões, dramaticamente relevantes no momento presente. “Durante a vida, fui vendo cair o que, em jovem, parecia estar de pedra e cal. Ou me diziam que estava firme como o aço”, diz um dos heróis do romance “A falha” (1998), de Luís Carmelo. Que fizemos com a nossa liberdade? Que fazemos com a nossa liberdade?

Ana Luísa Simões Gamboa, em São Petersburgo

http://pnetliteratura.pt/cronica.asp?id=5945 … (FONTE)

Da Wikilusa, a Enciclopédia de Portugal antonio valdemar - jornalista  e escritorAntónio Valdemar, (Ilha de São MiguelAçores) é o presidente da Academia Nacional Belas Artes, sócio efectivo da Academia das Ciências, membro da Academia Portuguesa da Históriainvestigadorolisipógrafo e jornalista profissional.

Vida e obra

Tem desenvolvido, a partir do final dos anos 50, intensa actividade cultural, com textos de intervenção crítica, abordagem e pesquisa histórica, além da participação em colóquios, júris e conferências. Tem investigado e publicado trabalhos acerca da história e a evolução de Lisboa, nas suas múltiplas transformações sociais, políticas, literárias, artísticas e urbanísticas. É também autor de inúmeros outros trabalhos publicados em livros, jornais e revistas a propósito dos Açores. Organizou, em 1988, com o patrocínio da Câmara Municipal da Ribeira Grande, da Presidência da Republica e da Academia Nacional de Belas Artes a I Semana do Barroco, com a intervenção de intelectuais e críticos de renome nacional. O Conselho da Europa associou-se a esta manifestação. Presidiu ao grupo que procedeu à coordenação da informatização e digitalização dos tomos do Inventário Artístico de Portugal do Distrito de Aveiro (Zona Nordeste, Norte e Sul); Distrito de Beja (Zona Norte); Distrito de Coimbra (Cidade e Distrito), Distrito de Évora, Distrito de Leiria, Distrito dePortalegre, Cidade do Porto e Distrito de Santarém. Representante em Portugal e no estrangeiro da Academia Nacional de Belas-Artes no Conselho Europeu das Academias de Belas-Artes, tem representado, igualmente, a Academia, dentro e fora de Portugal, em congressos, seminários, simpósios e outras reuniões de projecção nacional e internacional. Faz parte, desde 1987, dos júris anuais de atribuição dos prémios da Academia Nacional Belas-Artes, José de Figueiredo, Doutor Gustavo Cordeiro Ramos, Aquisição e Investigação. Dirigiu, durante seis anos, a galeria Diário de Notícias, no Chiado. Organizou dezenas de exposições de escultores, pintores e ceramistas. Entre outras destacam-se uma retrospectiva de Barata Feyo, escultura e desenho e outra de João da Silva, com grande destaque na área da medalhística. A carreira profissional de António Valdemar principiou, em 1958, no jornal República colaborando, entretanto, no Diário de Lisboa. Entrou em 1960 para o quadro do Diário de Notícias, esteve ligado ao grupo fundador de A Capital; desempenhou o cargo de chefe de redacção de A Vida Mundial; exerceu de 1968 a 1980 a chefia de redacção, em Lisboa, de O Primeiro de Janeiro, regressando depois ao Diário de Noticias. Desde o noticiário e a reportagem até à entrevista, à crónica e ao artigo de opinião acompanhou os grandes acontecimentos nacionais ocorridos nas últimas décadas. Integrou, o gabinete editorial do Diário de Notícias, leccionou jornalismo no Instituto Politécnico de Santarém; e orientou em vários locais do País outros cursos de Comunicação Social e de Cultura Portuguesa (séculos XIX e XX). Participou durante vários anos no desenvolvimento do programa de incentivo ao livro e à leitura, sendo co-autor com Jacinto Baptista de dois volumes publicados pelo Conselho de Imprensa e pela Alta Autoridade da Comunicação social. Teve um programa diário na RTP2, de 1984 a 1996; foi colaborador permanente do programa ACONTECE da RTP, dirigido por Carlos Pinto Coelho; é colaborador efectivo, desde 2007, do semanárioExpresso, no caderno de arte e cultura ACTUAL.

Obra publicada

É autor, entre outros, dos seguintes livros:

Prefaciou: Hermano Neves, a Grande reportagem, da autoria de Norberto Lopes;

  • Memórias de Um Ex Morfinómano, de Reinaldo Ferreira (Repórter X) edições portuguesa e brasileira.
  • Amores da Cadela Pura I e II, memórias de Margarida Vitória, marquesa de Jácome Correia
  • Os Maias, de Eça de Queiroz, edição comemorativa do centenário promovida pelo Circulo dos Leitores
  • Nemésio, sem limite de idade, foi editado pelo Clube do Coleccionador e lançado, em 2001, nos Açores (Horta e Angra) no âmbito das manifestações comemorativas do centenário do nascimento do autor de Mau Tempo no Canal.

Reproduz inúmeros autógrafos inéditos e percorre passo a passo os múltiplos aspectos da vida e da obra de Vitorino Nemésio. Para a publicação oficial, da Presidência da República, das Comemorações do 10 de Junho de 2002, efectuadas em Beja, com uma exposição bio-bibliográfica e iconográfica sobre Mariana Alcoforado, escreveu;

  • As Cinco Cartas do Desassossego.

Acompanhou a última viagem presidencial de Jorge Sampaio ao estrangeiro, sendo o orador oficial na homenagem prestada a Teixeira Gomes em Bougie e o autor do livro e antologia de textos literários de Teixeira Gomes Um Português no Magreb, com prefácios de Jorge Sampaio e Abdelaziz Bouteflika (presidente da República da Argélia). Este livro foi traduzido em árabe por Badr Hassanien, numa edição conjunta do Instituto Camões e da Presidência da República A importância de trabalhos de António Valdemar e/ou a colaboração que prestou a obras de erudição vêm assinaladas na História de Portugal de Veríssimo Serrão e na última edição da História de Literatura Portuguesa de António José Saraiva e Óscar Lopes.

Prémios

José de Figueiredo, por duas vezes, para o melhor estudo na área da história (Chiado: o peso da Memória-1991 e A Cidade dos Sítios-1994); Prémio Júlio César Machado – 1987, para a melhor reportagem ou artigo sobre Lisboa – Cesário Verde em novos manuscritos; Prémio Júlio de Castilho – 1990, para o melhor livro sobre Lisboa Chiado: o Peso da Memória. Tem o grande oficialato das ordens honoríficas portuguesas. Foi condecorado, em 1991, no Dia de Portugal, em Tomar, pelo Presidente da República, Mário Soares com a Ordem de São Tiago; e, em Maio de 2000, pelo Presidente da República Jorge Sampaio, com o Grande Oficialato da Ordem de Mérito. Também foi condecorado pelo Presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso com a Ordem do Rio Branco. Recebeu, em Maio de 2008, a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores atribuída, por unanimidade

Leitura pública de “Macunaíma no meu Pátio” de Luís Carmelo a 18 de Julho, quinta-feira | 18.00 horas no CNC – Centro Nacional de Cultura

LUISCARMELO

Leitura pública de “Macunaíma no meu Pátio”
de Luís Carmelo
18 de Julho, quinta-feira | 18.00 horas

Sala Sophia de Mello Breyner, Centro Nacional de Cultura
Rua António Maria Cardoso, 68

Entrada livre

“Macunaíma no meu Pátio” é um livro inédito de Luís Carmelo. Baseado na rescrita de Macunaíma de Mário de Andrade, o relato segue as instáveis linhas narrativas do original brasileiro, embora recrie e reinvente tudo o resto: espaço, linguagem, ritmo, mitologias e situações. Escrito em Abril de 2013, a obra, antes ainda de conhecer a sua edição em papel, vai ser apresentada em público em Évora através duma leitura que será levada a cabo pelo próprio autor.

Teolinda Gersão na Casa da Cultura de Setúbal

1012204_10200330228120809_459363711_n“São Cadernos espelhados uns nos outros, de algum modo autónomos, embora estejam interligados. Vêm de vários tempos, circunstâncias e lugares, podem encaixar-se como matrioscas ou fugir em todas as direções como fagulhas. Formarão, eventualmente, no fim, uma constelação? Não tenho nenhuma certeza.”

São registos de geometria variável, sem a rigidez cronológica das memórias ou a objectividade do “eu” biográfico. “A liberdade de uma escrita solta, ao sabor do acaso”.

Esta sexta, Teolinda Gersão apresenta o seu mais recente livro nas conversas Muito cá de casa, na Casa da Cultura de Setúbal. António Ganhão, do PNet Literatura, vai moderar.

O Muito cá de Casa é uma iniciativa da DDLX e da Câmara Municipal de Setúbal – Divisão de Cultura, e conta com a colaboração de PNet Literatura, livraria Culsete e BlogOperatório.

Onésimo Teotónio Almeida | sexta-feira, 5 de Julho às 18h30 | Fundação Dr. Luís Rainha, Póvoa do Varzim

Lembramos que é já esta sexta-feira, 5 de Julho (depois de amanhã, portanto), às 18h30, que Onésimo Teotónio Almeida apresentará, na Póvoa, na recém-inaugurada sede da Fundação Dr. Luís Rainha, sita à Rua da Alegria, nº. 10 (ali ao pé da Igreja de S. José), o seu mais recente livro, Quando os bobos uivam. A sessão contará com um apontamento musical interpretado à viola, por Bruno Ribeiro.

Onésimo Teotónio Almeida é um dos convidados residentes do Festival Literário Correntes d’ Escritas, imprescindível companhia em qualquer momento.

Manuela Ribeiro

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Cien libros para ordenar el caos in “El País/Cultura”

Expertos de 14 países preparan una lista antes de la entronización del libro digital: un canon de la literatura occidental para las bibliotecas familiares

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…Homero, Woolf, Rulfo…

Orden en el caos. Jerarquización en la anarquía. Boyas en medio de un océano tempestuoso. Semáforos en la imbricación entre los mundos analógico y digital. Ideas satanizadas en los últimos tiempos en nombre de la libertad y la relativización de valores artísticos, pero que ahora quieren reivindicar para la literatura 57 expertos de 14 países. Propondrán una biblioteca de cien obras de ficción y cien de no ficción del mundo occidental que no deben faltar en las familias, en las bibliotecas de las casas. Doscientos libros que serán editados en papel antes de que el mundo digital arrincone el modelo tradicional.

…Platón, Gogol, Faulkner…

De La Biblia a García Márquez. Entre medias, como en toda lista, no sobrará ningún libro, pero sí faltarán algunos, según cada lector, de acuerdo al ejemplo de lista que presenta Miguel Ángel Garrido Gallardo, investigador del CSIC y presidente del Congreso Internacional La biblioteca de Occidente en contexto hispano, que empezó ayer y terminará el sábado en Madrid, con escala el miércoles en San Millán de La Cogolla. Un encuentro organizado por la Universidad Internacional de La Rioja (UNIR), el CSIC y Cilengua; con ponentes como José- Carlos Mainer, crítico literario español y profesor de la Universidad de Zaragoza; José Manuel Sánchez Ron, académico y profesor de la Universidad Autónoma de Madrid; Michel Zink, del Còllege de France en París; y Giovanni Maria Vian, de la Universidad de La Sapienza de Roma.

…Ovidio, Dante, Whitman…

¿Qué cien libros de ficción se deberían conservar en los hogares? ¿Cuáles de ciencia, filosofía, política, historia o economía? El espíritu del congreso, según Garrido Gallardo, no es crear un canon propiamente dicho, sino proponer una serie de títulos esenciales para apreciar, disfrutar y comprender la literatura y el curso de su historia inacabable. Por eso los libros que salgan de ese congreso no serán necesariamente los previsibles de un autor o de un movimiento o de una época concreta. Se trata, según Garrido Gallardo, “de mostrar la diversidad de la creación literaria a lo largo de la historia y de elegir las obras cuya lectura pueda resultar de más fácil acceso a los lectores generales, y en especial a aquellos más reticentes. Buscaremos conquistar lectores”.

…Shakespeare, Byron, Orwell…

No es atrincherarse en la nostalgia o el pasado, aclara José María Vázquez García-Peñuela, rector de la UNIR. Es recordar y aprender que nada viene de la nada, que autores como Sófocles o Lope de Vega o Proust son esenciales en la creación literaria no solo para los lectores sino, especialmente, para otros escritores porque sus lecturas les han permitido la renovación de la literatura.

…Cervantes, Brontë, James…

Es un golpe sobre la mesa en el mundo de la Red y de la sobreinformación donde todo tiende a ser valorado de la misma manera. Para Mainer, es una respuesta a la banalización del contenido de la cultura en todos los ámbitos y “peor en Internet”. Un momento en el cual con cierta frecuencia, advierte Mainer, los temas presentes o novedades creativas adquieren demasiada relevancia. A su vez, afirma, en el campo de la academia ha aumentado un tipo de demagogia a través de la cual los profesores privilegian la novedad literaria para los alumnos sobre las obras tradicionales.

…Bocaccio, Eliot, Tolstói…

Mainer reconoce que el canon es complejo, y por eso mismo esencial: “No es solo el reconocimiento de rango estético superior de una obra, sino que indica cómo ha sido el momento, reflejo de la herencia colectiva”.

…Goethe, Austen, Kafka…

No es seguro que el sábado, una vez concluya el congreso, esté la lista definitiva; lo que sí está claro, según Garrido Gallardo, es que saldrá el elenco de directrices y criterios para dicha selección. Algunas coordenadas podrían ser: una obra por autor, un libro por movimiento literario y solo entrarán títulos que tengan como mínimo 50 años, tiempo suficiente para haber decantado su valor. Para Garrido, por ejemplo, en su propuesta del realismo francés clásico no estarían ni Balzac ni Stendhal, su elección es Gustave Flaubert, y no con Madame Bovarysino con Tres cuentos.

Es la élite deselitizada.

…Plutarco, Andersen, Chéjov…

Uno de los últimos en proponer un canon occidental, y muy polémico, fue Harold Bloom. Era 1994. Bloom cree que ahora más que nunca se requieren de estos puntos de referencia porque, como dijo hace año y medio: “Esa literatura, la canónica, que parece agonizar, es fundamental conocerla si queremos aprender a oír, a ver, a pensar… A sentir…”.

…Garcilaso, Molière, Dostoievski, Ibsen, García Lorca, Guimaraes, Milton, Hamsun, Borges, Beckett, Darío…

http://www.bloglovin.com/frame?post=1189747625&group=0&frame_type=a&blog=2931560&link=

aHR0cDovL2Jsb2d0YWlsb3JzLmNvbS82NzQ1MzMwLmh0bWw&frame=1&click=0&user=0 … (FONTE)

Jantar da Tertúlia Sintrense com Cristina Carvalho | 25 Junho, 20h, Restaurante Apeadeiro

A próxima Tertúlia Sintrense, a 25 de junho, conta com a presença da escritora Cristina Carvalho, filha da também escritora Natália Nunes e do poeta António Gedeão. Entre os seus livros contam-se romances deliciosos e destinados a todas as idades como “O Gato de Uppsala” e “Lusco-Fusco”, e outros como “Nocturno: O Romance de Chopin” e o último “Marginal”, entre muitos outros livros. Cristina Carvalho tem-se dedicado também a preservar e divulgar a obra de seu pai, António Gedeão, tendo publicado recentemente “Rómulo de Carvalho/António Gedeão Príncipe Perfeito”. Conversar com ela é falar de fadas e gatos, de viagens, de palavras, de histórias que se contam como quem respira. É também trazer à baila a figura ímpar do pai, da sua obra e da sua vida como professor de Físico-Química, divulgador de temas científicos, cidadão de raro rigor, poeta nunca por demais cantado. Inscrições: 21 923 85 99 Cristina Carvalho 1

Que Importa a Fúria do Mar | Ana Margarida Carvalho

teoNuma madrugada de 1934, um maço de cartas é lançado de um comboio em andamento por um homem que deixou uma história de amor interrompida e leva uma estilha cravada no coração. Na carruagem, além de Joaquim, viajam os revoltosos do golpe da Marinha Grande, feitos prisioneiros pela Polícia de Salazar, que cumprem a primeira etapa de uma viagem com destino a Cabo Verde, onde inaugurarão o campo de concentração do Tarrafal.

Dessas cartas e da mulher a quem se dirigiam ouvirá falar muitos anos mais tarde Eugénia, a jornalista encarregada de entrevistar um dos últimos sobreviventes desse inferno africano e cuja vida, depois do primeiro encontro com Joaquim, nunca mais será a mesma. Separados pelo tempo, pelo espaço, pelos continentes, pela malária e pelo arame farpado, os destinos de Joaquim e Eugénia tocar-se-ão, apesar de tudo, no pêlo de um gato sem nome que ambos afagam e na estranha cumplicidade com que partilham memórias insólitas, infâncias sombrias e amores decididamente impossíveis.

Que Importa a Fúria do Mar é um romance de estreia com uma maturidade literária invulgar que coloca, frente a frente, duas gerações de um Portugal onde, às vezes, parece que pouco mudou. Brilhante no desenho dos protagonistas e recorrendo a um estilo tão depressa lírico como despojado, a obra foi finalista do Prémio LeYa em 2012.

Homicídio na Câmara Municipal | Sandra Neves

Sai a 24 de Junho!

Cascais, Porto e Lisboa são os cenários desta ficção policial contada de modo escorreito, sem ambiguidade. Autarquias, autarcas, firmas de construção e empresários, offshores, políticos, grandes escritórios de advogados, figuras execráveis, comportamentos agoniantes, ambições rasteiras, avidez torpe, violência sexual, sexo comprado, a podridão e a corrupção sufocantes que levam as sociedades ao vazio e os Estados à dissolução. Mas o livro tem também o contrário edificante, dissonante, frágil e cercado nesse pântano.

Qualquer semelhança com alguma situação real é absolutamente improvável e, a verificar-se, seria, claro, uma incrível coincidência.

Sandra Neves

Encontro Internacional de Escritores PEN Clube Português | Comité de Escritores para a Paz do PEN Internacional | 27-28 de Junho 2013

Encontro Internacional de Escritores

PEN Clube Português – Comité de Escritores para a Paz do PEN Internacional – 27-28 de Junho 2013

International Writers’ Meeting/ PEN International Writers for Peace Committee – Portuguese PEN Centre

27-28 June 2013

Rencontre Internationale d’Écrivains

Comité des Écrivains pour la Paix du PEN International – Centre Portugais du PEN

27-28 Juin 2013

Lisboa, Encruzilhada do Diálogo e da Liberdade de Expressão

Lisbon, Crossroad of Dialogue and Freedom of Expression

Lisbonne, Carrefour du Dialogue et de la Liberté d’Expression

http://www.penclubeportugues.org/

Torre-de-Belem-005

http://www.penclubeportugues.org/

«As Lições dos Descobrimentos» | Sessão de Apresentação e Lançamento de livro

Dia 10, segunda-feira, das 18:00 às 21:00 horas

Sessão de Apresentação e Lançamento

CONVITE

Os autores − Jorge Nascimento Rodrigues e Tessaleno Devezas − convidam-no(a) para uma sessão de autógrafos e conversa informal sobre o novo livro

As Lições dos Descobrimentos
– O que nos ensinam os empreendedores da globalização

que decorrerá em Lisboa, no stand do Centro Atlântico na Feira do Livro, no dia 10 de Junho, entre as 18:00h e as 21:00h.

descobrimentos

Are children’s books reinforcing materialism? in “Guardian” by Alison Flood

Toddler-with-a-book-010Research into acclaimed titles for very young children finds messages encouraging ‘consumer involvement’ and ‘attachment to objects’. Should we buy into the thesis?

Veruca Salt, the ultimate consumer, might have been given her comeuppance by Roald Dahl in Charlie and the Chocolate Factory back in 1964, but many of the children’s books of today are continually reinforcing materialistic behaviour, according to new research.

Cultivating Little Consumers: How Picture Books Influence Materialism in Children, the 196-page thesis of University of Vermont student Rachel Franz, analysed the content of 30 picture books written between 1998 and 2012, a mix of New York Times bestsellers, librarian-recommended books and Caldecott Medal Winners. Franz found that a number of picture books “featured excessive amounts of toys, sending pro-consumer messages to children ages zero to six” – but also that this message was often countered by more outdoor-related themes.

“Some scholars have vaguely pointed to children’s books as both sources of consumer socialisation and sources for countering consumerism, but investigations of these ideas were limited as far as I could tell,” says Franz, who will present her research at a conference on Tuesday. “As a babysitter, I noticed that one consistent element in the lives of all of the little ones I have looked after is reading books at bedtime. I was reading three to four books per night, and some of them were filled with these consumer messages. So, the topic needed more insight. I asked the question, ‘How do picture books potentially deter or reinforce materialism and consumer involvement in young children?'”

She used 50 indicators across 10 categories to analyse the books, from “emphasis on looks” to “desire for more ‘stuff'”, looking at the different ways in which stories can promote and discourage the “consumer socialisation” of their readers. One of the worst example she found was in Pinkalicious by Victoria and Elizabeth Kann, in which the main character, Pinkalicious, “lives in a home with a crystal chandelier in her bedroom, is surrounded by a plethora of toys, desires instant gratification, and exhibits unmistakable vanity”.

“The book’s dialogue illustrates how relationships are centred around products in many of the picture books,” says Franz. “For example, Pinkalicious constantly begs her parents for more pink cupcakes, even after they have caused her skin and hair to turn pink. She reflects, ‘After dinner, I ate more cupcakes. Then I refused to go to bed. ‘Just one more pink cupcake, and I’ll go to sleep,’ I promised.’ Scholars argue that marketers encourage children to nag their parents, and this sort of pressure from kids is an equivalent reason to price for why parents actually purchase things. If this is reiterated in picture books, it provides just one more avenue by which children might become irresponsible consumers.”

Her research also highlighted the “attachment to objects for happiness” in Chris Raschka’s A Ball for Daisy, a wordless picture book in which Daisy the dog loves her ball, only to have it broken by another dog. Daisy plunges into sadness, but is given a new ball the next day and her happiness returns. “Her happiness is completely dependent on her ball,” writes Franz.

Franz says she went into the study expecting to find “overwhelmingly consumer-driven messages” in all the books she looked at, but actually discovered that many titles simultaneously reinforced and deterred materialism. “In Square Cat by Elizabeth Schoonmaker, Eula the Square Cat hates her appearance so much that she stops purring. She compares herself to her round friends, she moans about how specific clothes don’t fit her, she tries to become round with different clothing and make-up options, and, as she learns to love herself, realises that she can do so through specific fashion choices that fit her square shape. The end message of the book is self-acceptance, which should combat consumerism,” she says. “However, the messages of vanity, social comparison, and articulating one’s self-concept through material goods are also embedded in the story. Further research is necessary to determine exactly what messages children take from these books. But, these simultaneous occurrences do mimic the reality of our world. And they call for the development of critical thinking skills in order for children to know what’s wrong and what’s right anymore.”

She wants authors to realise that “the power of picture books is to not only reflect childhood, but to influence it”. “If our children are reading books where the characters are surrounded by heaps of toys, then those readers without excessive amounts of toys around them might feel as if they are not normal. Creating and promoting more interpretive children’s books that challenge damaging norms while helping children develop critical thinking skills is going to be an essential task for authors, publishers, and other book-related industries in the future,” she says.

Rebecca Cobb, who won the Waterstones children’s book prize for her picture book Lunchtime, about a girl who doesn’t want to eat her lunch, largely agrees with Franz. “I think that authors and illustrators do have a responsibility to be aware of the effect of their work on young children and should be careful about the attitudes they convey regarding materialism and also a wide range of other issues; however, a book can, for example, be illustrated with lots and lots of toys, as part of a visual celebration of the excitement and wonder of things without being pro-consumerist,” she says. “I believe picture books can inspire children to become questioning, imaginative and thoughtful people with the ability to form their own values and opinions about what is really important in life.”

But Jon Klassen, a Caldecott medal-winning author and illustrator, says it “gets tricky when you begin to see these books primarily as tools to promote certain kinds of behaviour, in any direction”.

Klassen’s New York Times bestseller I Want My Hat Back is part of Franz’s research. The story of a bear who has lost his hat, is lied to by a rabbit about having the hat, and subsequently eats the rabbit, the book contains, found Franz, themes of “lying/manipulation as a means for acquisitions” as well as “emphasis on love of products”, but also “reciprocity/altruism”, and “outdoor engagement”.

“If you’re in the position of making these things, I think you mostly have to worry about whether the story is working the best it can, and just hope that your politics and attitudes that might be coming across are lining up with what’s good for them,” Klassen says. “I think it would be difficult to put together a good story if your main objective when you start is to promote an abstract point. The story has to find those things on its own.”

Australian illustrator Freya Blackwood won the UK’s most prestigious prize for a children’s illustrator, the Kate Greenaway award, for her book Harry & Hopper, about a boy whose dog dies. Pointing out that “children are subjected to much more persuasive pro-consumer messages than picture books”, Blackwood says it was nonetheless “eye-opening having an issue like this brought to the attention of those who create material for children”, and that she “certainly had to quickly justify my work to myself”.

“I came to the conclusion that there is a fine line between creating a realistic representation that children might relate to and creating something they desire,” she says. “But surely it is the parents’ responsibility to choose books to read to their children that represent their beliefs, or to discuss a book’s content with the child.”

Franz agrees, saying that parents can “use picture books to help children develop critical thinking skills around consumerism … Overall, I think this study reiterates that, in our pervasive consumer culture, children even at the youngest age need to develop critical thinking skills in all areas of their lives in order to preserve happiness and self-acceptance without the ‘stuff’.”

http://www.guardian.co.uk/books/2013/apr/22/children-books-reinforce-materialism-claims-research … (FONTE)

Pedro Almeida Vieira na Casa da Cultura de Setúbal

Nós Cá por Casa PAV

A história de Portugal, na versão do Estado Novo, estava reduzida a uma versão muito simplificada, ao nível da ladainha popular, apropriada à sua divulgação por um povo analfabeto.

Dos reis, já muito se sabia se conhecêssemos os seus cognomes: D. Afonso Henriques, o conquistador; D. Dinis, o lavrador; D. João II, o príncipe perfeito.

Uma história de fácil apreensão e que contribuía de forma eficaz para a construção da identidade do homem novo português.

Salazar, em entrevista a António Ferro, defende como prioridade sobre o ensinar toda a gente a ler, a formação das elites que enquadradas pelas massas atacariam os verdadeiros problemas do país.

Para o povo, o ensino da história numa versão infantilizada era mais do que suficiente. As elites formavam-se nas universidades, aí se cuidaria da nossa história.

Continuar a ler

Apresentação do “Crime e Castigo”

Hoje, no Âmbito Cultural do El Corte Inglés foi dia de Crime e Castigo. O último livro de Pedro Almeida Vieira foi apresentado por Francisco Teixeira da Mota.
O jurista alertou-nos para o facto de no século XVIII, no Ancien Régime, não existir na justiça uma ideia de socialização, de ação preventiva ou punição proporcional ao crime praticado.

O castigo refletia o estatuto de quem era atingido, sendo assumido como uma celebração do poder instituído, arbitrário, com confissões arrancadas à base da tortura e sendo aplicado de forma quase ritual. A ideia da reparação do mal causado ou da reintegração do condenado eram inexistentes à época.

Pedro Almeida Vieira reconheceu que o seu livro aborda a maldade humana e de como, pontualmente, podemos incorrer em retrocessos civilizacionais. Apesar da brutalidade de alguns castigos, o autor confessa o imenso prazer que lhe deu escrever este livro. Um livro sobre crimes e castigos num país onde o povo não é tão sereno como parece.

Crime e Castigo – O povo não é sereno

Crime e castigoA Sala de Âmbito Cultural do El Corte Inglés (7º piso), em Lisboa, acolhe dia 14 (terça-feira) às 18:30, o lançamento do mais recente livro do Pedro Almeida Vieira. A apresentação desta obra estará a cargo do advogado Francisco Teixeira da Mota.
O livro, editado pela Planeta Manuscrito, constitui a continuação de narrativas sobre crimes históricos (depois de «Crime e Castigo no País dos Brandos Costumes», publicado em 2011), desta feita abordando crimes económicos, rebeliões, motim e assassinatos (ou tentativas) de figuras de Estado. Ou seja, o povo português afinal nunca foi sereno…

Apareça, o convite está feito..

O DESEMPREGADO COM FILHOS | Gonçalo M. Tavares

“Disseram-lhe: só te oferecemos emprego se te cortarmos a mão.

Ele estava desempregado há muito tempo; tinha filhos, aceitou.

Mais tarde foi despedido e de novo procurou emprego.

Disseram-lhe: só te oferecemos emprego se te cortarmos a mão que te resta.

Ele estava desempregado há muito tempo; tinha filhos, aceitou.

Mais tarde foi despedido e de novo procurou emprego.

Disseram-lhe: só te oferecemos emprego se te cortarmos a cabeça.

Ele estava desempregado há muito tempo; tinha filhos, aceitou.”

Gonçalo M Tavares (de “O Senhor Brecht”)

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Nó Cego | Carlos Vale Ferraz in “Babélia” do “El Pais”

Nó Cego, Carlos Vale Ferraz (Casa das Letras, 2008). “Puta compañía… maricones, chulos, seminaristas, niños de papá, vagabundos…”, así describe el Capitán a su grupo de comandos destinado en Mozambique. La novela relata con extrema crudeza las operaciones del grupo e indaga en las vidas de sus miembros. La historia de un joven campesino alentejano que se fue a buscar la vida a Lisboa, pero que en la capital solo encontró dolor y miseria, y que acabó enrolado en el Ejército, es el ejemplo de muchas vidas de jóvenes portugueses que acabaron implicados en las guerras africanas. Carlos Vale Ferraz, cuyo nombre es Carlos Matos Gomes, fue oficial del Ejército portugués y participó en operaciones especiales en Angola, Mozambique y Guinea Bisáu.

in “Babélia” do “El Pais”

Nó Cego

Era uma vez os intelectuais | António Guerreiro

Numa das suas últimas crónica, no “Público”, fazendo uma crítica feroz deste Governo, J. Pacheco Pereira evocava “os intelectuais” e a tarefa que Emerson lhes atribuía: anular o destino, pelo pensamento. Pacheco Pereira é suficientemente lúcido, culto e conhecedor da história para não cair na nostalgia pelos intelectuais universais do tempo das visões do mundo, a que muita gente se abandona ciclicamente. Ele sabe muito bem que esse intelectual universal, que desempenhou um papel tão importante no final do século XIX e princípio do século XX, deu lugar a uma outra figura a que Foucault chamou o “intelectual específico”, com outro significado político. Mas o facto de evocar a obrigação do antigo intelectual – recordando também os erros e os crimes de que este foi autor ou cúmplice – mostra que se tornou inevitável, em certas circunstâncias, revisitar esta figura depositada nas caves da história, quando as circunstâncias reclamam mais do que escritores, artistas e filósofos que se limitam a gerir as regras autónomas do seu próprio campo.   ¶ 

Como mostra Bauman num livro sobre a “decadência dos intelectuais”, estes passaram de legisladores modernos a intérpretes pós-modernos, e a elite intelectual é hoje um grupo social que se ocupa preferencialmente de si ou, na melhor das hipóteses, do sector específico a que pertence. Assim, a cultura já não pode ter uma função crítica relativamente à sociedade, pondo em confronto valores e modos de vida, na medida em que se tornou um mero sector ‘produtivo’, rendido às argúcias teológicas da mercadoria como fetiche. Sob administração de burocratas e comissários políticos que só pensam em termos de consenso, este território inofensivo luta apenas para se manter e reproduzir. A sua tarefa é fazer a síntese total, onde tudo é compatível com tudo, e não a cesura crítica que “anula o destino”.
António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Atual, Portugal, 1.12.2012.

Conferências do Casino

As Conferências do Casino podem considerar-se um manifesto de geração.

Denominam-se assim por terem tido lugar numa sala alugada do Casino Lisbonense e foram uma série de cinco palestras realizadas em Lisboa no ano de 1871 pelo grupo do Cenáculo formado, por sua vez, pelas mesmas pessoas, mais ou menos, que constituem a Geração de 70. Foi, então, um grupo de jovens escritores e intelectuais, reunidos em Lisboa após acabarem os seus estudos em Coimbra. Antero aparece como grande impulsionador desde 1868, iniciando os outros membros do grupo em Proudhon.

A ideia destas palestras surgiu na casa da Rua dos Prazeres, onde na época reunia o Cenáculo. Antero e Batalha Reis alugaram a sala do Casino Lisbonense, situado no Largo da Abegoaria, presentemente de Rafael Bordalo Pinheiro. Foi no jornal “Revolução de Setembro” que foi feita a propaganda a estas Conferências. A 18 de Maio foi divulgado o manifesto, já anteriormente distribuído em prospectos, e que foi assinado pelos doze nomes que tinham intenções organizadoras destas Conferências Democráticas.

22 de Maio de 1871

1ª Conferência: “O Espírito das Conferências”

Conferência proferida por Antero de Quental, de certa forma introdutória daquelas que se seguiram. De acordo com os relatos dos jornais da época, único testemunho que resta, esta palestra consistiu num desenvolvimento do programa que tinha sido previamente apresentado.

Antero começou por se referir à ignorância e indiferença que caracterizava a sociedade portuguesa, falando da repulsa do povo português pelas ideias novas e na missão de que eram incumbidos os “grandes espíritos” e que consistia na preparação das consciências e inteligências para o progresso das sociedades e resultados da ciência. Referiu o exemplo que constitui a Europa e a excepção formada por Portugal em face deste exemplo.

Para Antero o ponto fulcral que iria ser focado nas futuras Conferências seria a Revolução, o seu conceito, que Antero define como um conceito nobre e elevado.

A conclusão da palestra termina com o apelo que Antero faz às “almas de boa vontade” para meditarem nos problemas que iriam ser apresentados e para as possíveis soluções, embora estas últimas se constituíssem como opostas aos princípios defendidos pelos conferencistas.

27 de Maio de 1871

2ª Conferência: “Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos últimos três séculos”

Esta Conferência foi também proferida por Antero de Quental. Na introdução Antero pressupõe três atitudes ou pontos de partida. Em primeiro lugar “O Peninsular”, falar da Península como um todo; em seguida uma aceitação – os Povos obedecem a um estatuto anímico colectivo, estrutural – é a crença no génio de um Povo; e, por fim, uma atitude judicatória – Antero julga a História, como uma entidade, o juízo moral, social e político.

Em seguida enumera e discute as causas da decadência. A primeira causa apontada por Antero foi o catolicismo transformado pelo Concílio de Trento (1545-1563), com a Contra-Reforma e a Inquisição, que desvirtuara a essência do Cristianismo, conduzindo a uma atrofia da consciência individual; de seguida, aponta o Absolutismo, a Monarquia Absoluta que constituía a “ruína das liberdades sociais”, o centralismo imperialista viera coarctar as liberdades nacionais, levando a “raça” ibérica a uma cega submissão; por fim, a última causa é o desenvolvimento das conquistas longínquas, as conquistas ultramarinas, que exauriram as energias do país, levando à criação de hábitos prejudiciais de grandeza e ociosidade e que conduziram ao esvaziamento de população de uma nação pequena, substituindo o trabalho agrícola pela procura incerta de riqueza, a disciplina pelo risco, o trabalho pela aventura.

Para Antero a solução destes problemas é a seguinte:

“Oponhamos ao catolicismo (…) a ardente afirmação da alma nova, a consciência livre, a contemplação directa do divino pelo humano (…), a filosofia, a ciência, e a crença no progresso, na renovação incessante da humanidade pelos recursos inesgotáveis do seu pensamento, sempre inspirado. Oponhamos à monarquia centralizada (…) a federação republicana de todos os grupos autonómicos, de todas as vontades soberanas, alargando e renovando a vida municipal (…). Finalmente, à inércia industrial oponhamos a iniciativa do trabalho livre, a indústria do povo, pelo povo, e para o povo, não dirigida e protegida pelo Estado, mas espontânea (…), organizada de uma maneira solidária e equitativa…”*

A conclusão insere uma dimensão progressista, a instauração de uma revolução, a acção pacífica, a crença no progresso inspirado numa moralização social (Proudhon), sendo proferida num tom idealista e retórico.

5 de Junho de 1871

3ª Conferência: “A Literatura Portuguesa”

Conferência proferida por Augusto Soromenho, professor do Curso Superior de Letras.

Nesta palestra faz uma crítica aos valores da literatura nacional, concluíndo que ela não tem revelado originalidade. Há uma negação sistemática dos valores literários nacionais, exceptuando escritores como Luís de Camões, Gil Vicente e poucos mais, atacando os poetas, dramaturgos, romancistas e jornalistas seus contemporâneos. Transmite uma visão decadentista, ao negar originalidade e peculariedade à literatura nacional.

Tem a sua vertente revolucionária ao inculcar a ideia de que a literatura portuguesa deverá sofrer um processo de reconstrução que deverá partir de uma sociedade revitalizada.

Uma literatura com carácter nacional mas que se paute por valores universais.

O modelo e guia desta renovação salvadora da literatura nacional seria Chateaubriand, com o conceito de Belo absoluto como ideal da literatura, constituindo esta um retrato da Humanidade na sua totalidade.

12 de Junho de 1871

4ª Conferência: “A Literatura Nova ou o Realismo como Nova Expressão de Arte”

Conferência dada por Eça de Queirós e que encontra a sua inspiração em Proudhon e, no aspecto programático, no espírito revolucionário destas Conferências referido por Antero nas palestras que proferiu.

Eça salientou a necessidade de operar uma revolução na literatura, semelhante àquela que estava a ter lugar na política, na ciência e na vida social. A revolução é um facto permanente, porque manifestação concreta da lei natural de transformação constante, e uma teoria jurídica, pois obedece a um ideal, a uma ideia. É uma influência proudhoniana. O espírito revolucionário tem tendência a invadir todas as sociedades modernas, afirmando-se nas áreas científica, política e social. A revolução constitui uma forma, um mecanismo, um sistema, que também se preocupa com o princípio estético. O espírito da revolução procura o verdadeiro na ciência, o justo na consciência e o belo na arte.

A arte, nas sociedades, encontra-se ligada à seu progresso e decadência, sendo condicionada por causas permanentes, como o solo, o clima e a raça e causas acidentais – ideias que formam os períodos históricos e determinam os costumes, também denominadas históricas.

O artista encontra-se sob a influência do meio, dos costumes do tempo, do estado dos espìritos, do movimento geral, em conclusão às causas acidentais ou históricas. A arte obedece, então, às ideias directrizes da sociedade, ao seu ideal, à sua ideia-mãe, conduzindo esta situação à harmonização entre a arte e o ideal social. Esta teoria indicia a conciliação da teoria determinista de Taine, com a influência do meio e do momento histórica na criação artística, e o príncipio moral de Proudhon, que refere o papel social do artista e a utilidade da arte.

A revolução, que inspirara tantos escritores, como Rabelais e Beaumarchais, é renegada e esquecida pela arte contra-revolucionária. Faz uma crítica cerrada ao Romantismo, a Chateaubriand, refere a separação entre o artista e a sociedade que conduz à arte pela arte e, por fim, anuncia o príncipio da reacção salutar que começava a acontecer contra a “impostura oficializada” – o Realismo, que coincide com o despertar do espírito público.

“Que é, pois, o realismo? É uma base filosófica para todas as concepções do espírito – uma lei, uma carta de guia, um roteiro do pensamento humano, na eterna região do belo, do bom e do justo. Assim considerado, o realismo deixa de ser, como alguns podiam falsamente supor, um simples modo de expor – minudente, trivial, fotográfico. Isso não é realismo: é o seu falseamento. É o dar-nos a forma pela essência, o processo pela doutrina. O realismo é bem outra coisa: é a negação da arte pela arte; é a proscrição do convencional, do enfático e do piegas. É a abolição da retórica considerada como arte de promover a comoção usando da inchação do período, da epilepsia da palavra, da congestão dos tropos. É a análise com o fito na verdade absoluta. Por outro lado, o realismo é uma reacção contra o romantismo: o romantismo era a apoteose do sentimento; o realismo é a anatomia do carácter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para condenar o que houver de mau na nossa sociedade.” **

Dando uma noção mais concreta, Eça sistematiza:

“1º – O Realismo deve ser perfeitamente do seu tempo, tomar a sua matéria na vida contemporânea.(…);

2º – O Realismo deve proceder pela experiência, pela fisiologia, ciência dos temperamentos e dos caracteres;

3º – O Realismo deve ter o ideal moderno que rege a sociedade – isto é: a justiça e a verdade”***

Foca aqui as relações da literatura, da moral e da sociedade. A arte deve visar um fim moral, auxiliando o desenvolvimento da ideia de justiça nas sociedades. Fazendo a crítica dos temperamentos e dos costumes, a arte auxilia a ciência e a consciência. O Realismo conduzirá à regeneração dos costumes. Concluindo:

“A arte presente atraiçoa a revolução, corrompe os costumes. De tal forma, ou se há-de tornar realista ou irá até à extinção completa pela reacção das consciências. – O modo de a salvar é fundar o realismo, que expõe overdadeiro elevado às condições do belo e aspirando ao bem, – pela condenação do vício e pelo engrandecimento do trabalho e o da virtude.”****

19 de Junho de 1871

5ª Conferência: “A Questão do Ensino”

Palestra proferida por Adolfo Coelho que se inicia com uma posição de ataque às coisas portuguesas. Traça o quadro desolador do ensino em Portugal, mesmo o superior, através da História.

A solução proposta passa pela separação completa da Igreja e do Estado e por uma mais ampla liberdade de consciência, solução que, no entanto, era restrita a uma zona da vida nacional.

Para Adolfo Coelho a Igreja deprime o povo e do Estado nada havia a esperar. Tomando isto em consideração, o remédio seria apelar para a iniciativa privada, para que esta difundisse o verdadeiro espírito científico, o único que beneficiaria o ensino.

26 de Junho de 1871

Quando Salomão Saragga se preparava para realizar a sua Conferência “História Crítica de Jesus”, o Governo, por portaria, mandou encerrar a sala do Casino Lisbonense e proibir as Conferências.

No mesmo dia Antero redige um protesto no café Central, hoje Livraria Sá da Costa.

*QUENTAL, Antero de, 2ª Conferência: Causas da Decadência dos Povos Peninsulares, Casino Lisbonense, 27 de Maio de 1871 in MEDINA, João, Eça de Queiroz e a Geração de 70, Lisboa, Ed. Moraes, 1980, 1ª ed., pp. 157-158.

**QUEIRÓS, José Maria Eça de, 3ª Conferência: A Literatura Nova ou O Realismo como Nova Expressão da Arte, Casino Lisbonense, 12 de Junho de 1871 (Reconstituição por António Salgado Júnior, o texto original perdeu-se) in MATOS, A. Campos (org. e coordenação), Dicionário de Eça de Queirós, Lisboa, Ed. Caminho, 1988, s/ed., pág. 127.

***Op. Cit., pág. 127.

****Op. Cit., pág. 128.

http://www.citi.pt/cultura/literatura/romance/eca_queiroz/conferencias_casino.html … (FONTE)

Chrys CHRYSTELLO | Novo colaborador do site PNETliteratura

Chrys GChrys CHRYSTELLO (n. 1949-) é um cidadão australiano que não só acredita em multiculturalismo, como é um exemplo vivo do mesmo. Nasceu no seio duma família mesclada de Alemão, Galego-Português (942 AD), Brasileiro (carioca) do lado paterno e Português e marrano do materno. Publicou aos 23 anos o livro “Crónicas do Quotidiano Inútil, vol. 1” (poesia). Viveu em Timor (1973- 75) e dedicou-se sempre ao jornalismo (rádio, televisão e imprensa). Durante décadas escreveu sobre o drama de Timor Leste enquanto o mundo se recusava a ver essa saga.

Na Austrália esteve envolvido nas instâncias oficiais que definiram a política multicultural daquele país, divulgou a descoberta de vestígios da chegada dos Portugueses (1521-1525, mais de 250 anos antes do capitão Cook) e difundiu a existência de tribos aborígenes falando Crioulo Português (há quatro séculos).

È ACADÉMICO correspondente da AGLP (Academia Galega da Língua Portuguesa). Tem vários livros publicados do ensaio, à crónica e à poesia. Traduziu inúmeras obras de autores açorianos para Inglês. Organiza desde 2001-2002, os Colóquios Anuais da Lusofonia [Bragança; Lagoa, Ribeira Grande e Maia (S. Miguel); Vila do Porto (Sta Maria, Açores), Brasil, Galiza e Macau]. É Editor dos CADERNOS (DE ESTUDOS) AÇORIANOS,publicação trimestral, online, dos Colóquios da Lusofonia, coordenados por Helena Chrystello e Rosário Girão.http://www.lusofonias.net/conteudo/estudos-acorianos/

Cadernos Italianos, de Eduardo Pitta, Tinta da China, 2013

Cadernos_ItaNum registo tão elitista quanto a elegância o permite, Eduardo Pitta, deixa-nos um relato das suas viagens a Itália na forma de um quase diário. Não são viagens de turismo no seu sentido convencional. O autor recusa entregar-se à multidão, a essa horda de turistas basbaques e ao seu frenesi compulsório, ou à espontaneidade de uma opção de última hora. Este é o percurso estudado de um homem culto. Um percurso destinado a satisfazer o seu gosto pelo requinte, seja por uma paisagem, um apontamento arquitectónico ou uma refeição num restaurante de excelência (onde o preço, obviamente, não é impedimento).

O percurso divide-se por duas cidades, Veneza e Roma.

Da primeira, Eduardo Pitta, afirma: “Veneza é música e é luz”. E descobrimos ser também a sua gastronomia e os locais onde os seus ícones marcaram presença. Os restaurantes merecem um olhar demorado. “O ambiente é glamoroso, distendido, bem-humurado, sentimos que estamos envoltos numa aura de privilégio”. Ou, “caras bonitas, vozear controlado”.

Existe um percurso que é o olhar de Eduardo Pitta e é fácil deixarmo-nos enamorar por ele. Talvez, porque “a intimidade alheia sempre espicaçou os homens”, como refere a propósito da multidão de turistas que visitam o palácio dos Doges. A elegância dos ambientes é depurada como a prova de um grande vinho. Os aromas, a cor, a extensão dos saberes, o registo prolongado da memória, tudo avaliado com a mestria de um entendido, sem o deslumbramento do turista em excursão organizada.

Apontamentos breves são-nos servidos com um impecável sentido de humor. “…um bando de rapazes improvisara uma desastrada versão de Great Bird de Keith Jarrett. A temeridade é um atributo dos inocentes. Eles são jovens e pareciam dispostos a comer os dentes do piano. O poeta teria gostado”.

Quando se trata das suas desilusões é impiedoso, “o Babington’s Tea Room, tornou-se uma decepção: criadas mal resolvidas, pretensioso e caro. As freiras que vi no Vaticano têm melhor astral”.

Este livro é uma “abstracção da realidade”, mas não na sua forma de divertimento simples para consumo imediato, é antes um desafio ao bom gosto, ao grande relato das coisas simples da vida, mas belas. O relato sóbrio de uma certa forma de se estar. Depois de o ler nunca mais a Fontana de Trevi terá o mesmo encanto.

“Quem conhece, sabe do que falo. Quem não conhece, deve ir conferir”. Ou, neste caso, ler.